Projeto trabalha aspectos socioemocionais com estudantes baianos

Bahia

12.09.2019

No mês em que se dialoga sobre a prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo, um projeto desenvolvido no Colégio Estadual Professor Rômulo Galvão (Ceprog), em Teixeira de Freitas, tem despertado a atenção de educadores e estudantes para a importância de trabalhar os aspectos socioemocionais. Intitulado de Abraça-me, o projeto busca acolher e dar suporte a estudantes que com dificuldades e transtornos emocionais.

Idealizador do projeto, o estudante Eduardo Siqueira, conta que a iniciativa para o Abraça-me veio após a perda de um amigo para a depressão. Ele relata que tinha vontade de ficar sozinho e sem vontade de conversar. Para ele, a ideia de ajudar os colegas que passavam pela mesma situação o fez sentir-se melhor. “Decidi tomar uma atitude, porque a maioria das pessoas não se importa”, desabafou o jovem.

Eduardo teve o apoio de Gleidiane Oliveira, coordenadora pedagógica da unidade escolar. Ela lembra que as atividades do Abraça-me começaram com apresentações de teatro e depois com rodas de conversa. “No início os estudantes ainda não falavam muito, mas com o passar do tempo ficaram mais abertos para o diálogo. Muitos querem e precisam somente ser ouvidos. Na maioria das vezes os problemas não são tão grandes como eles pensam”, afirmou.

A “Caixinha das Angústias”, uma caixa lacrada, que fica disponível na escola e somente os professores abrem, também é uma ação do projeto que tem auxiliado a direcionar o trabalho. Os estudantes não precisam se identificar e podem falar sobre o que os aflige de forma anônima. “De início havia um número grande de menção ao suicídio”, comentou Gleidiane. De acordo com a coordenadora, os assuntos mencionados na caixinha se transformam nos temas para as rodas de conversa e atividades culturais. “Com a participação de um estudante, vimos que aproximação com os demais poderia ser mais fácil”, contou a coordenadora.

Para o educador e articulador do Ceprog, Jairo Avelar, já é notório os resultados positivos. “Já é perceptível a mudança. Eles já estão mais abertos. Cada dia aumenta o número de participantes, eles falam mais sobre o assunto. Está sendo possível antecipar algumas situações, alguns problemas”, declarou.

O Grupo de Apoio Mútuo para Ansiedade (Gama), fundado em 2016 por professores da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), aderiu ao projeto e oferece orientação para os casos de ajuda especializada, além do compartilhamento da experiência desenvolvida na Universidade.

“Esse é um dispositivo de alívio da pressão. As pessoas participam espontaneamente, fala quem quer e o relato destas pessoas é que quando elas falam sentem-se melhor, conseguem partilhar sua dor”, afirmou o professor Leandro Gaffo, membro do grupo. Ele acrescentou que o grande diferencial de conversar com familiares e amigos, por exemplo, é que no grupo não haverá  julgamentos morais da pessoa.

Neste sentido, a coordenadora Gleidiane reforça que o projeto cria mecanismos de escuta como estratégia de canalização da dor. “O número de participantes cresceu, os casos de relato de automutilação diminuíram, adolescentes que chegavam com crise de ansiedade e choro reduziram, mas o mais bacana é ver o apoio mútuo entre eles”, finalizou.