Projeto de reinserção de detentos reforma 3ª escola e beneficia mais 1250 estudantes

Mato Grosso do Sul

18.03.2015

As mesmas mãos que um dia cometeram crimes agora estão ajudando a proporcionar melhores condições de aprendizado aos cerca de 1250 estudantes da Escola Estadual Padre Mário Blandino, instalada no Bairro Aero Rancho, na Capital.

Reeducandos do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira (CPAIG), unidade penal de regime semiaberto, estão trabalhando na reforma da escola durante o período de férias dos alunos, que encontrarão um prédio totalmente revitalizado quando retornarem às aulas.

A ação é desenvolvida através do projeto “Pintando a Educação com Liberdade”, realizado por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Poder Judiciário, Conselho da Comunidade e Secretaria de Estado de Educação.

A iniciativa consiste na utilização de mão de obra prisional para a reforma de escolas públicas de Campo Grande. Conforme convênio firmado, o governo do estado fica responsável pelo repasse ao Conselho da Comunidade, através da Agepen, de um salário mínimo a cada interno que trabalhar na obra. Já os recursos para compra de materiais utilizados são oriundos de parte do salário pago a todos presos que trabalham na capital, no qual o percentual de 10% de desconto é instituído pelo Poder Judiciário para ser aplicado neste tipo de projeto.

“Com isso, além de proporcionar uma expressiva economia aos cofres públicos, o “Pintando a Educação com Liberdade” ajuda a fomentar a educação com espaços mais estruturados aos estudantes e incentiva a reinserção social de detentos por meio do trabalho”, ressalta o diretor-presidente da Agepen, Pedro César Figueiredo de Lima.

Funcionando nos três períodos e com oferecimento de ensino da pré-escola ao ensino médio, a Escola Estadual Padre Mário Blandino é a terceira que o projeto beneficia, tendo sido já atendidas também as escolas estaduais Delmira Ramos, no Bairro Copavilla II, e Brasilina Ferraz Mantero, no Jardim Leblon. “Fiquei sabendo do projeto realizado em outras escolas e fui atrás para que aqui também fosse contemplada e estou me surpreendendo com o trabalho que eles estão realizando, são ótimos profissionais”, destaca a diretora do local, Marilene Givarotti Ribas.

De acordo com o diretor do Centro Penal, Tarley Cândido Barbosa, a reforma compreende a parte hidráulica e elétrica, colocação de forro, reforma do bebedouro, pintura das paredes internas e externas, troca de portas, janelas, muros e grades, piso instalação de luminárias, troca de interruptores, instalação de calhas, serviço de jardinagem, reforma da calçada na frente da escola e troca de vidros quebrados. Até a horta da escola está sendo ampliada; as mudas serão provenientes da plantação do Centro Penal da Gameleira, onde o trabalho de horticultura também é desenvolvido junto aos custodiados.

Para as obras foram requisitados 14 internos. Profissionais como pintores, pedreiros, encanadores, eletricistas foram escolhidos por bom comportamento e habilidades profissionais para atuarem na reforma do prédio. Além de um salário, a cada três dias trabalhados eles recebem um dia de redução da pena.

Alexandre Toledo Bezerra, 30 anos, é um deles e garante que para ele o trabalho na escola do bairro Aero Rancho tem um significado especial. Morador da região, foi na escola Padre Mário Blandino que iniciou a vida escolar na década de 90. “Estudei do pré-escolar até a terceira série aqui, minhas irmãs também estudaram, estou muito feliz em contribuir para que essa escola fique mais bonita e melhor para os estudantes”, comenta. “É muito gratificante, e é uma forma de mostrar para a sociedade de somos capazes de fazer diferente”, garante.

Para o idealizador do projeto, inédito no país, juiz da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, Albino Coimbra Neto, o impacto social da inciativa é muito grande. Segundo ele, fazer com que pessoas que cometeram crimes no passado atuem diretamente na melhoria de espaços escolares ajuda a mudar a visão da sociedade para com elas, contribuindo para que tenham mais chances de traçarem uma nova vida quando conquistarem a liberdade.

Visita da vice-governadora

A vice-governadora e secretária de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho, Professora Rose, quis conhecer de perto o projeto e visitou a escola na última sexta-feira (9). A visita foi acompanhada pelo diretor-presidente da Agepen, pelo juiz Albino Coimbra, e pelo deputado estadual professor Rinaldo, entre outros. Rose verificou os trabalhos que estão sendo executados e conversou com os internos que estão trabalhando no local, reafirmando a parceria com o governo. “Em nome do governo do Estado proponho ampliar essa parceria e podem contar conosco como poder público no que precisarem”, destacou Rose.

Com histórico em sua carreira de participação ativa e envolvimento em projetos sociais, a vice-governadora disse ter ficado encantada com a iniciativa, principalmente por seu fator ressocializador. Segundo ela, “é nítido como os internos estão envolvidos com o trabalho”. “Fico muito feliz como professora e afirmo que muitas vezes o que levam as pessoas a terem deslizes na vida é a falta de educação e oportunidade. Muitas são vítimas do próprio sistema que não consegue cumprir o seu papel”, disse.

Durante a visita, o diretor do CPAIG falou à vice-governadora sobre outros trabalhos que são desenvolvidos no presídio, considerado pelo Conselho Nacional de Justiça referência nacional em cumprimento do regime semiaberto. No local, mais de 70% dos internos estão inseridos em ocupações laborais dentro e fora da unidade prisional, através de convênios firmados com empresas. Apenas no presídio, são cerca de 10 oficinas, entre elas de produção de pisos e cadeiras. Grandes empresas da Capital também apostam na credibilidade do trabalho, com internos inseridos na indústria da construção civil, frigorífica, confecção, entre outras.