CONQUISTAS
12.12.2017Gabriel Castelo Branco e Lucas Eduardo Martins de Jesus, ambos de 17 anos, têm muito em comum. Eles superam limitações físicas através do esporte. Gabriel teve paralisia cerebral, os médicos chegaram a acreditar que ele ficaria de cadeira de rodas, mas ele provou o contrário e coleciona medalhas e troféus no atletismo. Lucas é cego, começou no esporte para melhorar a condição de saúde e tem uma trajetória de vitórias no judô e jiu-jitsu.
Neste mês que se comemora o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3/12), esses paratletas contam que deficiência física é um obstáculo possível de ser superado. Nas Paralímpiadas Escolares 2017 realizada em São Paulo, Lucas conquistou ouro no judô e se tornou bicampeão e Gabriel, duas medalhas de prata, nas provas de 100 metros rasos e arremesso de dardo e foi ouro no salto à distância. Para a viagem, eles contaram com o apoio do governo de Rondônia.
De acordo com o gerente da Gerência de Educação Física, Esporte e Cultura Escolar (Gefece) da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), Ítalo Aguiar, os paratletas de Rondônia vivem uma nova fase onde prevalece a valorização e o incentivo. A Gefece possui dois projetos que agrega pessoas com algum tipo de deficiência: Jogos Escolares de Rondônia (Joer) etapa paralimpíca e o Festival Estudantil de Artes (Fera).
‘‘Há uns três anos a gente começou a remodelar os Jogos Escolares de Rondônia e os nossos paratletas hoje contam com a mesma estrutura e os mesmos benefícios que um atleta olímpico nos jogos escolares. Esse foi um ganho do governo Confúcio Moura onde a gente assumiu a responsabilidade para enviar esses paratletas para a etapa nacional das Paralimpíadas Escolares. O que inclui deslocamento do interior para a capital, passagem aérea, hospedagem, alimentação e uniforme’’, explica.
Com as mudanças, o resultado se reflete no aumento de paratletas na competição e também de medalhas. ‘‘Esse resgate do esporte paralímpico que o atual governo fez está trazendo frutos e a prova disso são números. A gente tinha uma delegação de 10 a 15 pessoas e hoje são 56 pessoas indo para a etapa nacional das Paralimpíadas Escolares. Ganhava em média de 12 a 15 medalhas e agora foram 34 medalhas e vários desses atletas são beneficiados com bolsa atleta do governo federal e em breve podem ser contemplados com bolsa atleta do Estado’’, disse Ítalo.
O professor em Educação Física especialista em esporte de recuperação Silvio Roberto Corsino é o fundador da Rondônia Clube Paralímpico e da Federação Rondoniense Paralímpica de Esporte de Rondônia (Frope) e hoje atua como voluntario nessas instituições e reconhece os avanços para paratletas no atual governo.
‘‘O governo de Rondônia passou a ter um olhar diferente para o esporte paralímpico. Ele abraçou todas as ações do esporte e com isso facilitou muito para que hoje a gente pudesse em uma fase nacional das Paralímpiadas Escolares ter conquistado 34 medalhas, Melhorou bastante porque quando era a federação que levava essas atletas era tudo muito difícil’’, considera Silvio.
A autônoma Graziele Castelo Branco Gomes da Silva, 35 anos, é mãe de Gabriel e conta com o orgulho a trajetória do atleta da família. Um caminho que começou cheio de adversidades. Mãe aos 17 anos, ela percebeu que algo estava diferente com filho quando ele tinha cerca de oito meses de vida. O diagnóstico foi de paralisia cerebral congênita que atinge o membro superior e inferior do lado esquerdo do corpo.
‘‘O médico falou para mim que o que esperava pelo meu filho era a cadeira de rodas ou uma cama e disse: seu filho não vai andar, não vai falar. O Gabriel é um milagre’’, considera Graziele.
A mãe agradece a Deus pela evolução do filho e também a todo apoio que encontrou no Sistema único de Saúde (SUS).Gabriel recebeu durante muitos anos acompanhamento pelos profissionais da Policlínica Oswaldo Cruz, referência em Rondônia no tratamento de alta complexidade.‘‘Isso ajudou muito porque se não tivesse conseguido fazer esse tratamento cedo, o Gabriel não teria melhorado tanto’’, avalia.
Na escola, Gabriel conta que nunca percebeu preconceito por parte dos colegas e que sempre conseguiu fazer amizades. A dificuldade mesmo era com o aprendizado devido ter dislexia, mas o problema é superado através do acompanhamento na sala de recurso. Atualmente ele cursa o 9º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Castelo Branco.
Gabriel começou a se envolver com esporte ainda muito cedo. O atletismo e jiu-jitsu são as modalidades que ele se dedica atualmente ‘‘Se eu der um de coitado vão sentir pena de mim e não é isso que eu quero. Na academia [de jiu-jitsu] eu luto com pessoas que não têm nenhum tipo de deficiência e venço. Quando eu conto para eles que tenho deficiência, não acreditam e querem lutar de novo e aí eu ganho de novo. Eu sempre busco me superar’’, afirma.
Aos 12 anos, ele participou pela primeira vez de uma competição, em São Paulo. Resultado: voltou com duas medalhas, uma de prata e outra de ouro. As duas primeiras de uma coleção que ele guarda com carinho no quarto.
‘‘Eu acho que a pessoa que tem deficiência ainda tem vergonha de mostrar o que é. É como o meu professor fala quando um cadeirante passa na rua, as pessoas olham primeiro para a cadeira de rodas e depois para a pessoa e é isso que intimida ela, mas ela precisa acreditar que é capaz de qualquer coisa’’, considera.
‘‘Um das principais bases para superação do esporte paralímpico é nunca desistir porque aparecem algumas dificuldades até para ir até a academia, de pessoas que falam que você não vai conseguir e até incentivam você a desistir. Quando você não desiste de um sonho seu, você vai além’’ – Lucas Eduardo, medalha de ouro
Para Lucas Eduardo Martins de Jesus também é assim. O esporte o ajudou a acreditar que é capaz de ir muito longe. Ele tinha uns 12 anos quando começou as atividades esportivas incentivado pelos pais que estavam preocupados de ele está acima do peso. Na academia próxima de casa, ele praticava jiu-jitsu e judô. ‘‘Me apaixonei nas primeiras semanas, fiquei bem envolvido mesmo com essas modalidades’’, disse.
Foi em 2012, que Lucas passou a participar de competições. ‘‘Foi muito legal toda aquela adrenalina, emoção, me fazia muito bem e foi por isso que eu decidi continuar’’, conta. Ele tem quase 30 medalhas. Nas Paralimpíadas 2017 ele conquistou o título de bicampeão brasileiro e vice-campeão na categoria Absoluto de Judô.
‘‘Um das principais bases para superação do esporte paralímpico é nunca desistir porque aparecem algumas dificuldades até para ir até a academia, de pessoas que falam que você não vai conseguir e até incentivam você a desistir. Quando você não desiste de um sonho seu, você vai além’’, considera Lucas.
Uma trajetória de superação que o técnico José Paixão acompanha de perto por todos esses anos. ‘‘Quando ele chegou à nossa academia eu comecei a perceber que ele tinha uma memória fotográfica muito aguçada e muita memória tática. Com o tempo ele foi ganhando confiança, desenvolvendo as técnicas e ganhando da galera da academia’’, relata.
Lucas relata que com todo esse desempenho como atleta é preciso também valorizar os estudos. Ele está no 2º ano do Ensino Médio na escola estadual Cora Coralina, em Ariquemes. Ele não enxerga e tem na escola ferramentas pedagógicas para auxiliar no estudo. ‘‘É a melhor escola com sala de recurso de Ariquemes e do Estado. Recebo acompanhamento principalmente em relação ao braile e a inclusão de novas tecnologias’’, relata.
Mas se as escolas começam a tornar a vida das pessoas que tenham alguma limitação física mais fácil, fora dela os desafios continuam. ‘‘Apesar de ter a escola adaptada e com sala de recurso, fora ainda falta acessibilidade como piso tátil que são aquelas guias no chão e no transporte público também’’, aponta.
José reforça os desafios encontrados por Lucas. ‘‘A gente encontra dificuldade de acessibilidade porque o mundo foi feito para pessoas que enxergam. Então a gente tem dificuldade nos aeroportos, nas ruas, em guichês de atendimento’’, disse o técnico. Mas no esporte, as barreiras, segundo ele, estão sendo superadas.
‘‘A gente não encontra preconceito, a gente encontra admiração. Outros técnicos têm curiosidade para saber como é o trabalho com ele e digo dê o melhor que você tem. Jogue o mais duro que você puder. Não existe limitação para o espírito humano, e só a gente trabalhar com disciplina’’, considera.
E é pensando em pessoas como Lucas e Gabriel que o governo de Rondônia investe para que as limitações físicas não impeçam deles avançarem na realização dos seus sonhos e estejam integralmente incluídos na sociedade.
Na Superintendência da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel), através do Programa de Desenvolvimento do Desporto de Rendimento (Proder), que tem como principal objetivo incentivar paratletas e atletas de alto rendimentos de Rondônia foram emitidas em 2017 41 passagens para atletas de Basquete (15), Atletismo (18), Bocha (6) e Judô (2) participarem de Jogos Olímpicos e Paralímpicos, Pan-americano, Sul-americano e Mundiais.
Na educação também há investimento direcionado a eles. De acordo com a coordenadora do Núcleo de Educação Especial da Seduc, Laura Dantas,entre os projetos, programas e ações na Educação Especial está a acessibilidade arquitetônica e realização de cursos de formações voltados aos profissionais que atuam nas Salas de Recursos Multifuncionais. Além do desenvolvimento de programas em parceria com o Ministério da Educação.
E com o objetivo de fortalecer ainda mais as públicas para pessoas com algum tipo de deficiência a Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (Seas) planeja para 2018 e 2019 novas ações estratégicas. De acordo com a gerente de Política Estadual de Atenção à Pessoa com Deficiência, Maria Laudicéia de Oliveira, entre elas está capacitar profissionais dos serviços públicos para o atendimento acessível a pessoa com deficiência e a realização do I Fórum Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Iniciativas do governo de Rondônia que buscam garantir direitos, incentivar a educação, o esporte e a inclusão.
Texto: Vanessa Moura
Fotos: Eleni Caetano, Jeferson Mota e Paulo Sérgio