O Departamento da Diversidade, da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná conta com a primeira doutora quilombola do Brasil. A professora
da rede estadual de ensino Edimara Soares terminou o doutorado em 2012
na Universidade Federal do Paraná (UFPR), ao defender a tese “Educação
Escolar Quilombola: quando a diferença é indiferente”.
O conhecimento que ela ganhou durante a pesquisa é disseminado e
debatido em cursos sobre educação escolar quilombola. O Departamento da
Diversidade existe desde 2008 na Secretaria da Educação, e Edimara
Soares trabalha na coordenação da educação das relações das diversidades
etnicorraciais e quilombola.
O Paraná tem duas escolas estaduais que funcionam dentro de comunidades
quilombolas, o Colégio Estadual Quilombola Diogo Ramos, na comunidade
João Surá, em Adrianópolis, e a Escola Estadual Quilombola Maria Joana
Ferreira, na comunidade Adelaide Maria da Trindade Batista, em Palmas.
Além disso, outras 43 escolas estaduais atendem alunos que moram em
comunidades quilombolas. O Paraná tem 37 comunidades certificadas pela
Fundação Cultural Palmares, órgão do Governo Federal, como remanescentes
de quilombos.
“O Paraná é referência em educação escolar quilombola. Outros estados
estão começando a discutir esse assunto, e aqui já temos projetos
pedagógicos específicos para as escolas quilombolas”, disse Edimara
Soares.
ARTICULAÇÃO DO CONHECIMENTO – Edimara dedicou quatro anos aos estudos,
sendo dois de pesquisa de campo nas escolas estaduais quilombolas do
Paraná e nas comunidades do Vale do Ribeira, Palmas e Guaíra. “Na minha
pesquisa tratei da importância da educação escolar nos quilombos, em
como fazer a articulação do conhecimento da comunidade quilombola com o
conhecimento científico já produzido pela humanidade”, afirma a doutora
Edimara Soares.
Edimara morou até os 15 anos no quilombo Estância do Meio/Timbaúva, que
fica na cidade de Formigueiro, interior do Rio Grande do Sul. Saiu de lá
para fazer o ensino médio na cidade e depois passou no vestibular de
geografia na Universidade Federal de Santa Maria, onde se formou em
2007.
“Queria fazer pesquisas no meu quilombo, fazer mestrado, mas lá no Rio
Grande do Sul, na época, não encontrei ninguém que orientasse sobre esse
tema. Descobri que no Paraná tinha uma professora da Universidade
Federal do Paraná, no Programa de Pós Graduação em Educação, que
pesquisava o assunto. Passei no mestrado e vim estudar aqui”, disse
Edimara.
A professora Tânia Maria Baibich foi a orientadora do mestrado e do
doutorado. “Minha dissertação de mestrado foi considerada inédita no
Brasil e fiz o que na Universidade chamamos de up-grade. Passei direto
para o doutorado”, explicou Edimara.
POSSIBILIDADES E DESAFIOS - Para a pesquisa do doutorado a professora
enviou questionários para professores, funcionários e lideranças das
comunidades quilombolas do Paraná. Também fez várias entrevistas com
essas pessoas nos cursos de formação inicial e continuada ofertados pela
Secretaria da Educação sobre as possibilidades e desafios de
implementação da política de Educação Escolar Quilombola.
Foram dois anos em campo coletando informações. Todo o conhecimento
acumulado agora é repassado em cursos de formação para professores.
A superintendente da Educação, Fabiana Campos, destacou a importância de
a rede estadual contar com uma profissional especializada trabalhando
diretamente na área onde estudou. “Isso mostra toda a valorização do
processo. Uma pessoa que se preparou, pesquisou, se especializou e agora
vai transmitir esse conhecimento qualificado”, disse a superintendente.