Pernambuco
22.02.2024Com as aulas do ano letivo de 2024 prestes a começar, as escolas públicas da rede estadual comemoram o fechamento do ciclo dos concluintes de 2023. Em todo o Estado, nossos estudantes foram aprovados em universidades públicas através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e de outros processos de ingresso. Para muitos, foi a realização de um sonho cultivado durante toda a trajetória escolar. Sonho esse que também é compartilhado com todos os que fazem parte da rede estadual de ensino.
Em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste, os professores e equipe pedagógica da Escola Técnica Estadual (ETE) José Nivaldo Pereira Ramos têm muito a comemorar com as aprovações do estudante João Pedro Ferreira Santos. O jovem de 18 anos conquistou, através do Sisu, o 2º lugar no curso de Ciência da Computação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Também foi aprovado em 5º lugar no curso de Direito da Universidade de São Paulo (USP), um dos centros universitários mais conceituados do país. A vaga foi conquistada por meio do Enem USP, que usa a nota do Exame Nacional do Ensino Médio como critério de seleção.
Filho de um cortador de pano e de uma costureira, João Pedro, de 18 anos, agora se prepara para mudar de estado. “Eu venho me planejando para esse momento há alguns anos, mas agora que é verdade, é muito diferente. Sempre quis estudar na USP, só que eu tinha consciência de que mesmo que eu saísse muito bem no Enem, talvez eu ainda não conseguisse chegar lá pela questão financeira. A mudança do interior de Pernambuco para a capital de São Paulo é uma logística cara”, relata o estudante, que conta com o apoio da família e da Gerência Regional de Educação (GRE) Agreste Centro Norte nessa nova fase. Atualmente, o jovem está trabalhando em uma loja de tecidos para angariar recursos e conta com as políticas de permanência da USP.
Além de muito estudo no regime de tempo integral da escola e da disciplina para estudar em casa com auxílio da internet, o engajamento de João Pedro em atividades extracurriculares também o motivou a seguir seus sonhos. ”Foi com a minha participação no Grêmio Estudantil da ETE José Nivaldo, e com a minha participação em uma ONG de ativismo da juventude, que eu comecei a me interessar mais pela participação desse processo de decisão do nosso aparato legislativo e desse processo de tramitação de leis e de direitos civis”, conta.
Outra estudante que se destacou no Sisu foi Maria Milena Neci, da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) de Bezerros. A jovem foi aprovada em Matemática na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas escolheu cursar Sistema da Informação na Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Caruaru, vaga que conquistou por meio do Sistema Seriado de Avaliação (SSA). “Eu fiquei muito surpresa, apesar de vir estudando pra isso. É só felicidade”, comemora a estudante, que alcançou nota 980 na redação do Enem.
Ela conta que se preparou prestando muita atenção nas aulas e em tudo o que os professores diziam. “A equipe da EREM de Bezerros é muito boa, todos os professores. A forma como eles davam aula me ajudava bastante a entender os assuntos”, relata. A jovem de 17 anos também ressalta a importância de estudar em casa e de participar de atividades relaxantes durante a preparação para os vestibulares. “Tudo que a escola oferecia, festinhas, animações, coisas que a gente do terceiro ano podia se entreter, eu participei. É sobre isso, conciliar o estudo com bem-estar. Além disso, é importante estudar com os amigos, que dá para a gente compartilhar aprendizados e dificuldades”, considera.
Mais uma história de superação e dedicação é a de Wilton Vicente, da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Doutor Mota Silveira, em Bom Jardim, no Agreste de Pernambuco. Estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA), ele foi aprovado em Engenharia Civil na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pelo Sisu. “Pra mim foi uma grande surpresa, nem eu mesmo esperava conseguir entrar na universidade federal. Eu fiquei super contente. Já pensava em cursar Engenharia Civil, mas pensava em entrar numa universidade particular e tentar uma bolsa”, conta o estudante, surpreso com o próprio feito.
Aos 36 anos, o vigilante noturno e montador de móveis, que fez vários bicos enquanto estudava, também conviveu com as dificuldades da baixa visão. Na escola, contou com o auxílio de Lucimar Nunes, professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) que o ajudava nas leituras. “Não vou dizer que não tem dificuldade, mas se a gente for parar para ver a dificuldade que a gente tem e não procurar superar, a gente nunca vai além”, considera.
Agradecido à equipe da escola onde estudou, ele celebra a oportunidade de terminar os estudos e ingressar na universidade. “Muita gente subestima o ensino do EJA, mas lá tem ótimos professores, bem capacitados e que sabem ensinar o aluno. Dentro da sala de aula, só não aprende quem não quer. Essa conquista foi um incentivo tanto para mim, como para outros que estão agora cursando o EJA lá à noite”, considera.
Recentemente, Wilton fez um concurso na cidade de Surubim, sendo aprovado em 1º lugar para agente de tributação entre as vagas para Pessoas com Deficiência (PcD). No momento, ele está se preparando para outros concursos e para a universidade. “Não começaram as aulas, mas já estou tentando me capacitar um pouco para não chegar perdido lá”, revela.