Em módulos, escolas indígenas no Acre seguirão o conceito de autossuficiência, a partir de 2021

Estilo Futurístico

26.10.2020

Por: Resley Saab

Energia solar, reutilização da água da chuva e ampliação programada sem necessidade de demolição dos espaços são as novidades da nova escola indígena, cujas obras programadas pelo governo Gladson Cameli terão início no próximo ano

Visto de cima, o projeto mais se parece com módulos das colônias espaciais de algum planeta inóspito imaginado apenas por cineastas da estirpe de James Cameron e o seu ultrarrealista Avatar. Mas o designer das novas escolas indígenas do Acre – cujas primeiras unidades começam a ser construídas em 2021 -, além de futurista, leva em consideração uma questão crucial neste século, a autossuficiência energética com proteção ao meio ambiente.

A pedido do governador Gladson Cameli, a equipe de criação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional (Sedur) elaborou o projeto levando em consideração tecnologias e soluções ecologicamente viáveis no interior da selva amazônica, onde gás de cozinha e energia elétrica, só para citar dois exemplos, são praticamente inexistentes ou são privilégios de algumas pouquíssimas aldeias indígenas mais próximas das zonas urbanas.

Com um ambiente moderno e agradável, projeto de Escola Indígena contemplará comunidades no meio da floresta Imagem: concepção artística/Sedur


O secretário de Educação, Mauro Sergio Cruz, foi apresentado ao programa pela chefe do Departamento de Criação da Sedur, a arquiteta Soad Farias, e sua equipe de engenheiros e arquitetos. Farias explica que a Nova escola indígena ambiental – padrão modular, como é chamado o projeto, tem como base seis conceitos fundamentais. Eles são a adaptabilidade, a funcionalidade, a identidade, a tecnologia, a versatilidade e a viabilidade.

A lógica é a de que as escolas sejam construídas otimizando custos que não influenciem na qualidade da obra. Um exemplo é a terraplanagem que não será necessária, já que poderão ser erguidas sobre qualquer terreno, inclusive sobre terras encharcadas, utilizando-se de materiais relativamente simples, robustos e muito viáveis economicamente.
Salão central terá 200 metros quadrados e pode ser convertido em espaço para lazer, reuniões ou mesmo em sala de aula Imagem: concepção artística/Sedur


“Só para citar um exemplo, quando houver necessidade de ampliação, essa solução virá com a expansão dessas salas em módulos de 50 metros quadrados, eliminado a necessidade de demolição dos já existentes”, ressalta Soad Farias. Segundo ela, “esses fatores desoneram muito a construção e garantem a viabilidade da obra”.

A tecnologia estará presente tanto nos compostos usados na construção, quanto no sistema de energia solar e de filtragem da água da chuva, que poderá ser usada para descarga nos vasos sanitários e para a lavagem de utensílios como pratos, panelas e talheres, no refeitório.

A cobertura, com iluminação zenital – que é a entrada de luz natural por meio de uma abertura no teto -, terá proteção com policarbonato azul e alveolar de seis milímetros, um dos aspectos que dá um ar futurístico ao projeto.

O teto é de telhas ondulares em alumínio, com subcobertura em manta térmica impermeável do tipo duralfoil. A estrutura receberá painéis solares sobre o salão multiuso, localizado ao centro da escola, que terá forma de uma figura geométrica de hexágono [de seis lados]. Já o piso será construído em laje de concreto, com nata de cimento queimado.


Valorização dos povos tradicionais

A rede da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE) tem hoje 147 escolas indígenas, com pelo menos 5.954 estudantes matriculados, segundo a Coordenação da Educação Indígena. Se somados aos alunos matriculados nos municípios, esse número salta para 8.942 pessoas, dos quais 508 estão cursando o ensino médio.

Soad Farias e sua equipe da Sedur apresentam projeto ao secretário de Educação, Mauro Sergio Cruz Foto: Mardilson Gomes/SEE


Na modalidade de ensino médio, o estado tem hoje 22 escolas indígenas, sendo que algumas oferecem também o programa Asas da Florestania, sob a coordenação do Departamento de Educação no Campo. “Trata-se de um público grande, que merece estudar num ambiente melhor. Nossas escolas [indígenas] ainda são de uma estrutura arcaica, algumas se deteriorando consideravelmente”, destaca o secretário de Educação, Mauro Sergio Cruz, com base no que observou recentemente, em visitas realizadas a várias comunidades indígenas.

Uma delas é a do Estirão do Caucho, formada por indígenas da etnia kaxinawá, no rio Muru, a uma hora de barco do município de Tarauacá (a 440 quilômetros de Rio Branco). Ali vivem pelo menos 15 mil pessoas.

Na opinião do secretário, “é preciso levar dignidade a essas comunidades”. “E esse está sendo o compromisso do governador Gladson Cameli, que abraçou com carinho a valorização dos povos tradicionais”, pontua Cruz, referindo-se, não só às famílias indígenas como também aos colonos e ex-seringueiros moradores dos projetos de assentamento agroextrativistas.