Da robótica à impressão 3D: projeto inovador de colégio estadual estimula habilidades e empreendedorismo

Sergipe

07.08.2019

Por Leonardo Tomaz 

O Colégio Estadual Secretário Francisco Rosa Santos, no bairro Bugio, em Aracaju, tem sido, há alguns anos, cenário de encontro de jovens alunos que despertaram o talento para a tecnologia. Desde 2013, o professor Flávio Gilberto Bento da Silva Araújo vem inserindo o projeto de oficina de robótica em sua grade curricular e despertando o interesse dos estudantes pela área. Tudo começou através de um edital da Fapitec naquele ano, quando o projeto foi inscrito e os alunos foram contemplados com bolsas de iniciação científica. O trabalho foi legitimado na escola e começou a ser desenvolvido no contraturno das aulas.

Professor especialista em Educação, com mestrado em Sociologia e formação em Ciências Sociais, Flávio Gilberto fez capacitação pelo Programa Mais Educação em Robótica Educacional e tem passagem pela Engenharia, o que facilitou a utilização de novas metodologias em sala de aula. Para ele, o principal benefício das oficinas é o ganho educacional. “A principal atividade imediata é que o aluno aprenda conceitos na área de Ciências, como química, física, matemática, tecnologia, engenharia e mecânica, e contextualize na prática. Essa metodologia de oficinas promove nos alunos habilidades e competências cada vez mais requeridas no mercado de trabalho”, disse.

O projeto deu tão certo que em 2018 o professor participou do Programa STEM TechCamp Brasil, uma iniciativa da Embaixada dos EUA no Brasil que tem como objetivo estruturar uma rede de multiplicadores formada por gestores das secretarias estaduais de Educação e professores líderes de ações escolares em Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemática (STEM). Ele apresentou o projeto das Oficinas Itinerantes de Robótica Maker e a escola foi premiada com o valor de R$ 13 mil, ampliando o leque de oportunidades para a aplicação da Cultura Maker. A partir daí os estudantes do Francisco Rosa passaram a ministrar oficinas de Robótica Maker e Impressão 3D para alunos de outras unidades de ensino da rede estadual.

Conquistas e participações em eventos

Ao longo desses anos, os alunos do Francisco Rosa, juntamente com o professor Flávio Gilberto, tiveram uma série de participações em eventos e conquistas importantes, como na Olimpíada Brasileira de Robótica, em que já disputaram em nível nacional. Quase todos os anos eles participam também da Mostra Nacional de Robótica, onde já apresentaram uma tecnologia assistiva para pessoas com deficiência visual com voz robótica, criada pelos próprios estudantes. Eles chegaram a ser premiados na edição que aconteceu em Uberlândia (MG).

A turma de estudantes também sempre se faz presente na Mostra do Ensino Médio, promovida pelo Governo do Estado, em cuja última edição os alunos ficaram em primeiro lugar na categoria Robótica Educacional. Eles também já participaram da Feira Estadual de Ciências, Tecnologia e Artes de Sergipe (Cienart), apresentando os projetos.

Eles já apresentaram mais de 15 oficinas de Robótica Maker e Impressão 3D em escolas das redes públicas estadual, municipais e particular. “Considero isso uma grande conquista porque é uma forma de esses jovens, como monitores, disseminarem todos esses conhecimentos. Eles aprenderam a ser protagonistas do processo do seu conhecimento, com pesquisas e desafios, e hoje têm condições de compartilhar essas informações com quaisquer outros alunos e profissionais”, disse o professor Flávio.

O jovem Willams Dantas dos Santos foi aluno do Colégio Estadual Francisco Rosa. Ele já concluiu o ensino médio, mas ainda assim continua participando do projeto. “Aqui aprendi um pouco de tudo. Quando começamos, nós nos esforçamos para conseguir computadores, melhorar a internet, estudávamos através de apostilas. A gente pegava sucata dos outros para montarmos as nossas peças. Com o tempo, começamos a ser reconhecidos na escola e fomos crescendo cada vez mais. Para mim, foi um grande salto em minha vida”, declarou.

Saulo Wesley dos Santos Lima, aluno do 3º ano, é um entusiasta do projeto. “Aqui podemos adquirir mais conhecimentos. Aprendi a montar robôs e fazer muitas outras coisas que nem imaginava antes. No momento estou desenvolvendo um dispositivo para medir a qualidade do ar em qualquer lugar da cidade”, afirmou.

Impressoras 3D

Com os R$ 13 mil reais da premiação do TechCamp Brasil, foram compradas impressoras 3D desmontadas, para que os alunos não apenas usufruíssem, mas que pudessem também montá-las, sendo participantes de todo esse processo. Os estudantes foram capacitados sobre o uso do equipamento e ministraram algumas oficinas itinerantes.

A participação de outros professores nas oficinas já fazia parte do projeto e, com isso, mais duas unidades de ensino foram contempladas com as impressoras 3D: o Centro de Excelência Professora Maria Ivanda de Carvalho Nascimento e o Colégio Estadual Barão de Mauá, ambas em Aracaju. 

“Com esses projetos, muitos alunos acabaram se interessando e se identificando. Alguns já terminaram o ensino médio e continuaram com a gente porque se identificaram, e hoje fazem apresentações em institutos, são convidados a criar esse mesmo espaço em outras escolas”, afirmou Flávio.

Tipos de dispositivos

Nas aulas e oficinas de robótica e impressão 3D os alunos criam os mais variados dispositivos, como robôs controlados por celular, tecnologias assistivas que ajudam pessoas com limitações ou deficiências, mão robótica, óculos para pessoas com tetraplegia, dispositivos em braile, entre outros.

Com a impressora 3D, eles são capazes de desenhar e imprimir objetos educacionais, como minissistema solar, célula impressa para aula de biologia, estrutura molecular de elementos químicos e alfabeto em braile. Além disso, são desenvolvidos também projetos de automação residencial e a criação de aplicativos para controlarosdispositivos.

Guilherme Oliveira Sampaio também foi aluno do Francisco Rosa, e mesmo já tendo concluído o ensino médio, continua a participar das oficinas. Ele destaca que é muito importante os alunos da escola pública terem uma oportunidade como essa. “É algo muito bom porque desperta não apenas o intelecto, ajudando no conhecimento dentro de sala de aula, mas também o nosso lado criativo, a parte de desenho. Muitos alunos podem tirar a ideia do papel e desenvolver determinados objetivos que vão auxiliar pessoas com deficiências”, disse ele, que pretende seguir a área de Engenharia da Computação ou Ciência da Computação.

Próximos passos

Devido ao sucesso das oficinas de robótica e impressão 3D, o professor Flávio Gilberto tem em mente algumas metas para expandir o projeto. “Nosso desejo é que outras escolas da rede também participem das oficinas, para multiplicarmos ainda mais esses conhecimentos. Queremos também levar oficinas para instituições que cuidam de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, e queremos ter um maior engajamento com a nossa comunidade”, declarou.