Mato Grosso do Sul
26.05.2017Campo Grande (MS) – O expediente de Hélder Paredes começa às 7h30, mas ele chega com 45 minutos de antecedência na empresa porque não gosta de se atrasar e prefere se precaver. O jovem, de 20 anos, tem uma deficiência intelectual, mas isso não foi impedimento para que ele conseguisse uma colocação no mercado de trabalho. Ele, que é auxiliar administrativo no Sest Senat, em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, e conquistou seu espaço com o apoio do Núcleo de Inserção e Acompanhamento da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho, setor ligado à Coordenadoria de Políticas para a Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação (Copesp/SED).
Hélder, que concluiu o ensino médio na Escola Estadual Vespasiano Martins, participou, no segundo semestre de 2016, do curso de habilidades básicas oferecido pelo Núcleo para os estudantes da Rede Estadual de Ensino, acima de 16 anos, e que aborda temas como a importância de um currículo, documentação, higiene e saúde, comportamento adequado e não adequado na empresa, segurança no trabalho, leis que amparam a pessoa com deficiência e empregabilidade. “Lá eu aprendi como devo me vestir e fazer minha higiene pessoal, porque tudo isso importa para que você se saia bem”, destaca o rapaz.
De acordo com a psicóloga e atual ministrante da formação, Solange Aparecida Xavier, o curso é uma preparação para o mercado de trabalho, com os mesmos direitos e deveres. “Aqui eles têm regras, compromissos e responsabilidade com horário, aprendem a preencher o currículo e a importância dos documentos pessoais”, explica. “Também falamos sobre o relacionamento com colegas e patrões e como manter a harmonia nessas relações”, ressalta Solange. “O pessoal do Núcleo ajudou muito minha família. Meu filho se sentiu importante e eu me senti muito bem por ele ter sido tão acolhido”, afirma Damiana Paredes, mãe do Helder.
O Núcleo tem como proposta assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar a adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento vocacional e profissional, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com deficiência. “Depois de empregado, continuamos acompanhando o estudante e todo problema que houver na empresa, somos acionados. Eles nunca ficam sozinhos, não deixamos de acompanha-los mesmo depois que concluem o ensino médio”, informa a coordenadora do Núcleo de Inserção e Acompanhamento da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho, Gardênia Peixoto.
O atendimento tem como objetivo garantir que a pessoa com deficiência não sofra qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissionais e periódicos, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão plena. Para a equipe do Núcleo, é impossível não se envolver ou se emocionar com as conquistas dos estudantes. “É todo um sonho envolvido, eles passam uma realização pessoal e nós fazemos parte disso”, fala a professora Elizabeth Lira.
Com a finalização da formação, que tem duração média de dois meses, com aulas duas vezes por semana, os estudantes passam a constar no cadastro reserva do Núcleo e são encaminhados, inseridos e acompanhados no mercado de trabalho conforme surgem solicitações das empresas, assim como o Helder, que está feliz da vida com a colocação. “Eu tinha medo de não conseguir arrumar emprego, já tinha feito várias entrevistas e não me ligaram em nenhuma, mas com o apoio do Núcleo eu consegui”, conta o rapaz, que já faz planos. “Eu atendo telefone, entrego certificados e tiro guia de cursos. Nos próximos anos gostaria de fazer uma faculdade e permanecer aqui, trabalhando nesta empresa maravilhosa que me acolheu de braços abertos”, diz.
Em 2016, o Núcleo ofertou formação para 61 estudantes, sendo que 54 foram inseridos e acompanhados no mercado de trabalho. Este ano, a primeira turma em formação conta com 16 estudantes matriculados.