Vale do Paraíba tem 8.700 professores; 26 são estrangeiros

São Paulo

15.10.2025

A rede estadual de ensino no Vale do Paraíba tem 8.700 professores. Desses, 5.750 são mulheres e 2.950 são homens. Os nomes mais comuns entre os docentes são Maria e Ana, entre as mulheres, e José e Luiz, entre os homens. Nas seis regionais de ensino do Vale, há 26 professores estrangeiros.

Lourdes Ines Roca Ferreira Franqueira e Noriko Adachi Akama, professoras argentina e japonesa, atuam nos Centros de Estudos de Línguas (CELs) da cidade de São José dos Campos. Enquanto Lourdes leciona espanhol na Escola Estadual Professor Estevam Ferri, Noriko atua na Escola Estadual Major Aviador José Mariotto Ferreira.

Da adolescência em Tucumán ao magistério no Brasil

A argentina Lourdes chegou ao Brasil ainda adolescente, vinda de Tucumán. Foi em solo brasileiro que descobriu sua vocação. “Ainda era adolescente quando me mudei. Foi aqui no Brasil que descobri minha vocação para o ensino e encontrei minha verdadeira missão como educadora”, conta.
Há 42 anos ensina espanhol, sendo 23 deles no CEL da escola Estevam Ferri. “Trabalhar no CEL me permite compartilhar minha cultura e ver como o espanhol transforma a vida dos alunos, abrindo horizontes e fortalecendo laços entre países”, afirma.

Ela acredita que ensinar vai além da gramática. “Acredito que ensinar uma língua é muito mais do que transmitir regras: é abrir portas para uma nova forma de ver o mundo.” Por isso, adapta o conteúdo ao universo dos estudantes. “Uso músicas, filmes, séries e temas da juventude. Também valorizo muito a oralidade e a afetividade, porque aprender uma língua é também se emocionar com ela".

Lourdes se diverte ao lembrar dos tropeços linguísticos dos alunos. “Uma vez, um aluno achou que ‘embarazada’ queria dizer ‘envergonhada’, quando na verdade quer dizer grávida, e causou uma grande confusão em uma apresentação. Rimos muito e ele nunca mais esqueceu o verdadeiro significado”.

Raízes japonesas e missão de ensinar

Já Noriko nasceu na província de Gifu, no Japão, e chegou ao Brasil em 1958. “Os japoneses imigravam para o Brasil por uma combinação de fatores. A necessidade brasileira de mão de obra para a expansão da cafeicultura e a busca por oportunidades melhores explicam esse movimento”, relembra.

Ela começou a lecionar em 1984 e hoje é professora de japonês no CEL. A escolha pela carreira veio de um pedido inesperado. “Uma aluna me perguntou, porque sabia que eu conhecia o japonês, se eu não queria dar aula. Isso me despertou uma vontade imensa de lecionar a minha língua natal”, diz.

O desafio, segundo ela, está na complexidade do idioma. “É um idioma completamente diferente, tendo que começar do zero, principalmente a partir da escrita. Outro desafio é a pronúncia. E também o japonês tem muitas palavras que não têm tradução direta para outras línguas. Um exemplo é komorebi, que descreve a luz do sol filtrada pelas folhas das árvores. É lindo, não é?”, questiona.

Noriko aposta em recursos variados para aproximar a cultura nipônica dos alunos. “Uso o livro ‘Kotobana’, feito em parceria com a Fundação Japão, além de recursos online. Também trabalho música, porque como eles têm dificuldade de pronúncia, a música ajuda muito na aprendizagem do vocabulário”.

A convivência cultural gera episódios curiosos, segundo ela. “Na visita do diretor da Fundação Japão, uma aluna ficou tão emocionada ao receber um certificado que o abraçou. No Japão, eles evitam contato físico. Ele ficou todo envergonhado”, lembra, rindo.

Para a professora, aprender outra língua é um caminho de transformação. “Aprender uma nova língua estrangeira é, atualmente, uma das competências mais valorizadas. Não só melhora a empregabilidade, mas também favorece o desempenho em outras áreas da vida. Além disso, é uma forma de enriquecer a vida pessoal, ampliar horizontes e desenvolver empatia e respeito pelas outras culturas”.