Unidos pela inclusão: professores da rede estadial se dedicam a ensinar alunos com deficiências intelectuais

Sergipe

16.10.2019

O Centro de Atendimento Educacional Especializado João Cardoso Nascimento Júnior, em Aracaju, é referência no Estado em atender a alunos com deficiência intelectual. Equipada com salas de recursos, a unidade de ensino é um ambiente em que os alunos praticamente passam mais tempo do que em suas próprias casas. Dentro desse contexto, dois professores têm sido verdadeiros abnegados no trabalho de acolher e ensinar aos estudantes especiais.

Hellon Belmiro Sampaio Bacellar começou na unidade de ensino em 2017. Com três formações (Pedagogia, Psicologia e Direito), ele conta que desde cedo buscou solucionar questões que vinham à sua mente. A que mais o incomodava era a questão da inclusão dos alunos especiais. “A legislação nos traz essa questão da inclusão, mas não oferece a estrutura. Então ficava com esta dúvida: como farei o atendimento de um aluno que tem autismo de alto comprometimento no meio de 30 alunos?”, questionava-se.

Ele conta que, ao iniciar o magistério no Centro de Atendimento Educacional Especializado João Cardoso Nascimento Júnior, percebeu que cada criança tinha um perfil diferente e necessidades específicas. Para atendê-las, era necessário conhecê-las primeiro para depois fazer um planejamento de ensino individual, diferente do planejamento tradicional que atende a todos os alunos homogeneamente.

“Cada professor tem a sua área de aprendizagem. As minhas são a música, as brincadeiras, a contação de histórias, através das quais nós iremos produzir nossas atividades pedagógicas. A cada dia, tenho de ver o que cada aluno aprendeu e o que ele faltou aprender. É um trabalho incansável e em eterna construção. É preciso estar com o olhar atento o tempo todo e com uma postura de disponibilidade para o que for necessário”, declarou o professor, que atualmente atende a quatro alunos, a maioria com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Relacionamento com as famílias

Os conteúdos em sala de aula são passados em todas as áreas, como matemática, português e ciências, mas em seu método de ensino, ele utiliza músicas, brincadeiras e contação de histórias para atrair a atenção. Hellon explica ainda que é preciso conquistar dos alunos três habilidades básicas: sentar, prestar atenção e imitar.

Em seu trabalho com os alunos, o professor Hellon Bacellar tem um relacionamento com as famílias deles. Além disso, ele observa também a administração das medicações e a participação das crianças nas terapias. Tamanha proximidade acaba criando uma importante ligação entre ele e as crianças. “Às vezes me chamam de pai, avô, até de mãe ou de tia. É importante criar um vínculo. Sem isso não tem como criar uma relação de terapia e aprendizado. Por outro lado, temos um limite. É preciso que o professor prepare o aluno para a vida. Temos que ensinar a eles experiências que possam aproveitar no dia a dia deles, como falar, amarrar o cadarço, colocar uma camisa. Atividades da vida diária que serão necessárias a eles”, explicou.

Inclusão digital

O professor Nichollas Andrade também auxilia os alunos do Centro de Atendimento Educacional Especializado João Cardoso Nascimento Júnior, mais precisamente na área da inclusão digital. Sua trajetória profissional começou aos 15 anos, quando durante o ensino médio começou a estagiar. Em um período sabático de intensos estudos, ele conseguiu concluir, ao mesmo tempo, os cursos de Pedagogia e Psicologia. Passou em concurso público para o magistério municipal e, depois, ingressou também no magistério estadual.

“Eu entrei na Educação Especial porque não me sentia tão motivado como em sala de aula regular. Aqui foi onde realmente eu me encontrei como profissional”, disse ele, que iniciou na unidade de ensino também em 2017. Nesse ano, ele presenciou a implementação do Currículo Funcional e, em 2018, começou a trabalhar na área de Tecnologia Assistiva. Professor Nichollas atende a todos os alunos utilizando tecnologias de alto custo, que são computadores e tablets, e de baixo custo, que são materiais que ele e outras duas professoras produzem.

“Alguns alunos que têm o lado cognitivo um pouco mais preservado, como a coordenação motora, eu levo para o computador e dou aulas de introdução à informática, acesso à internet, num verdadeiro trabalho de inclusão digital. Em sala de aula, produzo materiais para os professores utilizarem e trabalho também com tablets com jogos pedagógicos. A gente utiliza jogos que já estão, gratuitamente, nos tablets, mas que têm um fundo pedagógico, e outros que estimulam a coordenação motora dos alunos. Com isso, temos alcançado bons progressos com as crianças”, explicou.

Nichollas se refere ao seu trabalho como algo gratificante. Ele conta que, apesar de os resultados não serem imediatos, trabalhar com alunos especiais lhe dá uma grande satisfação. Ele conta ainda que a unidade de ensino é também um lugar extremamente acolhedor. “Aqui é um lugar onde eles se sentem acolhidos, amados e onde são preparados para uma inclusão. Só o fato de estarmos mexendo na realidade dessas crianças, momentaneamente, é algo gratificante”, declarou.

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