Paraná
08.04.2024A pedagoga Márcia Cristina Montanholi Oliveira tem nos livros uma de suas principais paixões. Desde cedo leitora voraz, ela conta que teve incentivo do pai para mergulhar no mundo das letras: “Sempre amei os livros, o primeiro que li foi A Ilha Perdida, de Maria José Dupré. Sempre tive incentivo para a leitura por parte do meu pai que comprava gibis para a gente ler e ele estava sempre lendo o Almanaque Abril”, relembra.
Servidora do Colégio Estadual do Jardim Independência, em Sarandi, na região Norte do Paraná, há 28 anos, Marcinha, como é conhecida pelos alunos e colegas, destaca com carinho os 8 anos em que atuou como bibliotecária na escola: “Esse trabalho me ajudou a entender mais o universo literário e os autores. Aprendi a catalogar corretamente um livro, a organização nas prateleiras, entre outras coisas”.
Mas o trabalho de Márcia na promoção do amor pelos livros não se restringiu às paredes da biblioteca. Ela atuou em diversos projetos de incentivo à leitura na escola. Participou de várias ações com a equipe multidisciplinar. A proposta era realizar atividades com os alunos objetivando a valorização e o respeito pelo diferente como também despertar o interesse pelo conhecimento dos saberes construído historicamente pelos povos africanos e indígenas. A pedagoga ajudava a separar os materiais de estudo bem como os livros dispostos na biblioteca sobre o assunto.
Márcia precisava, além de separar os livros para a pesquisa, organizar um trabalho que os estudantes deveriam apresentar. “Uma das minhas propostas foi selecionar os alunos interessados para desenvolver o trabalho e apresentar no dia da Consciência Negra (20 de novembro). Lembro de uma exposição que organizei em parceria com a professora de português Edna Aranha e a professora de artes Viviane Araújo. Os alunos precisavam fazer uma arte, pintura ou poesia sobre a história lida e os livros selecionados foram Iracema e O Guarani, de José de Alencar. A exposição ficou linda, fizemos um varal com os trabalhos, uns em desenho, outros em forma de poesia”, lembra com alegria.
E é justamente a poesia uma das expressões do amor de Márcia pelas letras. Ela escreve poemas desde a adolescência, e nem um contratempo lhe tirou a vontade de continuar: “Naquela época eu escrevia à mão, em cadernos. Mas no Ensino Médio alguém roubou o caderno com minhas poesias. Porém, escrevi outros e outros… a inspiração vem e eu preciso escrever naquela hora”, relata.
A persistência em continuar escrevendo os poemas rendeu frutos. No segundo semestre de 2023, Márcia teve um texto seu selecionado para uma antologia intitulada Ah, o verão!, da Lura Editorial. “Sempre sonhei em publicar, mas tinha medo de as pessoas não gostarem, porque para gostar de poesia e entender o seu significado, é preciso ler com a alma, então nunca fui atrás. Recentemente, vi uma publicação de uma editora nas redes sociais sobre participar de uma seleção de poesia para uma antologia. Mandei e eles gostaram, minha poesia será publicada neste livro ainda esse ano, com direito à noite de autógrafos e participação na Bienal do Livro. Isso me incentiva a seguir em frente e tentar publicar meu próprio livro com todas as minhas poesias. Por enquanto é apenas um projeto”, compartilha Márcia.
Com toda a vontade da pedagoga em compartilhar seu amor pelas letras, nada mais natural que os estudantes também se sintam contagiados por essa paixão. Guilherme Fiorati, de 18 anos, que concluiu o Ensino Médio no Colégio Estadual do Jardim Independência em 2023, teve seu primeiro contato com Márcia na sexta série. “Eu tinha acabado de chegar no colégio e Marcinha ainda atuava na biblioteca. Ela teve um papel fundamental na minha vida como leitor, tinha um projeto de incentivo à leitura e eu participei e isso me influenciou muito, muito… toda vez que eu ia à biblioteca, eu pegava um livro para ler”, relata o jovem, que prestou vestibular para Medicina.
Ele ainda lembra de um projeto que foi muito especial em sua trajetória. “A Marcinha era uma das pessoas que estava à frente de uma atividade em que tínhamos que fazer desenhos sobre os livros que líamos. Todo dia eu pegava um livro diferente e fazia um desenho diferente. Tirei o primeiro lugar e se não fosse a Marcinha, eu não teria conhecido essa atividade e nem leria como leio hoje. E como influenciou a mim, ela influenciou também muitos outros alunos a se tornarem leitores”.
Assim como Márcia, Guilherme também é apaixonado por livros e se arrisca a escrever os próprios versos, em forma de poesia. “Eu percebi, nos livros que lia, uma forma de poder expressar algo. E foi através da leitura que eu descobri a escrita, e quem mais me influenciou e influencia a ler foi a Marcinha”, afirma. A poeta Márcia, ou Marcinha, como preferem os íntimos, pode ficar sossegada. Sua paixão pelas palavras e pela poesia contagiou uma série de leitores, que saem do Colégio Estadual do Jardim Independência levando na bagagem de boas lembranças o amor pelos livros.