TV Justiça e internet devem ajudar na reposição das aulas

Distrito Federal

31.03.2020

Em entrevista à Agência Brasília, o secretário de Educação, João Pedro Ferraz, lembra que ainda não há previsão para a retomada das atividades escolares e informa como pretende distribuir conteúdo on-line para 600 mil estudantes

O isolamento recomendado pelas autoridades em saúde para conter a proliferação da Covid-19 atingiu em cheio o calendário escolar de milhares de estudantes em todo o território nacional. Em Brasília, afastados desde o último dia 11 de março, mais 600 mil alunos da rede pública aguardam em casa uma alternativa para não perder o ano letivo.

A Secretaria de Educação (SEE) está atenta aos prazos. Em 5 de abril, finda a antecipação do recesso escolar feita por decreto do governador Ibaneis Rocha. Em tese, as aulas retornariam.

Porém, o cenário da vigilância sanitária, que já registrou mais de 200 casos confirmados no DF do novo coronavírus, pode barrar mais uma vez a retomada das atividades presenciais. Diante dessa possibilidade, o GDF  planeja oferecer duas outras modalidades de conteúdo: aulas virtuais pela internet e videoaulas transmitidas pela televisão.

“Todo o governo está buscando alternativas para que as coisas continuem acontecendo, mesmo com boa parte da população isolada em suas casas”, explica o secretário de Educação, João Pedro Ferraz.

Em entrevista à Agência Brasília, ele conta como a pasta está enfrentado o período e diz que negocia com a TV Justiça a transmissão de aulas para alunos do ensino médio. “Nossa preocupação maior é com os cerca de 80 mil alunos do ensino médio, porque podem não conseguir recuperar esse tempo perdido em função dos prazos de vestibulares, Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e PAS [Programa Seletivo de Avaliação Seriada]”, afirma.

Ferraz lembra ainda que não há previsão para a retomada as aulas presenciais, mas destaca o empenho das equipes na preparação do conteúdo para lançamento das novas plataformas, ainda na primeira quinzena de abril.

Abaixo, acompanhe os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia o posicionamento da população sobre a suspensão das aulas como prevenção ao novo coronavírus?

Não chegamos a fazer essa avaliação específica com a participação de professores, alunos e pais. Mas, como a comunidade escolar está no conjunto de toda a população, pela nossa avaliação, está tudo indo bem. A população está aceitando naturalmente as medidas protetivas, porque estão todos preocupados com as vidas que podemos poupar. E estão vendo que não estamos parados; todo o governo está buscando alternativas para que as coisas continuem acontecendo, mesmo com boa parte da população isolada em suas casas.

Como a Secretaria de Educação está lidando com esse quadro?

A gente tem buscando soluções para atender as crianças em casa, por meio do ensino virtual. Estamos buscando soluções já pensando em reposição do calendário, para que não haja um prejuízo maior para os alunos. Nossa grande preocupação é com o ensino das séries finais, principalmente do ensino médio. Agora, estamos todos voltados para construir essas alternativas.

E o Conselho de Educação Distrital também já autorizou a rede pública a oferecer aulas virtuais…

Sim. Temos uma ideia genérica ainda dos resultados dessa nova modalidade de estudo. Na secretaria, já estávamos trabalhando num projeto de contraturno digital. Temos algumas plataformas especializadas de ensino e contamos com ajuda da Google e da Microsoft, que já se colocaram à disposição. Também contamos com profissionais da própria secretaria, que estão engajados e têm habilitação e experiência para isso. A ideia é focar num programa de acesso rápido por telefone ou computador. Estudamos ainda a alternativa de transmitir o conteúdo dessas aulas na televisão.

Então, o governo já fechou com alguma emissora?

Estamos construindo alternativas, principalmente pensando naqueles alunos que não têm equipamento para acesso à internet. Temos uma ideia que 90% dos nossos alunos já possuem esse acesso às ferramentas digitais, mas se ficar um aluno fora, teremos de atender de outra forma, porque ninguém pode ficar no prejuízo. Já conversamos com a TV Justiça, que se colocou à disposição para colaborar. Então, essa é uma possibilidade mais provável de acontecer, principalmente para atender rapidamente. Começaríamos, no primeiro momento, com uma hora, depois com duas e, no decorrer de uma semana, passaríamos a uma carga horária de pelo menos três horas. Nossa preocupação maior é com os cerca de 80 mil alunos do ensino médio, porque podem não conseguir recuperar esse tempo perdido em função dos prazos de vestibulares, Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e o PAS [Programa Seletivo de Avaliação Seriada]. Já com os outros, a preocupação existe, mas poderíamos ajustar o calendário, entrar no próximo ano – utilizaríamos os feriados e sábados para compensar tudo.

Quando começariam essas aulas virtuais?

Nossa ideia é implantar essa modalidade de aulas logo após o fim do recesso, que, pelo decreto, é em 5 de abril. Estamos correndo para viabilizar isso ainda na próxima semana, para poder informar o passo a passo para os estudantes. Num primeiro momento, o foco é o ensino médio. A nossa preocupação maior agora é obedecer às orientações das autoridades de saúde e fazer o isolamento. Vamos cumprir essa determinação para segurança de toda a população e também dos nossos servidores e alunos. Por isso, vamos passar o conteúdo para esses jovens e mantê-los em casa até quando for necessário – mas claro que estamos preocupados que esse tempo em casa seja produtivo, por isso as aulas virtuais. É o que podemos fazer agora; tudo o mais pode ser resolvido depois.

Essa modalidade de ensino é algo muito novo, principalmente para os estudantes. Como fazer com que dê certo?

Vamos distribuir a programação de forma a envolver estudantes e responsáveis. Será ótimo porque [a família] vai aproveitar esse tempo dentro de casa ocupando nossos alunos com estudo orientado. Esperamos que os pais também contribuam, cobrando disciplina, porque teremos horários específicos para entrar nas salas de aulas – tanto pela televisão quanto pelas plataformas digitais. Nossa ideia é oferecer aos alunos uma agenda de compromissos, com prazos previamente estabelecidos. É uma primeira experiência. Não sabemos qual será o resultado disso, mas o empenho da equipe está concentrado em fazer de tudo para que dê certo.

Quando o governo espera a retomada das aulas? Já existe um prazo?

Não temos um prognóstico do tempo em que ainda vamos ter que ficar parados. Estamos trabalhando com uma suspensão de aulas ainda no mês de abril, talvez maio também. Mas está tudo indefinido ainda.  Estamos trabalhando para oferecer o que há de melhor para educação do DF – tudo dentro das nossas possibilidades e, claro, dentro dessas circunstâncias que a gente vive hoje de pandemia.

Durante o período da suspensão das aulas, o que os professores farão?

É bom lembrar que, até 5 de abril, todos estão em período de recesso escolar. Nesse primeiro período, estamos contando como se fosse uma antecipação das férias de julho. Mais para a frente, quando as aulas nas plataformas e na televisão se iniciarem, teremos de pensar numa atividade para eles também. Poderão auxiliar no conteúdo e também realizar atividades de capacitação e atualização de uma maneira on-line. Acredito que eles possam colaborar muito essa nova modalidade de ensino, mas estamos trabalhando em sintonia com uma prospecção da Secretaria de Saúde para colaborar enquanto esse isolamento for necessário.

Qual é a situação dos servidores da área administrativa?

A grande maioria está em serviço de teletrabalho. A nossa preocupação maior agora é obedecer às orientações das autoridades de saúde.

O GDF terá de suspender as avaliações de ensino previstas para o primeiro semestre?

Tudo isso ficou prejudicado, mas ainda não temos uma orientação conclusiva. Agora, estamos focados em encontrar alternativas. Precisamos agora concluir o conteúdo on-line e passar para validação do Conselho de Educação e para os órgãos competentes, para conseguir autorização e seguir em frente com a proposta. Temos um calendário obrigatório de 200 horas aulas que precisamos cumprir. É uma legislação federal e, pelo menos agora, não tem como alterar. Mas acreditamos que esse calendário possa ser revisto e pode sofrer algumas modificações em virtude dessa paralisação nacional. Tudo ainda vai depender de quanto tempo mais ficaremos em casa.

O governo anunciou algumas bolsas e auxílio para alunos carentes, que não estão se alimentando na escola em função da suspensão das aulas. Como a Secretaria de Educação está administrando esse impacto no orçamento?

Ainda não tivemos um sinal do governo federal de aportes para educação. O que temos é a aprovação da Câmara Legislativa no sentido de liberar os recursos que estavam destinados à merenda escolar para que eles possam ser repassados às famílias. Já estamos adotando essas providências, retirando parte desses recursos destinados à merenda escolar e colocando nos cartões que as famílias receberam para usar para compra de material escolar. Todos os alunos cujas famílias estão no Cadastro Único já estão recebendo a importância de R$ 60, por 15 dias – o que dará uma média de R$ 120 por mês para cada criança. Isso para cobrir as despesas com aquilo que elas estão deixando de consumir nas escolas. Liberamos esse cartão para ser usado nos mercados por todo o período de suspensão das aulas.

E o auxílio para as crianças das creches?

As creches foram fechadas por meio de uma decisão judicial, a pedido do Sindicato dos Professores das Escolas Particulares. Não fechamos no início porque entendemos que as creches atendiam muitas mães e pais de baixa renda, que precisavam trabalhar e não tinham com quem deixar seus filhos. Nas creches, as crianças têm todas as refeições, higiene e cuidados. Mas, com a ordem judicial de fechar as creches, tivemos que dar uma opção aos pais para alimentação dessas crianças. Então, estabelecemos uma redução no valor do que se paga por crianças nas creches. Esse valor será distribuído com todas as crianças que usam sistema de creche da rede pública. São cerca de 20 mil, tanto  para aqueles que estão nas redes conveniadas quanto [para os que se encontram] nas [redes] geridas pela Secretaria de Educação.

Quando os pais terão acesso a esses valores?

Os 20 mil cartões-auxílio alimentação/creche serão distribuídos a partir desta sexta-feira (26). Vamos entregar todos às 14 regionais de ensino, e cada regional ficará responsável pela distribuição. Algumas vão distribuir na própria sede; outras vão encaminhar a grandes escolas, para não haver aglomeração. Vamos organizar essa distribuição durante seis dias, com escalas para não formar filas. Na semana que vem, quando todos estiverem com o cartão na mão, o BRB vai carregar esses cartões com o valor de R$ 150 por mês para cada criança.

Agência Brasília