Seminário discute práticas educacionais voltadas a alunos imigrantes

IMIGRAÇÃO

24.04.2019

Por: Mágida Azulay Khatab / SEED-RR

Foto: Ascom/Seed

Roraima conta em 2019 com pouco mais de três mil alunos imigrantes venezuelanos matriculados na rede estadual de ensino. Como forma de aprimorar o acolhimento destes estudantes, e melhorar as estratégias de atendimento educacional, profissionais da área participam do II Seminário “Criança e Adolescente: Bem Comum – Educação para tempos de emergência”.

O evento iniciou nesta terça-feira, 23, e encerra na quarta-feira, 24, no Centro de Ciências da Saúde da UFRR (Universidade Federal de Roraima)

Promovido pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Fraternidade - Federação Humanitária Internacional, Pedagogia de Emergência, Aliança pela Infância e UFRR, o Seminário tem o objetivo principal de contribuir para o fortalecimento técnico e emocional dos profissionais das redes públicas federal, municipal e estadual, em função do aumento considerável de crianças e adolescentes imigrantes em situação de vulnerabilidade na rede pública de ensino.

A secretária de Educação e Desporto, Leila Perussolo participou da abertura do Seminário e destacou a importância do olhar diferenciado e de uma atuação conjunta entre Instituições. “É necessário olhar para o outro e perceber a nova realidade que nos cerca. Uma sociedade também precisa saber se remodelar. Em nosso caso é preciso uma construção de redes envolvendo saúde, educação, segurança, para que possamos além de olhar, acolher o outro”, disse.

A secretária destacou ainda o trabalho realizado pela Seed no que tange a recepção destes alunos, pontuando que por meio do DEB [Departamento de Educação Básica] é aplicada a correção de fluxo para ajuste da idade série e com isso é feita também a regularização da vida escolar do aluno venezuelano, uma vez que a maioria chega ao Brasil sem qualquer documentação.

O chefe de Educação do Unicef, Ítalo Dutra, também destacou a importância da articulação e da união de forças a fim de promover um verdadeiro trabalho de acolhida, destacando para tanto, a experiência de parceiros na realização das ações.

“É importante a troca de experiências. O Unicef promove as ações mas a experiência dos técnicos das instituições parceiras é fundamental no processo“, disse. Durante a palestra, Ítalo apresentou alguns números da imigração Venezuela. Informou que são 6,3 mil imigrantes distribuídos em 13 abrigos e que destes, 2,5 mil são crianças.

Destacou que 438 pessoas vivem na rodoviária internacional de Boa Vista sendo 145 crianças e adolescentes e que 500 famílias vivem em situação vulnerável em quatro municípios de Roraima: Boa Vista, Pacaraima, Bonfim e Amajarí. Os dados são de dezembro de 2018.

Por fim, enfatizou que o maior desafio em relação a educação é o atendimento à criança ou adolescente que está fora do seu ambiente, da sua casa, do seu País de origem, ou seja, que passou por processos dolorosos e que enfrenta algumas situações que interrompem o aprendizado, quais sejam: a dificuldade de reintegração, retrocesso emocional, aumento das vulnerabilidades e a adultização da infância.

Diante dessa realidade, o Unicef realiza diversas ações e o chefe de Educação destacou alguns resultados positivos, entre eles, que 3.210 crianças acessaram 10 Espaços de Aprendizagem Temporária (sendo 8 em Boa Vista e 2 no município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela) e que 824 crianças e adolescentes foram matriculados nas redes de ensino.

PEDAGOGIA DE EMERGÊNCIA - Tendo em vista a situação enfrentada pelos imigrantes, a Pedagogia de Emergência vem com o objetivo auxiliar crianças e jovens que vivem em zona de catástrofes, guerra ou em situações de vulnerabilidade social a superar suas vivências traumáticas. Ou seja, busca evitar o desenvolvimento de sequelas de distúrbios traumáticos em crianças e jovens.

“Como atender uma criança ferida, onde seu pensar não funciona, o seu falar não funciona, por causa das mudanças bruscas que ela está vivendo? Porém, ela pode não conseguir falar, mas pode conseguir pintar, desenhar, pode conseguir dançar, e estas são outras formas de expressão que também auxiliam o desenvolvimento educacional da criança”, destacou Reinaldo Nascimento, pedagogo da Pedagogia de Emergência.

E, como às vezes não é possível alcançar diretamente as crianças e adolescentes envolvidos nestas situações, a Pedagogia de Emergência trabalha com a formação de professores, que estão em contato direto com este público.

A Pedagogia de Emergência apresenta as possibilidades de trabalhar com jovens e crianças traumatizados, contribuindo para o fortalecimento técnico, pedagógico e emocional dos profissionais que atuam nas escolas. A Pedagogia de Emergência é um grupo que teve origem na Alemanha e aqui no Brasil, vem atuando desde 2011 com educadores e professores.

Nesta quarta-feira (24), a programação do Seminário segue com oficinas e mesas redondas com temas como o “Estatuto da Criança e do Adolescente”, “Rede de proteção”, “Sistema de garantia de direitos”, “Escola como um lugar seguro e a perspectiva curricular frente ao fenômeno da migração”, “Saúde e resiliência na prática docente”.