Reunidos em Manaus, secretários estaduais de Educação defendem a reformulação do Ensino Médio brasileiro

Educação Básica

03.11.2015

A proposta de fazer da Língua Inglesa a língua estrangeira obrigatória no currículo do Ensino Médio brasileiro foi uma das propostas defendidas pelo secretários de Estado de Educação do país em reunião neste sábado (31) em Manaus. A reunião foi coordenada e organizada pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação Consed que mobilizou, além dos secretários estaduais, os coordenadores de ensino médio de todas as regiões do país no II Seminário do Ensino Médio iniciado na última quinta-feira (29) na capital amazonense sob o patrocínio do Itaú BBA.

A reunião e o seminário tiveram como objetivo fundamentar uma proposta de reformulação do Ensino Médio brasileiro e sugerir alterações no Projeto de Lei nº 6840/2013 que trata sobre o tema e que está em tramitação na Câmara dos Deputados.

A proposta de tornar a Língua Inglesa um componente curricular obrigatório é umas das providências sugeridas pelo Consed para fazer do Ensino Médio uma etapa de ensino mais atrativa e que responda aos reais anseios dos jovens brasileiros. “No último ano (2014) 7,6% dos estudantes matriculados no Ensino Médio no país abandonaram os estudos. Isso se deve ao fato de que o currículo do ensino médio não atende às necessidades dos jovens, que por consequência, optam por abandonar os estudos. Para tentar mudar esse quadro, organizamos este encontro para debater ideias e formalizar propostas que serão encaminhadas para tramitação junto as esferas do legislativo nacional e, como desejamos, serem viabilizadas na forma da lei”, explicou o secretário de Estado de Educação do Amazonas e vice-presidente do Consed, Rossieli Soares da Silva.

Inglês obrigatório

Ponto polêmico nas discussões do final de semana foi a defesa pela obrigatoriedade do ensino de inglês. Ao final, os secretários concordaram que o ensino da língua estrangeira deve ser obrigatório no ensino médio. "Sem o inglês, os nossos jovens não têm nenhuma possibilidade na vida. Pode haver outras línguas, mas o inglês é o mínimo", defendeu diretora executiva da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Maria Helena Guimarães, convidada como observadora.

Entre os empecilhos que foram colocados está a falta de professores e os diferentes contextos do país. No Amapá, por exemplo, a secretária de Estado da Educação, Conceição Medeiros, disse à Agência Brasil que 90% das escolas têm aulas de francês, justificada pela proximidade com a Guiana Francesa. O inglês chega a 50% dos centros de ensino.

Opinião importante foi dada por Ismael Ribeiro, estudante que trabalhava de garçom no local. Ele conversou com os secretários e recebeu o microfone na reunião. "Vocês são as pessoas que estão escolhendo o futuro dos nossos filhos. A maioria das empresas não é gerenciada por brasileiros, como vou tratar com um gerente se não falamos a mesma língua? Como vou mandar meu filho estudar fora se ele não fala inglês? E não posso ir junto, porque não falo", disse, e criticou, "E se for esse inglês que está hoje na sala de aula, pode tirar, porque ninguém sai falando nada".

Atualmente no Brasil, a Língua Inglesa, enquanto disciplina, é obrigatória somente no ensino fundamental, onde é oferecida do 6º. ao 9º. ano. Hoje, no ensino médio, a língua estrangeira obrigatória é o Espanhol. Pela proposta do Consed, a língua estrangeira que deve constar como obrigatória no currículo do ensino médio brasileiro é a Língua Inglesa, com a possibilidade de oferta optativa ao aluno de uma segunda língua, respeitando as peculiaridades das diferentes culturas, os interesses locais e em conformidade com as possibilidades de oferta de cada Estado.

Reformulações

Propondo reformulações significativas no ensino médio brasileiro, além de mudanças no currículo referente ao ensino de línguas estrangeiras, os secretários de Educação trataram também sobre: Educação Integral e de Tempo Integral, Áreas do Conhecimento, Contextualização, Distribuição do Currículo, Interdisciplinaridade, Transversalidade, Componentes Curriculares, Opções de Aprofundamento, Formação Docente, Formação Técnica Profissional, Diploma, Avaliação, Cumprimento das Exigências Curriculares e Processo Seletivo do Ensino Superior.

Para o secretário de Estado de Educação de Santa Catarina e presidente do Consed, Eduardo Deschamps, a mobilização em torno da reformulação do ensino médio é uma das prioridades do conselho. “O Consed possui seis eixos de trabalho e um deles é o de reformulação do ensino médio. No bojo das discussões em torno da reformulação desta etapa do ensino acreditamos se fazer necessária uma discussão ampla, e que já está sendo realizada, sobre formas de tornar o currículo mais atrativo, que ora apresenta-se desconectado das necessidades dos estudantes; sobre formas de buscar uma maior integração entre a formação docente (universitária) e as redes básicas de ensino e também sobre a necessidade de tornar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mais flexível com parâmetros de avaliação diferenciados”, citou Eduardo Deschamps.

Secretário de Educação de Santa Catarina e presidente do Consed, Eduardo Deschamps, falou em medidas que podem ser adotadas para reformular o ensino médio.

O presidente do Consed falou ainda sobre a necessidade, neste processo de reformulação, de uma atenção diferenciada à questão da conectividade digital. “A conectividade pode e deve ser aliada do processo de desenvolvimento educacional. As diretrizes que até pouco tempo tínhamos sobre o uso do aparelho celular em sala de aula, por exemplo, devem ser todas revistas pois, anteriormente, tais diretrizes eram seguidas quando a comunicação por intermédio destes aparelhos se davam unicamente por voz e hoje é sabido que a função deles é muito mais ampla. Devemos, portanto, observar a conectividade como um instrumento facilitador do ensino, especialmente no ensino médio”, conclui Eduardo Deschamps.

Realizado em Manaus e patrocinado pelo Itaú BBA a reunião do Consed contou, também com a participação do secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, representantes do Movimento Todos pela Educação e demais conferencistas.

Com informações da Agência Brasil