Racismo na escola? Não!

Distrito Federal

11.06.2021

Programa Mulheres Inspiradoras torna-se política pública e fortalece o enfrentamento às violências


O Programa Mulheres Inspiradoras idealizado por Gina Vieira estimula práticas de leitura e escrita autoral por meio de obras literárias escritas por mulheres. Foto: Dênio Simões/ Agência Brasília

Na infância, o instrutor de autoescola Carlos* estudou em uma escola pública em Taguatinga e, logo, conheceu o racismo. As crianças o chamavam por apelidos pejorativos e, por não revidar, tornou-se o alvo preferido dos ataques. Com o tempo, ele passou a não gostar da escola, ao descobrir que os alunos nunca seriam repreendidos. Poucas professoras intervinham e quando o faziam era apenas para dizer que ele não devia se importar. “Mas eu me importava e me importo. Foi muito difícil enfrentar sozinho o racismo na escola”, desabafa Carlos.

Para Gina Vieira Ponte, professora e idealizadora do premiado Programa Mulheres Inspiradoras (PMI), o papel da escola é fundamental para combater o racismo. “A escola é parte da produção de uma estrutura racista. O racismo é estrutural porque tudo o que nós somos como país, foi fundado, organizado e estruturado, a partir do racismo”, explica.

No episódio desta semana do podcast EducaDF, conversamos sobre a importância da educação antirracista e as novidades do Programa Mulheres Inspiradoras idealizado pela professora Gina Vieira Ponte. Confira o episódio nas plataformas de áudio.

Engana-se quem acredita que promover o Dia da Consciência Negra anualmente é o bastante para mudar a realidade. “Não se desconstrói o racismo só no espaço escolar, o racismo é institucional, ele está naturalizado dentro das instituições públicas e privadas”, afirma Gina.

Gina Vieira: “Precisamos de uma educação antirracista porque a escola é racista”. Foto: Agência Brasília

Para promover uma educação antirracista e antissexista, ou seja, que almeja a equidade entre homens e mulheres, Gina acredita que a escola deve assumir que a nossa educação tem uma base essencialmente colonial. “É autoritária, bancária, instrucionista, machista, patriarcal e racista. Isso está na base da nossa educação. Então o desafio é a escola admitir que é parte dessas estruturas injustas e pelas suas práticas endossa essas estruturas. É preciso assumir uma postura crítica sobre nosso trabalho e nos qualificar para intervir de maneira ética e responsável”, destaca.

Novidades no Programa Mulheres Inspiradoras

Desde 2014, o PMI tem se destacado nas escolas públicas do DF. O programa estimula práticas de leitura e escrita autoral por meio de obras literárias escritas por mulheres. Os estudantes leem cerca de sete obras que possibilitam a discussão de temas contemporâneos como equidade de gênero e masculinidade tóxica. No momento, a iniciativa é desenvolvida em mais de 50 unidades escolares. O Programa tem reconhecimento internacional e nacional e já venceu diversos prêmios educacionais.

Um dos diferenciais do PMI é o fato de que os professores passam por uma formação para subsidiá-los na elaboração e desenvolvimento de projetos em suas unidades escolares no escopo do PMI.O curso é oferecido pela Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação (EAPE).

A professora Mayssara Reane que trabalha na formação dos docentes destaca a novidade deste ano. “O PMI agora é parte da política de valorização das meninas e mulheres e enfrentamento às violências. A garantia de formação anual para docentes do DF significa o reconhecimento público do Estado sobre a importância de priorizar ações que respondam às necessidades sociais”, comemora.

* O nome foi trocado para preservar a identidade do entrevistado.

** A foto do Programa Mulheres Inspiradoras foi produzida antes da pandemia de Covid-19.


Por Aldenora Moraes | Ascom/SEEDF