Tecnologia
28.08.2015A Fundação Lemann, a Comissão de Educação da Câmara dos
Deputados, o Instituto Inspirare e o Instituto Península, realizaram nesta
quarta-feira (26/08), o Seminário Escolas Conectadas: equidade e qualidade na
educação brasileira, em Brasília.
O evento contou com a presença do presidente do Consed, Eduardo Deschamps; do presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, deputado Saraiva Felipe; do deputado Alex Canziani e também do diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne. A deputada professora Dorinha Seabra Rezende, autora do requerimento do seminário, também participou.
O secretário de Educação de Santa Catarina e presidente do Consed, Eduardo Deschamps disse que é necessário “um salto de qualidade para a educação brasileira, pois o modelo de escola do século 19 não dá mais conta”.
Segundo Deschamps precisamos estabelecer uma legislação clara e “caminhos para que os estudantes possam ter acesso e possam fazer uso das tecnologias na sala de aula”. Para o presidente do Consed as novas tecnologias devem estar inter-relacionadas com novas formas de ensino aprendizagem que se adaptem aos alunos.
O professor Eduardo apontou que a tecnologia, em especial a conectividade, é essencial, entretanto questionou os presentes com a reflexão: “Como fazer chegar na escola formas tecnológicas que contribuam para a aprendizagem? Na verdade, é preciso estabelecer uma proposta adequada e viável para disponibilizar as condições para garantir conectividade, pois os próprios alunos e professores farão a revolução tão esperada”.
A deputada professora Dorinha pontuou que o desafio dos educadores de hoje é ensinar os alunos a aprender, a gerir a gama de conhecimentos que é produzida contínua e diariamente, e serem eficientes num contexto em que o aprendizado acontece por meio de ações continuadas, que não se limitam mais às oportunidades compartilhadas pelo professor dentro da sala de aula tradicional. Segundo Dorinha, esse debate que terá grande efeito no Brasil, em especial na educação. “Ao levar essa discussão para a educação, nós poderemos iluminar as cidades e suas escolas com alta conectividade”, disse.
O deputado Saraiva Felipe, presidente da Comissão de
Educação da Câmara dos Deputados disse que “desafio dos educadores de hoje é
ensinar os alunos a aprender, a gerir a gama de conhecimentos que é produzida
contínua e diariamente, e serem eficientes num contexto em que o aprendizado
acontece por meio de ações continuadas, que não se limitam mais às oportunidades
compartilhadas pelo professor dentro da sala de aula tradicional”.
Segundo o parlamentar “também não podemos cair no raciocínio simplista de achar
que a simples introdução de computadores e banda larga nas escolas irá elevar a
qualidade da educação. É preciso um projeto pedagógico em consonância com as tecnologias
digitais, é preciso professores abertos e capacitados para usarem os recursos
disponíveis, é preciso, enfim, o engajamento de toda a comunidade educativa”.
O diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, afirmou que para quem observa a situação da educação brasileira no dia a dia “sabe que não basta o incremental. É preciso muito mais”. Ele reconheceu os avanços no debate e nas ações a partir do PNE e mais recentemente com a construção da Base Nacional Comum – BNC a qual considera “a espinha dorsal”. Contudo, para ele “a conectividade é essencial no mundo atual”.
Denis destacou que a conexão de banda larga em todas as escolas brasileiras “é um passo importante para a equidade de acesso a conteúdo e aprendizagem”, disse.
Estiveram presentes os secretários de Educação do Ceará, Maurício Holanda, e de Minas Gerais, professora Macaé Evaristo. O evento contou ainda com a presença de parlamentares, secretários de educação municipais, Ministério da Educação (MEC), Conselho Nacional de Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entre outros órgãos responsáveis ou com interesse nos temas de educação.
Painel de debate “Universalização do uso da tecnologia na educação”
O evento teve como ponto alto o painel: “Universalização do uso da tecnologia na educação: como e por que conectar todas as escolas?”, com a participação do diretor adjunto do Escritório de Tecnologias Educacionais do Departamento de Educação dos Estados Unidos, Joseph South e do gerente geral do Plano Ceibal, do Uruguai, Gonzalo Pérez, que apresentaram estudos de casos dos respectivos países.
No caso Americano, Joseph South, diretor adjunto do Escritório de Tecnologias Educacionais do Departamento de Educação dos Estados Unidos, apresentou exemplos de introdução de tecnologia nas escolas americanas, inclusive na zona rural, em que – principalmente os alunos – e professores inserem os recursos tecnológicos no dia a dia da sala de aula.
O diretor citou o caso de alunas, de apenas 13 anos, que projetaram e fizeram uma prótese para a mão de uma colega de classe utilizando uma impressora 3D e também citou outro exemplo que transcende o espaço escolar. Neste caso um garoto com câncer que passou a viver em um hospital bem longe de sua escola, o que o impossibilitava frequentar as aulas, motivou colegas e professores “inovassem numa solução para que o garoto frequentasse as aulas remotamente através de uma transmissão de vídeo ao vivo de um robô”.
Segundo ele são exemplos práticos do uso tecnológico, em que alunos e professores juntos produziram resultados e aprendizado. “É preciso repensar a educação a partir dos usos das tecnologias. É preciso realizar a aprendizagem utilizando-se dos recursos disponíveis”.
Para Joseph a realidade não comporta modelos estáticos, “não é questão de laboratórios de tecnologia, mas a completa inserção da tecnologia na sala de aula”, apontando em seguida fatores importantes como a disponibilidade de dispositivos acessíveis e interativos; o desenvolvimento técnico-profissional para dos professores; o suporte por meio de novas orientações em guias para as áreas de infraestrutura, desenvolvedores e para os próprios professores.
O diretor finalizou com uma equação prática para implementação de uma escola moderna e transformadora: “Banda larga + dispositivos = aprendizagem + liderança = transformação da escola”, apontou.
O caso mais próximo do Uruguai, o gerente geral do Plano Ceibal – projeto do governo uruguaia, Gonzalo Pérez, cito que o programa aumentou a frequência dos alunos nas escolas, o acesso à internet e a computadores, diminuiu a exclusão digital também dos adultos e tem contribuído para melhora na educação infanto-juvenil.
Gonzalo explicou que o programa é baseado na tríade “Inclusão, Tecnologia e pedagogia”. Segundo o gerente o plano impôs uma mudança no Uruguai, que avança na substituição da clássica sala de computador e tem optado por transformar as escolas em um laboratório tecnológico, por meio do projeto dos centros LabTED.
A sigla do projeto LabTED significa Technologies Laboratório Digital e tem como princípios “a Colaboração; Aprendizagem baseada em projeto; Criatividade e pensamento lógico e Trabalho interdisciplinar”, disse o representante uruguaio. Para ele os centros mudam a concepção da escola “transformando-a em um espaço de trabalho que promove a aprendizagem colaborativa, a integração da tecnologia com o cognitivo e estimulação o pensamento lógico e a criatividade”. Ele ainda listou que o programa possui diversos projetos como: “Robótica Educativa, Programação e videogames, sensores físico-químicas, os códigos QR, Impressoras 3D, realidade aumentada, Audiovisual, Experimentação Sonora. ”
Por fim, ele apresentou resultados das avaliações que indicam, a partir do relato de professores, que os “alunos que participam do LabTeD´s não abandonam suas escolas e permanecem na educação formal”, destacou.
Proposta para o Brasil
Durante o seminário também foi apresentada uma proposta para Plano Nacional de Conectividade na Escola, pelo diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), Ronaldo Lemos, que apontou a necessidade de revisão do modelo atual de oferta de acesso à internet para as unidades de ensino. Para ele é necessário o estabelecimento de um Pacto Nacional pela Conectividade nas Escolas, “capaz de redefinir as metas e as atribuições dos entes federativos, para viabilizar o desenvolvimento e a implementação de soluções técnicas e econômicas capazes de transformar desafios em realidade”.
O documento-síntese foi distribuído durante o evento, que marcou o lançamento da campanha, e foi construído com a colaboração de cerca de 30 especialistas ligados ao poder público, à academia, empresas, organizações sociais e comunidade escolar, articulados pela Fundação Lemann, Instituto Inspirare, Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio e Nossas Cidades.
Lemos destacou durante a fala que o projeto poderá acontecer em um prazo razoável se for objeto de um acordo nacional liderado pelo Governo Federal e assinado por Estados e representação dos municípios. No documento é apresentando alguns princípios para o estabelecimento deste acordo nacional: (1) a universalidade e equidade da política de conectividade nas escolas; (2) a definição de parâmetros de qualidade; (3) a definição das responsabilidades dos entes da federação e do setor privado, em um modelo institucional de gestão robusto e funcional; (4) a garantia de recursos suficientes e permanentes para a implementação e gestão das estratégias.
Campanha Internet na Escola e Especial sobre Tecnologias na Educação
Ao final do evento, ocorreu a apresentação da Campanha Internet na Escola, feita pela diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido, que destacou a necessidade de uma internet rápida que verdadeiramente democratize “o acesso a recursos pedagógicos de qualidade e promove a personalização, permitindo que alunos com diferentes perfis aprendam no seu ritmo e a partir de seus interesses e necessidades”, afirma Penido.
A diretora do Instituto Inspirare aproveito o momento para descrever o processo de participação e mobilização da campanha. Segundo ela, para participar, o site da campanha disponibiliza três ferramentas. “A primeira é um espaço para mandar um email à presidenta Dilma Rousseff, reforçando o pedido por uma internet mais rápida na rede pública de ensino”.
Ela também disse que o site tem um teste de velocidade e conexão que “é o segundo instrumento, adaptado a partir de um projeto bem-sucedido norte-americano”. A terceira ferramenta é uma forma de trazer mais pessoas para a mobilização, ao promover um Dia da Conectividade nas escolas. Os interessados receberão dicas e ideias dos organizadores da campanha para envolver todo mundo nessa missão. Tanto professores quanto alunos podem “puxar o Bonde da Conexão”, finalizou.
com informações da Transformar, assessoria da deputada Dorinha, Fundação Lemann