Projeto de Santa Catarina cria turmas bilíngues em tempo integral em três escolas da rede estadual

Educação Especial

29.04.2021

O ano letivo de 2021 teve a implantação de turmas bilíngues em tempo integral em três unidades da rede estadual: EEB Profª Lea Maria Aguiar Lepper, de Joinville, EEF São José, de Guaramirim e EEB Marechal Bormann, de Chapecó. A iniciativa atende estudantes surdos do 1° ano do Ensino Fundamental, facilitando a apropriação dos conteúdos escolares na língua materna (Libras) e na modalidade escrita da Língua Portuguesa. 

O diferencial do projeto é a construção de um ambiente linguístico que respeita os aspectos específicos da educação de estudantes com surdez, garantindo a presença do professor surdo em todo o processo de aprendizagem escolar, sem a necessidade de tradução ou adaptação. Para essa etapa inicial, nove professores foram contratados: três professores bilíngues (ouvintes e fluentes em Libras), três professores de Libras (surdos e fluentes em Libras) e três orientadores de convivência (ouvintes com fluência em Libras).

Neste modelo, o professor de Libras possibilita aos estudantes surdos um conhecimento que vai ao encontro de experiências visuais. Junto ao professor bilíngue, há o desenvolvimento das competências para o aprendizado dos conteúdos curriculares e, consequentemente, da Língua Portuguesa na modalidade escrita.

“As turmas bilíngues representam um importante passo para aperfeiçoar o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos com surdez. A educação bilíngue garante o melhor aprendizado da Língua Brasileira de Sinais pelos estudantes, facilitando a compreensão dos demais conteúdos que são ensinados em sala de aula”, ressalta o secretário de Estado da Educação, Luiz Fernando Vampiro.

Para garantir o atendimento às especificidades do estudante surdo, a Secretaria de Estado da Educação (SED), em parceria com a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), ofertou em fevereiro uma formação on-line de 20 horas com o objetivo de qualificar todos os profissionais envolvidos no projeto, de acordo com as diretrizes da educação bilíngue.

A iniciativa começou em 2021 com turmas de primeiro ano em uma matriz curricular específica. A proposta é que, a partir de 2022, o atendimento seja ampliado para o 2º ano e assim sucessivamente até o 5º ano. A ideia é que o estudante chegue ao fim dos Anos Iniciais fluente em Libras e tenha se apropriado do português na modalidade escrita.

Organização das aulas

Os estudantes frequentam a escola em cinco manhãs e três tardes da semana. O período em que não há atendimento aos alunos é dedicado ao planejamento das atividades e elaboração de materiais didáticos.

A professora e intérprete Aliane Padilha dos Santos Ristow atua no Ensino Bilíngue da EEB Marechal Bormann, em Chapecó, e destaca o trabalho que está sendo realizado: “Com pouco mais de um mês de aulas, já conseguimos perceber um avanço significativo nos nossos alunos. O período integral é muito importante, pois trabalhamos o Português na modalidade escrita, mas o foco é a própria língua de sinais, que é a língua dos alunos surdos”.

Ela destaca ainda as possibilidades de troca entre o professor ouvinte e o profissional surdo, os dois ao mesmo tempo em sala de aula. “Há alguns momentos em que nos revezamos, mas sempre buscando manter a curiosidade da criança em todo o processo”.

Para orientar e monitorar as práticas pedagógicas cotidianas, o planejamento, as aulas de Educação Física, Arte e espaços de convivência (pátio, refeitório, biblioteca, ginásio, entre outros), há o apoio do Orientador de Convivência Bilíngue, que também está com o estudante no horário do almoço e integra educadores, pais, estudantes e comunidade escolar.

Neusa Maria Souza Boldt atua como Orientadora de Convivência na EEB Profª Lea Maria Aguiar Lepper, em Joinville, e afirma que estar na escola colaborando e levando a Libras para educadores, pais e estudantes é um marco: “Só quem acompanha os surdos sabe o sofrimento e as barreiras que passaram e passam. Este projeto de educação bilíngue encaminha essas crianças para um futuro muito diferente”.

Desenvolvimento da autonomia

Os estudos sobre desenvolvimento da educação bilíngue mostram a importância de adequar as unidades escolares para o desenvolvimento cognitivo, social e intelectual do aluno surdo dos primeiros anos do Ensino Fundamental.

Uma pesquisa da FCEE realizada na rede estadual entre 2009 e 2011 apontou que a atuação em tempo integral amplia as oportunidades de aprendizagem aos estudantes surdos: “Também qualifica o contato e interação com outros sujeitos surdos a fim de desenvolver competências mínimas para o aprendizado dos conteúdos curriculares e, consequentemente, a aquisição da língua portuguesa na modalidade escrita”, pontua o estudo.

Para a gerente de Gestão de Modalidades, Programas e Projetos Educacionais da SED, Beatris Clair Andrade, surdos que estudam em modelos de ensino bilíngues tendem a adquirir sua primeira língua mais precocemente: “Eles conseguem aprender melhor e mais rapidamente os conteúdos curriculares e o mundo que o rodeia, conseguindo se colocar de forma mais segura, desenvolvendo senso crítico e tendo uma participação social mais efetiva”, finaliza.