Paraná
06.11.2015Estudantes do ensino médio de escolas estaduais da região de Campo
Mourão, no Centro-Oeste, participam de um projeto de iniciação
científica único no Estado. Desenvolvido pelo Núcleo Regional de
Educação de Campo Mourão, universidades e colégios da rede privada, o
projeto tem dez anos e já envolveu aproximadamente 300 estudantes de 25
escolas estaduais.
Além do conhecimento científico produzido, o projeto descobriu
pesquisadores e mudou a vida de centenas de estudantes. Todos que
passaram pelo programa chegam à faculdade com um Currículo Lattes
formado e um conhecimento específico que muitos acadêmicos de graduação
ainda não têm.
“Os estudantes que passam pela iniciação científica não param de
estudar, continuam na faculdade e viram pesquisadores. Temos casos de
ex-alunos que já concluíram o mestrado e agora voltaram para dar aulas
como professores, nas redes pública e privada. É um processo completo”,
explicou o professor Ed Carlos da Silva, responsável pelo projeto de
iniciação científica no Núcleo Regional de Campo Mourão.
A secretária da Educação, professora Ana Seres, esteve na região no fim
de outubro e conheceu os alunos que participam do projeto. “Esse é um
tipo de atividade pedagógica que desenvolve o gosto por pesquisas e o
senso crítico nos alunos. Experiências como esta devem ser conhecidas e
ampliadas para outras regiões do Estado”, afirmou Ana Seres.
O projeto já conta a publicação de uma revista científica, que segue
todos os padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O
volume 1 da Revista Educação Básica – Interinstitucional e
Multidisciplinar tem artigos, resenhas, entrevistas e resumos de notas
de pesquisa e práticas pedagógicas.
A revista foi lançada em 2010 e tem trabalhos de estudantes da educação
básica das redes pública municipal, estadual, federal e privada de Campo
Mourão. A publicação foi feita em parceria com a Universidade Federal
Tecnológica do Paraná (UFTPR), Universidade Estadual do Paraná
(Unespar), campus Campo Mourão, e Faculdade Estadual de Ciências e
Letras (Fecilcam).
Para 2016 está previsto o lançamento do volume 2, com trabalhos
desenvolvidos em 2014 e 2015. Além da revista, o projeto também publica
folhetins e jornais sobre as pesquisas. O trabalho exige disciplina dos
estudantes. “Os alunos precisam ter comprometimento, porque não é um
trabalho rápido, leva anos. O próprio processo vai lapidando os alunos”,
explicou o professor Ed Carlos.
EXEMPLOS - A estudante Beatriz de Quadros, de 16 anos, está no 3º ano do
Colégio Estadual Professora Inove Soares Castanharo, de Campo Mourão.
Desde o 1º ano ela desenvolve a pesquisa científica Estudo sobre
Educação Sexual dos Adolescentes das Famílias do Jardim Tropical II,
região em que ela mora e onde fica a escola.
No trabalho, ela fez um questionário para 50 pais e, pelas respostas,
parecia que eles discutiam questões sexuais com os filhos em casa. “Mas a
gravidez de adolescentes na região estava crescendo. Então decidimos
fazer um questionário para os alunos do ensino médio”, explicou Beatriz.
A pesquisa também foi feita com 50 estudantes e as respostas foram bem
diferentes. Dos 50 pais entrevistados, 42 disseram conversar com os
filhos. Já com os 50 estudantes, 38 relataram não ter esse tipo de
informação dos pais.
Depois da definição do problema para a pesquisa, da coleta de dados e da
tabulação dos resultados, Beatriz prepara um artigo científico. “Eu
nunca tinha feito um trabalho assim, no começo achei difícil. A
literatura é totalmente diferente do que a gente conhecia e estava
acostumada”, disse ela. “Esse conhecimento me ajudou, melhorei na
escrita e na leitura. Antes eu era mais tímida, acanhada. Agora tenho
mais desenvoltura para falar.”
Beatriz pretende estudar Psicologia e continuar a pesquisa na faculdade.
Com o trabalho científico ela conquistou um estágio na Unespar, onde
ajuda uma professora que também realiza pesquisas científicas.
A diretora Tânia Aparecida Chrastek Sidinei, do Colégio Ivone Soares
Castanharo, explica que o projeto ajuda no desenvolvimento dos
estudantes. “Eles amadurecem. A pesquisa vai muito além dos muros da
escola, eles saem às ruas”, disse a diretora.
Além do Ivone Castanharo, o projeto é desenvolvido em mais seis escolas
estaduais do núcleo de Campo Mourão. A iniciação científica também mudou
a vida de Jhony de Oliveira Lima, que hoje é assessor administrativo da
prefeitura de Araruna.
Jhony é ex-aluno do Colégio Estadual Princesa Isabel, da mesma cidade,
onde realizou o projeto de iniciação científica sobre o monitoramento do
rio Apiaba.
“Gosto da área de meio ambiente e o projeto ajudou a mostrar a linguagem
científica que eu iria encontrar na faculdade. Quando eu fiz Enem,
dentro de uma sala com 50 alunos do Brasil inteiro, só eu sabia o que
era iniciação científica”, disse Jhony, que se formou técnico em Meio
Ambiente pela UTFPR de Campo Mourão.
Com o Projeto Apiaba Jhony participou de vários eventos nacionais sobre
iniciação científica, sendo duas edições da Feira Brasileira de Ciências
e Engenharia (Febrace) da Universidade de São Paulo (USP).
“Um projeto assim é uma forma diferente de aprendizado, incentiva os
outros alunos a estudar mais e melhora o relacionamento dos estudantes
em sala de aula”, disse Jhony.