Maranhão
17.05.2019Professores de Língua Portuguesa e Artes dos 20 Centros de Ensino da rede estadual localizados em Imperatriz, participaram, na última semana do I Ciclo de Formação Continuada em Literatura e Arte 2019: História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. A formação foi promovida pela Unidade Regional de Educação de Imperatriz (UREI), por meio da Coordenação de Educação da Igualdade Racial (CEIRI).
O I Ciclo de Formação Continuada em Literatura e Arte 2019: História e Cultura Afro-Brasileira e Africana aconteceu, também, no mês de fevereiro e foi organizada por polos, em sua grande parte, com intuito de abranger um maior número de participantes em um único dia e local. A última formação do ciclo foi realizada no dia 10, no Centro de Ensino Integral Tancredo de Almeida Neves (Vila Redenção), que é a 1ª escola de tempo integral de Imperatriz, com a participação de professores e estudantes (líderes de turmas) e ministrada pelas formadoras da UREI, professoras Eró Cunha e Luisa Sousa.
A formação possibilitou socializar sugestões de atividades que podem ser desenvolvidas na escola como, por exemplo, pesquisas de artistas afrodescendentes ou que realizaram obras sobre a temática afro-brasileira nas artes plásticas, escultura ou fotografia; exposições de trabalhos produzidos pelos estudantes a partir de releituras de artistas que tenham como inspiração a temática étnico-racial. Além disso, a partir de exibição de vídeos e músicas, aconteceram debates e discussões em rodas de conversa, sobre comportamentos, preconceitos, discriminação e racismo.
Durante a roda de conversa, o aluno Jhonata Barbosa de Freitas, aluno da 2ª Série do Ensino Médio, questionou que os livros de história não trazem os grandes heróis negros. “Cadê Dandara, Zumbi dos Palmares e tantos outros que lutaram para mostrar o nosso poder e resistência? Acabamos nos sentimos sem representatividade nesses livros”, destacou.
“Precisamos conhecer a história que não está nos livros didáticos, precisamos olhar os heróis que não nos falaram que existem, e que são negros. A nossa busca e perspectiva é que essa história não seja só conhecida pelos negros, mas também pelos não-negros, pelos indígenas, assim como precisamos conhecer e respeitar, porque só valorizamos o que conhecemos. Quem coloniza, conta uma versão da história. Quem é colonizado, conta outra versão completamente diferente, partindo do mesmo momento histórico”, finaliza Eró Cunha.
“Os negros não eram escravos, mas foram escravizados. Quando foram libertos, eles não sabiam ler e nem escrever e não tinham direito a nada, com isso se tornaram escravizados novamente, por uma situação de exploração social”, explica o professor Arthur Nogueira, que é coordenador de Área de Linguagens do CEIN Tancredo de Almeida Neves.
“O sistema de cotas para negros não existe para dividir a população, mas justamente para igualá-la em termos de direitos”, completou o professor Arthur, em sua participação no debate.
“É tão arraigado em nossa cultura, que muitas vezes direta ou indiretamente propagamos atitudes discriminatórias e preconceituosas, moldando comportamentos, vestuários, cortes de cabelo, que são mais aceitos, entre outras coisas. E quando pensamos nos negros, percebemos historicamente o quando sempre foram marginalizados, porque saíram das senzalas e foram direto para as favelas”, argumenta a professora de Língua Portuguesa, Fátima Maria Rodrigues. “Como pensar em moldes ou padrões, se isso não existe quando se fala da diversidade e da diferença?”, questiona a professora Fátima.
A programação desta formação contou com informações sobre a CEIRI, sua origem e objetivos; a importância da Lei 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade Racial; sugestões de trabalhos pedagógicos (relações étnico-raciais na escola) nos componentes curriculares de Artes (Teatro, Artes Visuais, Dança e Música), e Língua Portuguesa (Livros, Filmes, Slam das Minas – poesia de periferia, provérbios africanos, entre outros).
“É importante e necessário que os conhecimentos das Linguagens, seja na Língua Portuguesa ou Arte, sejam plurais. Que tenhamos vários olhares, que não seja um único ponto de vista, uma única fala, uma única vertente, mas que ela seja mais ampliada. Existem muitas possibilidades de atividades para os jovens, seja na dança, no teatro, cinema, música, artes visuais”, conta a professora Eró.
Durante a formação, em outro espaço do CEIN Tancredo de Almeida Neves, aconteceu, simultaneamente, uma exposição de desenhos e fotografias para os estudantes realizarem leitura e pesquisa, a partir de materiais de autores negros e não-negros expostos, com temáticas étnico-raciais: textos, cartazes, faixas, banners, desenhos e fotografias. Grande parte desses materiais foi produzida por estudantes da Rede Pública Estadual, durante os concursos realizados pela CEIRI/UREI, com apoio do CCN Negro Cosme.
CEIRI
A Coordenação de Educação da Igualdade Racial de Imperatriz tem como objetivo implementar a Lei 10.639/03 (que versa sobre o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e que ressalta a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira) e Lei 11.645/08 (que regulamenta a obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino), efetivando a educação para as relações étnico-raciais nas escolas da Rede Pública Estadual – URE de Imperatriz.