Professoras que são mães especiais compartilham experiências e aprendizagens

Tocantins

05.05.2022

Josélia de Lima / Governo do Tocantins

Ser mãe de uma criança com deficiência, seja com síndrome de Down, autismo ou limitações mentais ou com redução de mobilidade, exige habilidades que somente a experiência e o tempo são capazes de mostrar e revela preciosas aprendizagens sobre o ser humano e valores espirituais. Três professoras compartilham suas histórias e desafios na semana do Dia das Mães. São elas, a professora Elizabeth Bezerra de Oliveira, de Porto Nacional, Juliane de Cassia Almeida da Cunha, de Palmas e Luana Arrais Resende, de Araguaína.

A professora Elizabeth Oliveira leciona História e disciplinas eletivas na Escola Estadual Beira Rio, em Luzimangues, Porto Nacional. Ela é mãe de três filhos e de um neto. As suas reflexões mais profundas sobre a vida veio com o Julius Cezar Oliveira Carvalho, 12 anos, que tem paralisia cerebral provocada por anóxia. “É uma síndrome raríssima, talvez a única do Estado do Tocantins tetrassomia 12p ou Pallister-Killian”, explicou Elizabeth. 

Quando o filho nasceu passou 18 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a primeira grande lição, foi sobre o tempo. O tão esperado choro veio quatro dias depois de nascido, ele passou seis dias para abrir os olhos, e só conseguiu amamentar depois de oito dias de nascido. “Foi um processo muito lento, contamos com a colaboração de muitos profissionais para que o meu filho sobrevivesse. E nesse instante, aprendi que a gente não valoriza as pequenas coisas. Também nesse momento, percebi o quanto o choro de uma criança é importante, me fez refletir como eu nunca havia refletido antes sobre o assunto. Aprendi que devemos ser gratos pelo choro de uma criança, este representa saúde, e não devemos reclamar ou ficar impaciente”, comentou a professora Elizabeth. 

Mesmo com uma rotina diária de cuidar do filho, Elizabeth não negligencia as atividades escolares. “Não é fácil ser professora e, ao mesmo tempo, mãe de criança que exige cuidados especiais. A escola tem uma dinâmica que precisa de um professor atuante. Entendemos que até quando pedimos licença do trabalho, interfere na rotina de aprendizagens dos nossos alunos. O mais difícil é quando o filho necessita de atendimento em hospital, em algumas vezes, cheguei à sala de aula para lecionar, depois de ter ficado uma noite em claro no hospital” contou. 

E com a rotina de cuidar do filho, a professora Elizabeth adquiriu vários problemas de saúde, como inflamações diversas na coluna, mas mesmo assim, ela não desiste nunca e diz que cuidar de um filho que apresenta deficiência é uma dádiva que a vida lhe proporcionou.

Outra aprendizagem é sobre o quanto os seres humanos são dependentes um dos outros e nem sempre percebem esse valor. “Julius é dependente da gente absolutamente de tudo, e no final das contas, se formos analisar, todos os seres humanos são assim dependentes de Deus, porque somos vulneráveis, nós não estamos no controle de muitas coisas que acontecem na vida. Meu filho me impulsionou para descobrir muitas coisas, a estudar mais sobre ensino especial, criei coragem para tirar a carteira de habilitação. Então, ele foi um motor para que eu saísse de minha zona de conforto e fosse buscar outros saberes para lidar com esse universo atípico. Sempre digo que ele me ensinou muito mais do que se estivesse numa universidade e só quem tem esse privilégio de aprender somos nós”, disse Elizabeth.

A professora Juliane de Cassia Almeida da Cunha, que trabalha no Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE) Márcia Dias Costa Nunes da Secretaria da Educação há nove anos, e é mãe de Flávio Cunha de Oliveira, 14 anos, com deficiência múltipla, entre elas, o Transtorno do Espectro Autista. 

Enquanto Juliane trabalha e ajuda a cuidar de outras crianças que apresentam alguma deficiência, o seu filho fica numa clínica de terapia intensiva e, duas vezes por semana, ele é atendido pela equipe de profissionais do CAEE. 

E para ajudar o Flávio e às demais crianças que acompanha com orientação educacional, a professora Juliane fez recentemente, uma especialização em parceria com a Secretaria da Educação e Universidade Federal do Tocantins (UFT), sobre o Transtorno do Espectro Autista no Âmbito das Tecnologias. 

Como a professora Juliane tem que dá uma atenção maior ao filho, optou pelas atividades administrativas. Antes, trabalhou na Gerência de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria da Educação e atuou como coordenadora de escola. Agora, ela compartilha suas experiências com outras famílias e está sempre se aperfeiçoando sobre o ensino especial.

Outra professora que aprendeu grandes lições para a vida com o filho é Luana Arrais Resende, que trabalha no Centro de Ensino Médio Castelo Branco, em Araguaína. Atualmente, ela compartilha suas experiências lecionando na sala de Recursos com o atendimento Educacional especializado.

Luana tem dois filhos, Alice de 11 anos e Arthur de 7 anos, que nasceu com Trissomia 21 (Síndrome de Down).  Sobre ser uma mãe ela comenta. “Ser mãe de uma criança com deficiência, eu costumo dizer que é viver uma maternidade mais intensa, porque além dos cuidados diários com o filho, precisamos buscar recursos como terapias e mais cuidados com a saúde”, comentou Luana.

E nos últimos sete anos, Luana esclareceu que vive em constante aprendizagem. “Com a chegada do Arthur, tive a oportunidade de conhecer a educação especial, conciliando os aprendizados que auxiliam no desenvolvimento dele com a minha vida profissional. Daí pude conhecer várias crianças e famílias e perceber a beleza que tem a diversidade humana, que cada um de nós temos nossas limitações e potencialidades”, frisou.

A professora Luana conta que para conseguir exercer bem o papel de mãe e profissional conta com a rede de apoiadores formada por familiares, amigos e outras famílias que vivem a mesma realidade. “No final de tudo o que a gente sente, deseja e o que aprendemos é que somos apenas mãe, sem títulos de heroínas, atípicas, coitadinhas, como mães sempre buscaremos o melhor para o bem mais precioso que Deus nos deu, os nossos filhos, independente de como seja a sua condição. Esse é o maior amor do mundo. Cuidar dos nossos filhos é a nossa grande realização”, finalizou.

No Diário Oficial do Estado do Tocantins, edição nº 6056, de 25 de março de 2022, foi publicada uma Instrução Normativa que trata sobre as concessões para a redução de carga horária de 8 horas para 6 horas, nos casos de pessoas ou membros da família com deficiências.