Paraná
18.04.2024Duas professoras, a pandemia e algumas histórias para contar. Tudo em forma de escrita e ilustração. No Dia Nacional do Livro Infantil, 18 de abril, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) conta a história de duas profissionais da rede de ensino do Estado que transformaram vivências em imaginação, transportando tudo isso para as páginas de duas publicações: “Vovô foi embora, mas deixou muita história!” e “Poemas para brincar nas quatro estações”.
Francine Cruz, professora de Educação Física e técnica pedagógica no Núcleo Formadores em Ação, e Débora Bacchi, docente de Artes (atualmente no Núcleo de Comunicação da Seed-PR) deram vida a uma narrativa contada a partir da visão de uma criança sobre o luto.
“No livro infantil, o ilustrador também é autor, o autor visual, porque ele vai conduzir o enredo por meio de imagens, que é a principal forma para que as crianças possam compreender o que está sendo dito, afinal, elas ainda não reconhecem claramente as letras”, diz Débora.
O texto surgiu de situações reais vividas tanto por Francine como Débora, que perderam os avós na crise da Covid-19. Assim, a protagonista de “Vovô foi embora, mas deixou muita história!” relembra os momentos que compartilhou com o avô e as histórias eternizadas por ele.
“Pela ordem natural da vida, os avós nos deixam antes e representam, em muitos casos, o primeiro contato das crianças com a situação de perda de alguém próximo. Tocar neste assunto com os pequenos não é uma tarefa simples, mas é necessária”, explica Francine.
O livro, subsidiado por leis municipais de incentivo à cultura, da Prefeitura de Curitiba, foi distribuído nas escolas municipais da Capital e chegou às mãos de milhares de pequenos estudantes, que compartilharam, em sala de aula, como vivenciaram suas próprias perdas. “Eles nos contaram sobre a perda de um bichinho de estimação, de algum objeto. Foi uma experiência legal presenciar como cada um reage à leitura e às imagens”, relembra Débora.
Para que a obra “Vovô foi embora, mas deixou muita história!” chegasse ao maior número de pessoas, o conteúdo foi pensado de forma inclusiva, considerando a Lei Brasileira de Inclusão. A fonte ampliada das palavras tem esse objetivo de alcance e as ilustrações fazem parte disso. No Brasil, são mais de 6 milhões de brasileiros com baixa visão ou visão subnormal.
POEMAS – A parceria das professoras Francine e Débora começou com “Poemas para brincar nas quatro estações”, que terá a segunda edição lançada no mês de junho pela editora Donizela, na Feira do Livro de Joinville (SC) nos dias 08 e 09 de junho.
O processo de criação foi semelhante ao da outra obra conjunta porque a história também surgiu de situações cotidianas vivenciadas por Francine, ao lado da filha Helena Sofia, de sete anos. “Um dia cortei uma carambola e ela se admirou como a fruta tinha o formato de uma estrela”, conta. “Uma outra memória é quando estávamos no Interior e ela se admirou porque conseguia ver muitas estrelas no céu, coisa rara na Capital, e isso foi passado para o papel”.
Os textos têm formatos de haicais, poemas curtos da tradição japonesa, que têm o poder de “fotografar um instante em poucos versos”. No livro eles são descritos como brincadeiras com a primavera, verão, outono e inverno. E cada haicai é acompanhado por uma ilustração. “Poesia é brincar com a palavra. Para os adultos, é o convite para ver o mundo pelos olhos da criança. Para a criança, é ter a palavra como companheira de descobertas”, enfatiza Yara Fers, editora e escritora, no prefácio da publicação.
Desde que a paranaense Helena Kolody lançou os primeiros haicais, nos idos de 1940, passando por Leminski e, mais recentemente, por Alice Ruiz, o Estado é destaque neste gênero, atraindo cada vez mais novos adeptos e publicações, e um tema permanente nas escolas, entre os jovens, ganhando inclusive as redes sociais.
Para o poeta e haicaísta curitibano, Alvaro Posselt, responsável pela revisão do livro, “Poemas para brincar nas quatro estações" confirma a maturidade na jornada da autora. “Francine Cruz não saiu por aí escrevendo poemas e os chamando de haicai. Ela mergulhou na fonte. Essa fonte é carregada de sensibilidade, disciplina e vivências, que são a própria alma do poema”, afirma.
TECNOLOGIA COMO ALIADA DA IMAGINAÇÃO - Mesmo depois de anos, a memória afetiva pode contribuir de diferentes maneiras para a forma de enxergar o mundo e o contato das crianças com a literatura faz parte disso. Assim como a migração do processo de editoração e desenho do formato manual para o digital, os recursos tecnológicos mudaram para sempre o cenário literário ao trazer as inovações, mas a sensibilidade, a habilidade e criatividade de quem faz, estas sobrevivem. “A tecnologia facilitou muito o nosso trabalho em termos de agilidade e praticidade, mesmo que em alguns softwares no mercado, o resultado final não se compare ao manual/original, mas os recursos estão aí e devemos aproveitá-los da melhor forma”, afirma o ilustrador de uma série de livros infantis Jocelin Vianna, o Lin, professor de Artes, que atua na Seed desde 2009 brindando leitores e espectadores com seu trabalho.
Na opinião da ilustradora Débora Bacchi, a tecnologia se tornou uma grande aliada da imaginação, mesmo que algumas produções ainda sejam feitas de forma manual. “O processo da primeira versão do livro do vovô, por exemplo, foi todo artesanal, inclusive com recorte, pintura e montagem. Claro que demanda um tempo a mais, mas eu estou acostumada. No entanto, os recursos que a tecnologia nos apresenta para o trabalho, incorporados à nossa experiência com o que é feito à mão, são sempre muito bem-vindos``. opina.