Sergipe
29.01.2021A contação de histórias está na didática de ensino da professora Edilma Silva Santos desde 2011. E foi em 2020, nove anos depois da primeira experiência com essa metodologia, que ela teve o desafio de se reinventar para não deixar seus alunos sem aula, fazendo com que as atividades escolares não presenciais se tornassem cada vez mais atrativas. Educadora da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), do Colégio Estadual Pedro Diniz Gonçalves, em Areia Branca, ela leciona para sete alunos com deficiência do Atendimento Educacional Especializado (AEE), garantindo ainda o acompanhamento por meio de chamadas telefônicas e de vídeos no WhatsApp.
“Os alunos amam. Por isso, ainda no mês de abril do ano passado, fiquei pensando o que eu poderia fazer para amenizar o sentimento de isolamento deles. Aí resolvi contar. Primeiro contei e enviei via Facebook e WhatsApp, mas depois comecei a alimentar o canal do YouTube. Daí alguns colegas também passaram a incluir nas suas aulas quando passaram a ser remotas. E como eu já passava atividades após cada contação, com a obrigatoriedade das Aulas Não Presenciais só fiz dar continuidade”, disse a professora Edilma, ao narrar como tudo começou.
Alinhado ao Plano de Atendimento Individual (PAI), documento construído pela Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura durante esse período, a professora utilizou muitos recursos a fim de aprimorar a metodologia, a exemplo do que pode ser feito para contar uma história que tome a atenção de um aluno e torne fio condutor para uma aula. “Contar história parece bobagem, coisa muito infantil, mas não é. É tão importante quanto outro conteúdo, pois ela abre a imaginação da criança, colaborando para o desenvolvimento da linguagem e cognição”, assegurou.
“As atividades que deixo depois da contação são sugestões e são bem simples, que envolvem todos da família e as áreas do conhecimento. Cada história apresenta-se de maneira singular, tanto nas apresentações dos elementos próprios, ou seja, nos acessórios/recursos que são usados para cada história, quanto nas atividades solicitadas após a contação”, pontuou. Dentre as técnicas utilizadas na contação estão o uso de fantoche, objetos, figuras, desenhos, livros, além de recursos digitais.
Uma história bem contada, aliada aos elementos de cena, como figuras e objetos, é uma marca do trabalho da professora Edilma, o qual pode ser acompanhado no canal do YouTube ´Contação de História com Tia Edilma´. A estratégia pode parecer simples, mas contribui de forma significativa para a evolução dos alunos. “Se eu contasse a história sem recurso nenhum, não ia chamar muito a atenção das crianças. A gente sabe que utilizar recurso em uma aula tem muito mais eficácia e eficiência”, pontuou.
Resultados e reconhecimento
Acompanhar e documentar a evolução dos alunos também é papel do professor da Educação Especial. Com a distância física tudo teve que ser adaptado. “Como as visitas não podem acontecer, elaboro apostila com atividades escritas e deixo na escola para os pais irem buscar lá. Tudo muito simples, tudo muito fácil, até porque os alunos também já participam das atividades que os professores do ensino regular elaboram e também enviam à escola”, frisou Edilma.
Ela acrescenta falando sobre o PAI: “No caso dos professores de AEE, a gente tem esse instrumental, que é elaborado todos os meses. E ainda tem a Ficha de Avaliação Sistemática, na qual colocamos um parecer mês a mês sobre o desenvolvimento do aluno”. “Nessa ficha contém uma caracterização pedagógica do aluno, um pouco do seu histórico, estudo de caso. E em cada mês a gente relata sobre seu progresso. No fim, colocamos um resultado/parecer dessa evolução”, disse a professora, enfatizando que se trata de um processo burocrático, mas necessário.
Para além dos processos formais da vida de professor, Edilma coleciona muitas conquistas e reconhecimentos. Em 2018, a educadora foi destaque com uma contação de história no Prêmio Professores do Brasil, etapa Estadual, de uma escola municipal. Em 2019, ganhou o prêmio Educador de Ouro, ficando em 1° lugar, com trabalho realizado no AEE. “Ano passado, contando a história do Macaco e a Viola, fui classificada para o ‘Quarentena da Gente’, que foi um fomento à produção cultural durante a quarentena, promovido pelo Instituto Banese, em parceria com o Governo do Estado de Sergipe, em maio de 2020”, lembrou ela.
Usar a imaginação e a criatividade nunca foi tão libertador neste momento no qual estamos vivendo. Um período que ainda inspira muitos cuidados, mas que fez surgir novas possibilidades e expandir o processo de reinvenção das práticas educacionais. E foi exatamente o fez a professora Edilma Santos, e tantos outros educadores Brasil afora, que, munidos da esperança da certeza do reencontro, garantiu que ninguém ficasse para trás.
Educação Inclusiva e o distanciamento
A Rede Estadual de Ensino de Sergipe conta com 122 salas de Recursos Multifuncionais, e durante as atividades escolares não presenciais estão atendendo a cerca de 1.335 alunos. Para enfrentar os desafios educacionais impostos pela pandemia, a Seduc, por meio do Departamento de Educação/Serviço de Educação Inclusiva (DED/Seinc), elaborou novas estratégias para nortear o ensino remoto destinado aos estudantes da Educação Especial da rede pública.
Para a diretora do DED, professora Ana Lúcia, é muito importante a continuidade do atendimento aos estudantes da Educação Especial pelos professores das salas de recursos multifuncionais, no momento em que as Atividades Escolares não Presenciais se tornaram necessárias para os estudos. “Reafirmamos o nosso compromisso com a inclusão para não deixar nenhum estudante para trás”, declarou a gestora.
A coordenadora do Seinc, Lilian Alves, explica como se deu esse processo de consolidação das estratégias para ensino. “Construímos o espaço da Educação Inclusiva no Portal Estude em Casa, estruturamos reuniões periódicas com os técnicos de referência da Educação Especial de nossas DREs, com o intuito de direcionarmos, junto às nossas diretorias regionais, o trabalho realizado por nossos professores de salas de recursos multifuncionais, no planejamento, acompanhamento e avaliação processual dos estudantes, por meio de Planos de Atendimento Individualizados e de instrumentais, como a folha de avaliação sistêmica”, concluiu ela, informando que os professores de salas de recursos multifuncionais realizaram e continuam realizando um trabalho de excelência, mesmo durante atividades escolares não presenciais, e a professora Edilma Silva Santos é um dos exemplos de excelência no trabalho realizado em nossas SRM.