Alagoas
27.07.2021Nascido no Município de União dos Palmares, berço do maior Quilombo do país, e de guerreiros e guerreiras como Zumbi, Ganga Zumba, Aqualtune e Dandara, Josimar Gomes da Silva, professor da rede estadual de Alagoas, publica sua segunda obra : “Aspectos interativos da entrevista oral com moradores de uma comunidade quilombola, em Alagoas”, fruto de uma pesquisa coletiva realizada pelo Núcleo de Estudos Linguísticos (Neling), da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), que resultou em sua dissertação de Mestrado, pelo Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística (PPGLL), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). O livro destaca a riqueza cultural analisada a partir do diálogo entre emissor e receptor, preservando o valor intrínseco na voz negra, a partir de relatos dos moradores da comunidade quilombola de Mariana, localizada em Santana do Mundaú.
"O livro foi pensado durante as atividades do grupo, com o objetivo de catalogar e resgatar a história da comunidade desse povo, contada por eles mesmos. Porque é fácil você saber da história contada por um branco, mas a gente quis dar visibilidade aos negros, contar a história do surgimento da comunidade e da vivência deles, contada por eles mesmos”, destaca Josimar.
O projeto estava responsável por fazer esse trabalho com as seis comunidades quilombolas da região serrana, e o professor ficou responsável pela de Mariana. Em sua obra, ele puxou para sua linha de pesquisa, que é a Análise de Conversação, que tem como base a conversação espontânea (a forma como a gente conversa).
Origem
Filho de humildes agricultores, Josimar fala com orgulho de sua trajetória até chegar à Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), onde, no curso de Letras, apaixonou-se pela pesquisa. Professor há onze anos, três deles compartilhados com a gestão da Escola Estadual Monsenhor Clóvis Duarte de Barros, em União dos Palmares, ele destaca a importância do ensino em sua vida, mensagem que leva aos seus alunos.
“Eu sou filho de pobre, de agricultor, de vaqueiro, de uma mãe semianalfabeta e um pai analfabeto. A melhor coisa que meus pais fizeram para mim foi me colocarem (matricular) na escola. Eu sempre tive a consciência de que com a educação eu teria sucesso", reconhece emocionado.
Escritor Gestor
O escritor gestor é consciente do seu papel enquanto educador, o qual toca com leveza e maestria.
"Sou professor de Língua Portuguesa e sempre incentivei a escrita do aluno. Faço questão de ir dormir tarde, na madrugada, corrigindo a redação do aluno, porque sempre lecionei as séries finais do Ensino Médio e eles necessitam muito escrever a redação do Enem. Então eu coloco a redação no plano de aula desde o início, porque o aluno tem que ter modelos, o aluno tem que saber escrever, ter conhecimento de tudo que faz parte da construção do texto, da compreensão do texto e elementos de coerência e coesão textuais", pontua Josimar.
E, lembrando dos desafios de ser escritor, do alto preço para conseguir imprimir um livro, ele fala com gratidão a importância da sua orientadora, Dra. Maria Francisca, em sua pesquisa e no resultado do seu livro, fazendo uma síntese da sua relação da escrita com a vida.
"Ser escritor não é fácil, não é barato. Eu tive apoio, bolsa para minha pesquisa pela Fapeal. Estudar, pesquisar, tornar-se escritor exige dedicação e muito empenho e eu tento mostrar quanto a escrita é gostosa para o meu aluno. Buscar e mostrar que a vida dele pode mudar. Porque eu sou filho de pobre e eu quero também que os filhos de pobres que eu ensino, que eu administro na escola, saiam de onde estão e alcancem níveis melhores de estabilidade social, financeira e mudem suas vidas e a de suas famílias", garante o professor.
Em 2015, Josimar publicou seu primeiro livro, intitulado "Pesquisas Linguísticas, Literárias e Educacionais", em parceria com amigos pesquisadores. No livro, há artigos acerca das pesquisas realizadas durante a Universidade. O referido livro foi lançado na VII Bienal Internacional do Livro de Alagoas, no stand da Edufal.