Os desafios da Educação em Minas Gerais

22.03.2011

À frente da Secretaria de Estado de Educação (SEE) de Minas Gerais desde o início deste ano, a professora Ana Lúcia Gazzola, precisa ratificar avanços obtidos nos últimos anos, como, por exemplo, a conquista, em 2010, do índice de 86,2% das crianças de até oito anos que já leem e escrevem com autonomia, e avançar em outras áreas, sobretudo no ensino médio.


O desafio é similar ao tamanho da rede pública estadual de ensino de Minas Gerais. De acordo com o Censo Escolar 2010, são 2,39 milhões de alunos (ensino fundamental e médio), 3.795 escolas e 165.257 professores distribuídos pelos 853 municípios do estado. Mas, de acordo com a própria Ana Lúcia Gazzola, o sentido maior da missão de um educador, que tem sempre, grandes desafios a cada início de jornada escolar, é enfrentar e superar as mazelas.


Formada em Letras, com ênfase em Português e Inglês pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com mestrado em literaturas luso-brasileira e hispano-americana, pela Universityof North Carolina at Chapel Hill (Estados Unidos); e doutorado em literatura comparada pela mesma instituição e pós-doutorado pela Duke University (EUA).


Nesta entrevista, Ana Lúcia Gazzola, faz uma avaliação do ensino público estadual, fala sobre dos principais avanços e também dos desafios a serem enfrentados em terras mineiras.


Qual é, na avaliação da senhora, o retrato da rede pública estadual de ensino?


Em todo campo das políticas públicas sociais, e isso inclui, evidentemente, as políticas públicas educacionais, o desenvolvimento é um processo contínuo, sem começo e sem fim. O que encontrei aqui na Secretaria de Educação ao chegar deve ser celebrado por todos os cidadãos de Minas Gerais. Houve uma construção muito expressiva, nos colocando inclusive em primeiro lugar nos testes do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) com relação ao desempenho dos estudantes dos primeiros cinco anos do ensino fundamental. Ao mesmo tempo, foram superadas grandes diferenças. Como indicadores que revelam a qualidade do que foi construído nestes últimos oito anos eu cito os 86,2% de nossas crianças que, aos oito anos de idade, estão verdadeiramente alfabetizadas. Mais do que alfabetização, houve um letramento. Estas crianças leem, escrevem, entendem o que leem. Esse é um número importantíssimo e que vem subindo ano a ano. E temos ainda uma série de bons indicadores, como o aumento dos anos de escolaridade, a redução da evasão escolar, a diminuição da repetência.


Quais são os fatores que a senhora atribui à conquista desses bons resultados?


Em primeiro lugar, foi a coragem de se fazer um trabalho de acompanhamento e monitoramento, praticamente corpo a corpo, em todas as nossas escolas que apresentavam baixos indicadores. Quase metade das nossas escolas recebe o acompanhamento direto por meio do Plano de Intervenção Pedagógica (PIP). Foram criadas comissões multidisciplinares que trabalham sob a coordenação da sede da Secretaria (SEE) e que atuam a partir de cada Superintendência Regional de Ensino, visitando as escolas, entrando nas salas de aula, verificando os problemas no ensino e na aprendizagem, o desempenho pedagógico e didático do professor, identificando os alunos com pior desempenho, trabalhando com eles, encontrando estratégias articuladas com o conjunto da escola para melhorar a performance dos alunos dos cinco primeiros anos do ensino fundamental. Esse monitoramento tira o professor da situação de isolamento. Ele se sente parte de um projeto, se sente acompanhado, amparado, ele recebe instrumentos, é ajudado a dar uma aula melhor, a identificar as melhores estratégias para as dificuldades específicas. Por isso, o PIP é extremamente importante. Em segundo lugar, dentro do programa Estado para Resultados, houve também a coragem de se estabelecer metas para monitorar, escola por escola, superintendência por superintendência, e aplicar os mecanismos de premiação dentro do programa de metas e resultados do governo. É tão interessante o modelo que aquilo que aqui se chama de escola estratégica é aquela que precisa da maior atenção, para ser impulsionada para um nível de melhor desempenho. É uma tentativa de se elevar a qualidade do sistema como um todo.


E quanto à capacitação dos servidores?


O investimento na capacitação dos profissionais da educação foi observado com muita atenção. Criou-se um novo plano de carreira em 2005 e o novo sistema de remuneração (remuneração por subsídio), que acaba de ser adotado, vai representar também um estímulo para os profissionais. Outra ação muito importante foi a implantação dos vários projetos estruturadores que no governo inteiro tiveram impacto de revitalização e inovação. São prioridades estratégicas que foram abordadas sem contingenciamento de recursos. Por isso foi possível dar sustentabilidade a essas intervenções estratégicas que catapultaram a mudança de patamar. Aqui, na Educação, um dos melhores exemplos é o Programa de Educação Profissional, que está sendo extremamente inovador e é um dos nossos carros-chefes para os últimos anos da educação básica.


Além das estratégias pedagógicas e da capacitação de pessoal, é possível afirmar que os investimentos na infraestrutura da rede estadual, como reforma, ampliação e construção de novas escolas, também ajudaram no desenvolvimento da educação em Minas?


Claro. Hoje nós sabemos a situação da infraestrutura de quase todas as escolas da rede. Eu gostaria que a gente pudesse dizer, ao fim desse ano, o seguinte: já fizemos todas as grandes reformas e agora vamos fazer manutenções, pequenas reformas, ampliações e construção de novas escolas. Entre 2003 e 2010, foram investidos R$ 1,25 bilhão. Hoje, não temos escolas sem rede elétrica, não temos escolas sem água tratada, não temos escolas sem banheiros e as escolas da rede estadual têm um laboratório de informática.


E quanto ao futuro. A senhora fez um balanço positivo dos últimos anos, mas quais serão as metas dos próximos anos?


A partir de agora, é preciso realizar novas intervenções e temos quatro grandes prioridades. Mas, primeiro, não podemos perder o patamar que já se atingiu. É preciso manter as ações desenvolvidas nos primeiros cinco anos do ensino fundamental. Por isso, é preciso dar sustentabilidade ao PIP I (Plano de Intervenção Pedagógica), mas ao mesmo tempo não podemos parar no quinto ano. É preciso avançar e por isso iremos implantar o PIP II nos anos finais (sexto ao nono ano). Isso quer dizer que todo o ensino fundamental será monitorado e acompanhado e nós localizaremos as dificuldades para nelas intervir.


A senhora falou no ensino fundamental. Mas e o ensino médio?


O ensino médio é nossa segunda prioridade, não menos importante. Essa é a nossa grande área de fragilidade. Nós não temos dados sobre o ensino médio com a mesma clareza que temos sobre o ensino fundamental. Outro ponto é que há um contingente muito grande de oferta de ensino médio no turno noturno. O aluno que não trabalha durante o dia e frequenta aulas à noite, na faixa etária de 14 a 17 anos, tem outros atrativos que entram em conflito com a escola. É mais fácil manter uma criança que um adolescente na escola. Por isso, o aluno que não trabalha deve estudar prioritariamente durante o dia e isso tende a reduzir a evasão. Tudo indica que nós precisamos aumentar a oferta no matutino e no vespertino.


E já que a senhora falou da questão do noturno e dos alunos que trabalham durante o dia, há alguma estratégia de se relacionar o ensino médio ao ensino profissional?


Sim, é preciso trabalhar com as variáveis da atratividade do ensino e a possibilidade real do emprego. O ensino médio e o ensino profissional serão prioridades claras em todo tipo de intervenção que nós pudermos fazer para reduzir a evasão, diminuir a repetência, aumentar a qualidade, criar projetos inovadores e aumentar a relação do ensino médio com a questão da empregabilidade. Nesse sentido, o Programa de Educação Profissional é extremamente importante como instrumento de acesso a oportunidades.


E quanto à terceira prioridade?


Na verdade, não há uma ordem entre as prioridades que indique que uma é mais importante do que a outra. A divisão é uma questão didática. A nossa terceira prioridade será uma estratégia agressiva de formação e capacitação para os profissionais da educação. Vamos criar a Escola de Formação, que deverá promover desde aquela capacitação que impacte o exercício profissional no sentido estrito até a capacitação que melhore as condições de gestão, que amplie a visão de mundo dos profissionais da educação em Minas. A Escola de Formação foi pensada para ter uma sede no antigo espaço do órgão central da Secretaria de Estado da Educação, no bairro Gameleira, em Belo Horizonte. Mas lá é um espaço com capacidade para 400 pessoas. E nós somos 220 mil profissionais, por isso a melhor estratégia é que a Escola de Formação funcione por meio do ensino a distância, embora tenha uma sede e tenha também cursos presenciais. Poderemos ter instituições conveniadas, em uma grande rede. A capacitação chegará às nossas 3795 escolas. Isso significa que, sem sair da escola, o profissional poderá ser capacitado.


Chegamos, então, à quarta prioridade...


Pois é, a quarta prioridade, nem mais e nem menos importante do que as outras, é ampliar em muito a interlocução com todos os atores envolvidos na questão da educação. Desde a nossa relação com o governo federal, com as prefeituras e municípios – que são nossos principais parceiros –, com secretarias e órgãos do nosso governo, com as famílias e alunos, com a comunidade da rede estadual – superintendentes, equipes das superintendências, diretores, secretários, professores, inspetores, funcionários técnicos, funcionários administrativos, funcionários de apoio. Enfim, todos. Também queremos uma melhor interlocução com os sindicatos que representam os trabalhadores da educação, com a sociedade civil, com as empresas que podem contribuir com nossos projetos. Não é um desafio fácil, mas é um bom desafio.


Por: Agência de Notícias da Secretaria de Estado da Educação