Educação Pará
08.03.2018Maria da Silva Trindade tem 91anos de idade e muito gosto em aprender. Tanto que ela frequenta as aulas da 2ª etapa (Ensino Fundamental I e II) da Educação para Jovens e Adultos (EJA) na Unidade Especial Abrigo João Paulo II, em Marituba. As aulas são viabilizadas pelo Programa Classe Hospitalar da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) nesse polo de atendimento da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Dona Trindade é uma mulher acostumada a vencer desafios e conta com apoio de outras mulheres para continuar seu aprendizado na vida.
Ela nasceu em Macapá (AP), e aos 15 anos de idade foi identificada como portadora da hanseníase, em uma época em que não havia o suporte médico disponível hoje em dia para combater a doença. Maria Trindade veio para Belém em busca de tratamento.
"A minha família era muito pobre. Não tinha condições de estudar. Eu só tinha três vestidinhos e andava descalça. Éramos nove irmãos”, conta. O pai de dona Maria trabalhava na extração de madeira e a mãe morreu precocemente.
Em Belém, Maria da Trindade morou por dez anos na antiga Colônia de Marituba, antes de dar lugar ao Abrigo João Paulo II. A colônia funcionou de 1942 a 1983. No tempo da colônia, os cidadãos ficavam isolados das pessoas, porque não existia a cura da doença.
Trindade conta que depois da Colônia de Marituba ela foi morar, por 20 anos, na Colônia do Prata, em Igarapé Açu. Ela mora no Abrigo há 20 anos, e é a moradora mais antiga desse espaço onde são atendidos 38 cidadãos idosos.
“Eu não pude estudar quando adulta. Só agora. Trabalhei como enfermeira, lavadeira e empregada doméstica. Fiz um pouco de tudo”, relata a mãe das enfermeiras Conceição e Raquel.
Aprendizagem contribui para integração e bem estar dos idosos no abrigo
Maria da Trindade gosta de estar na sala de aula da EJA que funciona em um dos blocos do abrigo. “Eu gosto de pintar, desenhar, de aprender a ler, escrever, trabalhar textos”, declara. Ela utiliza, inclusive, computador na aprendizagem.
Por ocasião do carnaval, Maria da Trindade e outros alunos confeccionaram auto retratos a partir de fotografias e uso do computador. Trindade também faz trabalhos de pintura e aprecia uma boa conversa sobre o clube do coração, o Paysandu.
A professora de referência do Classe Hospitalar no Abrigo João Paulo II, Ediana Barbosa, informa que dona Maria da Trindade encontra-se na alfabetização. “Nós atendemos 14 alunos aqui no abrigo. A escola contribui com o bem estar deles, aumentando a autoestima, possibilitando que eles se redescubram, alfabetizando, inclusive, com o acesso à informática”, pontua. O Classe Hospitalar atua no abrigo desde 2013.
Além de Ediana Barbosa, as professoras Micheline Banhos e Ana Rita Fontes, do Classe Hospitalar/Coordenação de Educação Especial da Seduc (Coees), a diretora do abrigo Milene Borges e a cuidadora Edivânia Costa fazem parte do dia a dia de dona Maria da Trindade. “A mulher tem muito valor. Ela é dona de casa, trabalha fora ou tem outra atividade em casa e cuida dos filhos. A educação ajuda muito a mulher a aprender mais, a crescer na vida”, finaliza Maria da Trindade, com um sorriso vitorioso no rosto.
Texto: Eduardo Rocha (Ascom Seduc)
Fotos:Rai Pontes (Ascom Seduc)