Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais
02.04.2019O despertador toca todos os dias antes do sol nascer, mais precisamente às 4h45, na casa de Leila Cristina Ferreira Dias, de 17 anos. Essa é a hora em que ela acorda e se prepara para fazer o trajeto de Sabará, onde mora, para Belo Horizonte, onde é aluna do curso de Biomedicina, na Universidade Estácio de Sá. Há poucos anos, fazer uma faculdade era uma realidade muito distante para Leila. Hoje, ela sonha em ir muito mais além.
Como Leila, diversos outros jovens da rede estadual de ensino de Minas Gerais têm conseguido ingressar na faculdade, traçando um novo destino para suas vidas. Leila e outros estudantes de escolas estaduais que hoje estão numa universidade têm um ponto comum: participaram do Programa de Iniciação Científica da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE).
Despertar os alunos do ensino médio sobre a importância dos estudos além da Educação Básica tem sido um dos resultados mais importantes do programa estadual de iniciação científica. Esse trabalho consiste em realizar projetos de pesquisa, buscando um aprendizado diferente do ministrado dentro das salas de aula. Eles se movem à procura de conhecimentos adicionais, ampliando seus horizontes, pensamentos e desenvolvimento, tanto acadêmico como profissional.
Foi exatamente assim que aconteceu com Leila, integrante de um grupo de 12 alunos da Escola Estadual Professor Zoroastro Vianna Passos, de Sabará, que desenvolveu um projeto de pesquisa nos Núcleos de Pesquisas e Estudos Africanos, Afrobrasileiros e da Diásporta (Ubuntu/Nupeaas), vinculado à SEE. O tema do projeto foi “Empoderamento de Alunos Negros para o Mercado de Trabalho”.
O trabalho final chegou a ser apresentado via Skype em um congresso internacional em Portugal e mereceu a atenção do rei da cidade nigeriana de fé, Oba Adeyeye Enitan Ogunwusi, que foi a Sabará, no ano passado, conhecer o projeto de iniciação científica feito pelos alunos da EE Prof. Zoroastro Vianna Passos, coordenado pelo professor orientador Helder Junio de Souza.
Sonho possível
Leila conta que sempre estudou em escolas da rede pública de ensino e que o interesse de ingressar no Ensino Superior ganhou força quando se tornou pesquisadora do grupo de estudos “Empoderamento de Alunos Negros para o Mercado de Trabalho”.
Ela conta que o projeto abriu seus olhos para um futuro possível, que é o fazer um curso superior. “Além de nos motivar a buscar o nosso lado de pesquisadores, o projeto me despertou para vários aspectos da minha vida. Hoje estou na faculdade, mas já penso em ter cargos relacionados a pesquisa e desenvolvimento na área da ciência, da biomedicina”, afirma a estudante, primeira de sua família, entre pais e irmãos, a ingressar no ensino superior.
Leila, que se diz de temperamento tranquilo e de fácil socialização, sabe que tem muito caminho a percorrer, além daquele que faz diariamente entre Sabará e Belo Horizonte para continuar seus estudos. “Quando coloco algo como objetivo, tenho muita disposição para correr atrás. Estudo em casa três horas por dia para conseguir acompanhar o ritmo da faculdade, estou em busca de um emprego e também na tentativa de conseguir me adaptar à nova rotina o mais rápido possível, já que é muito diferente da escola. Mas não gasto meu tempo pensando no problema. Prefiro me dedicar à solução”, diz a futura biomédica.
Tema da pesquisa
O tema do projeto do Nupeaas do qual Leila fez parte foi decidido depois de os alunos da Escola Estadual Professor Zoroastro Vianna Passos assistirem a um vídeo sobre racismo institucional. Eles constataram que há grandes diferenças entre negros e brancos no mercado de trabalho, principalmente no que se refere a cargos de destaque. A partir daí foi desenvolvido o tema da pesquisa, chegando ao “Empoderamento de Alunos Negros para o Mercado de Trabalho”. O objetivo da pesquisa é descobrir maneiras de potencializar cada vez mais os jovens negros para que eles se tornem profissionais bem sucedidos. Confira aqui o artigo final do projeto de pesquisa.
O professor orientador do grupo de jovens pesquisadores, Helder Junio de Souza, explica que depois de aplicar um questionário inicial, chegou-se à conclusão de muitos dos estudantes, apesar de terem interesse, não tinham o objetivo de cursar uma graduação. “Ao longo do projeto, visitamos algumas instituições de ensino superior. A maioria dos alunos nunca tinha sequer se aproximado de uma. Ouvi de muitos deles ‘quero estar aqui’, ‘quero fazer meu futuro aqui’. Isso foi crescendo até eles perceberem que podiam fazer parte desse universo acadêmico, antes totalmente desconhecido e tido para muitos como inalcançável”, afirma o professor.
A superintendente de Temáticas Especiais da SEE, Iara Viana, explica que quando a proposta do Nupeaas foi pensada, percebeu-se que implementar a iniciação científica na Educação Básica ainda era uma realidade muito distante dos estudantes da rede estadual.
“Era como se esses dois campos educacionais não conversassem entre si e eram muito distintos um do outro. Quando conseguimos, com o Nupeaas, aproximar a iniciação científica dos nossos alunos, das práticas pedagógicas em si, percebemos como tanto os estudantes quanto os professores se apropriaram da proposta. O que temos hoje é um resultado brilhante com aprovações nos vestibulares e no Enem”, disse a superintendente.
TICs e Programa de Iniciação Científica
Além do Nupeaas, os alunos da rede estadual têm a oportunidade de se aproximar da iniciação científica por meio do eixo Territórios de Iniciação Científica (TICs), que oportuniza a estudantes e professores a identificação de problemas, da escola ou da comunidade, e a construção coletiva de soluções para resolvê-los ou minimizá-los por meio de Coletivos de Pesquisa nas escolas. Os projetos são distribuídos nas áreas de conhecimento Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias e Linguagens e Códigos e suas Tecnologias. Em 2018, foram criados 33 Coletivos de Pesquisa e Iniciação Científica e foi realizado um encontro estadual de apresentação dos 33 projetos de pesquisa.
Tanto o Nupeaas quanto os TICs fazem parte do Programa de Iniciação Científica da SEE, que objetiva incentivar, apoiar, valorizar e dar visibilidade à produção e compartilhamento de conhecimentos e saberes, a partir do ensino e da aplicação de metodologias de pesquisa e investigação científicas no Ensino Médio das escolas da rede estadual. Os coletivos de pesquisa são compostos por grupos de sete a 12 estudantes e um professor orientador, que recebe concessão de extensão de carga horária para que desenvolva os projetos. Os educadores da rede que orientam as pesquisas são acompanhados por professores-tutores de instituições de Ensino Superior, viabilizados por meio de apoio do Fundo de Amparo À Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), parceiro do projeto.