Estudantes quilombolas comemoram aprovação em universidades públicas

Bahia

02.03.2022

Desistir não era uma opção. Mesmo com a rotina dura de trabalho, a vontade de crescer e ajudar a sua comunidade renovaram a garra e perseverança de uma quilombola firme e dedicada. Nascida e criada na comunidade Laje dos Negros, em Campo Formoso, Érica de Sales Vieira, 18, estudante do Colégio Estadual Quilombola Luís José dos Santos, realizou um sonho dos pais agricultores: ver a filha ingressar no Ensino Superior. Aprovada em Ciências da Natureza, na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), ela promete levar a ancestralidade de seu povo para fora do quilombo e ajudar o local a ganhar novos ares. 
 
“Foi uma verdadeira conquista. Quando soube que passei, veio uma sensação incrível. Senti o orgulho nos olhos de meu pai Elias e da minha mãe Luci. Minha comunidade é bastante carente, creio que a minha aprovação servirá de incentivo para outras pessoas e sonho que a vida deles mude para melhor. Minhas noites foram marcadas pelos estudos. Ficava vendo vídeos explicativos, fazendo resumos e resolvendo exercícios. Aos sábados e domingos, trabalhava o dia todo com o meu irmão em eventos culturais e esportivos. Mesmo cansada, sempre senti que tudo aquilo tinha um propósito e enfrentar as dificuldades me deu força e motivação para entrar em uma universidade federal e ser um motivo de orgulho para a minha comunidade”, relatou Érica.  
 
Mais aprovadas - Filha de uma professora e um agricultor, Nínive Araújo, 18, mora na comunidade quilombola da Cutia, em Boninal, e se destacou no local desde cedo pela facilidade com a oratória e por sua luta para o empoderamento juvenil. A estudante, que concluiu o Ensino Médio no Colégio Estadual Rui Barbosa, passou em Direito na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e sonha com a possibilidade de beneficiar o quilombo com seu conhecimento e mão de obra. “Sempre quis algo voltado para áreas que envolvam questões sociais. Ainda vejo muito preconceito quando falo que sou de uma comunidade quilombola ou da zona rural, mas iremos conseguir o nosso lugar na sociedade. Acordava cedo para pegar o ônibus e, mesmo com o cansaço por ter feito outras tarefas ao longo do dia, sabia que tudo isso valeria a pena. Espero que a notícia positiva motive outras pessoas e que elas ganhem um gás de confiança”.  
 
Na comunidade Quilombola do Agreste, em Tremendal, a estudante Naiara de Jesus, 19, comemorou com a mãe e duas irmãs a aprovação no curso de Ciências Biológicas, na UFBA. Com apenas uma renda para a família, ela acredita que a entrada no curso superior vai gerar novas oportunidades e melhorias para a família. “Minha mãe é pensionista, mantém a nossa família com um salário mínimo. Passar na faculdade será uma porta aberta de possibilidades para o nosso futuro. Minha família foi sempre o grande ponto motivacional para continuar estudando e ela sempre acreditou em meu potencial. Esta conquista é de todas nós”.