Estudantes com deficiência visual celebram conquistas com alfabetização em braille

Pará

12.04.2023

“Henri era um menino zangado, de tudo ele reclamava, mas um dia algo mudou e em um herói ele se transformou.” Este é um trecho de um poema escrito em braille pela estudante Ana Brígida, de 13 anos, que também é atleta medalhista das paraolimpíadas escolares.

Ana estuda na Unidade Educacional Especializada (Uees) José Álvares de Azevedo, em Belém. Há 68 anos a escola estadual é referência no trabalho com pessoas cegas e de baixa visão, no Pará. O colégio oferece apoio pedagógico no contraturno ao ensino regular e recebe, em média, 330 alunos por ano.

“Todos nós temos que ser incluídos, não importa a deficiência. O importante é a inclusão. Entrei aqui na escola com um ano de idade. O que eu mais gosto são as aulas de braille e orientação e mobilidade”, compartilhou a estudante.

“Para entrar na unidade, o aluno precisa estar matriculado em alguma escola estadual. Aqui a gente tem a obrigatoriedade de trabalhar a complementação pedagógica com acesso aos conteúdos para que ele se desenvolva segundo as suas habilidades e potencialidades no processo de ensino e aprendizagem, por isso o braille é importante na vida do deficiente visual, por dar as possibilidades de leitura, escrita e criar o próprio conceito”, explica a diretora da unidade, Lindalva Carvalho.

Em comemoração ao Dia Nacional do Braille, celebrado no último dia 8 de abril, a escola promoveu ontem (11) uma programação com oficina lúdica de braille, exposição sensorial, exibição de filme com áudio descrição e outras atividades para o público-alvo e suas famílias. 

A mãe e professora Ana Santa Brígida assistiu emocionada a filha Ana recitando o poema autoral. “A Ana é só orgulho. É muito melhor que eu, que sou professora de português, que tenho o domínio da língua, mas não tenho a criatividade que ela tem. Participar aqui na escola de todas as atividades trouxe boas vivências para o desenvolvimento dela”, exalta Alice.

Braille no Brasil 

Foi José Alvares de Azevedo quem trouxe o braille da França para o Brasil. O primeiro professor cego do país, ensinou e divulgou o sistema de leitura e escrita usado, atualmente, por milhões de pessoas cegas e com deficiência visual em todo o mundo. Criado pelo Louis Braille, em sua versão mais conhecida de 1837, o sistema, que abriu as portas do conhecimento e da cultura para as pessoas com deficiência visual, já tem quase 200 anos.

Conquistas

Angelina Oliveira, de 14 anos, nasceu com retinopatia da prematuridade é mais um exemplo de onde se pode chegar por meio dessa ferramenta de independência e desenvolvimento intelectual para pessoas cegas. Alfabetizada em braille, aos 4 anos, a adolescente celebra a autonomia que conquistou.  

“O braille é fundamental na nossa vida. Sei ler e escrever, mas de uma maneira diferente. Faço tudo sozinha em casa. Tenho a minha vida normal, minha autonomia. Nós precisamos estar em sociedade como qualquer pessoa”, reforça a estudante.

Ronaldo de Carvalho entrou na escola como aluno, aos 25 anos, para se reabilitar depois de perder a visão por causa de uma doença degenerativa. Hoje, ele é professor e comemora o crescimento dos alunos. 

“Pra gente é motivo de satisfação, é missão cumprida, é saber que eles foram bem conduzidos. Eles chegam aqui bem desorientados, sem perspectiva de vida, achando que é o final, quando na verdade é um recomeço, aí, muda tudo na vida deles”, afirma o professor.