Estudantes da rede pública de Sergipe levam projeto de iniciação científica ao Paraná

Sergipe

14.08.2023

A escola pública sergipana continua alcançando destaque Brasil afora. Dessa vez, o Centro de Excelência Dom Juvêncio de Brito, do município de Canindé do São Francisco, no alto sertão sergipano, levou o nome do estado à Mostra Nacional de Ciência e Tecnologia da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O projeto Farma Sertão foi um dos escolhidos para representar Sergipe no evento, que ocorreu entre os dias 23 e 29 de julho, na Universidade Federal do Paraná. A iniciativa busca produzir medicamentos fitoterápicos de baixo custo à base de ervas nativas.

Nascido em 2022, o Farma Sertão alia o conhecimento popular a resultados obtidos em laboratório. A ideia nasceu em uma disciplina eletiva de iniciação científica, coordenada pela professora de Química Lark Soany Santos. A proposta era identificar um problema local e desenvolver uma solução baseada em recursos disponíveis no município e região.

“Minha geração é a última que está conseguindo ter contato com as informações trazidas por nossos avós sobre as plantas medicinais. Juntamos isso com a alta diversidade de ervas aqui de Canindé e produzimos o Farma Sertão. A ideia é misturar o saber popular de dentro de casa com o conhecimento científico. Para isso, fizemos um aprofundamento para testar a confiabilidade das plantas, por meio de pesquisas documentais”, resume o estudante do 3º ano do ensino médio Diógenes Rodrigues, de 17 anos, que integra a equipe do projeto.

Inicialmente, dez alunos compunham o grupo. Hoje, são cinco. Entre eles está Maria Eduarda Costa de Alcântara, 17 anos, aluna do 3º ano no Dom Juvêncio, e Ana Clara Silva Almeida, de 18 anos, egressa e estudante de Farmácia. Ana Clara explica que a ideia partiu da experiência de seu pai, que utilizou plantas medicinais para se recuperar de um acidente. “Ele fez uma pastinha com sambacaitá e aplicou direto no ferimento. Isso ajudou muito na cicatrização, e despertou em mim uma curiosidade muito grande”, relata.

Participações

Com a participação na Mostra da SBPC no Paraná, o Farma Sertão representou a Feira Estadual de Ciências, Tecnologia e Artes de Sergipe (Cienart) no evento. E esta não é a primeira vez que o projeto viaja nacionalmente. Antes de sair pelo Brasil, no entanto, a iniciativa ganhou repercussão em casa: o Farma Sertão conquistou o primeiro lugar na primeira edição da Feira de Conhecimento e Arte (Feconar) do Dom Juvêncio, em 2022.

O projeto também foi primeiro lugar na Mostra Científica de Inovação, Tecnologia e Engenharia (Mocite), em Arapiraca (AL). Na Cienart, o Farma Sertão empatou em terceiro lugar com outros dois colégios. Em seguida, o projeto ficou em segundo lugar na Feira Territorial de Ciências do Alto Sertão Sergipano, em Nossa Senhora da Glória.

Depois, o projeto foi semifinalista no Desafio Liga Jovem, em São Paulo. Na oportunidade, o Farma Sertão se transformou também em site. “A ideia era criar um protótipo que envolvesse tecnologia e que falasse sobre a sua região. A objetivo do site é que a pessoa possa comparar o seu conhecimento popular sobre uma planta com informações científicas sobre ela, como a sua origem e quais ativos ela contém”, informa Diógenes.

A conquista seguinte foi no Paraná. Em outubro, a equipe do projeto viajará para o Peru, para representar Sergipe na Mostra Científico Latino-americana. Depois, o Farma Sertão irá ao Rio Grande do Sul, para a Feira Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec). O evento é considerado o maior da categoria na América Latina.

Para percorrer tantos locais, a equipe do Dom Juvêncio conta com o suporte do Governo de Sergipe e da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc), que atua no custeio de passagens e hospedagens. “O Estado tem nos apoiado muito, incentivando a iniciação científica e apoiando as nossas viagens. Tudo isso para que a gente consiga mostrar que a educação pública é de qualidade, que no sertão de Sergipe tem ciência e que a gente pode levar isso para o Brasil inteiro e para o mundo”, reforça Lark.

Futuro

Em sua primeira etapa, o Farma Sertão desenvolveu fitoterápicos para combater problemas como inflamação de garganta, dor de cabeça, cicatrizes e diarreia, além de pílulas com ação calmante. Foram elaboradas cápsulas, óleos essenciais e pomadas à base de ervas como camomila, capim santo, sambacaitá e folha de anador. Agora, na nova fase do projeto, a equipe vem estudando os efeitos da sálvia. Para garantir os insumos de sua pesquisa, os alunos do Farma Sertão também estão cultivando um horto vertical no Centro de Excelência Dom Juvêncio de Brito.

“Sempre gostei muito de números, mas foi no Dom Juvêncio, com o Farma Sertão, que eu comecei a me interessar pelo laboratório. Hoje, quero cursar Farmácia. Então, esse projeto mudou a minha vida, o meu futuro. E eu espero que a gente continue tendo sucesso e reconhecimento não só no Brasil, mas também internacionalmente”, afirma Diógenes.