Estudantes da rede estadual utilizam batata doce e capim-braquiária para produzir plástico biodegradável

Paraíba

04.04.2022

O Desafio Celso Furtado foi lançado no ano de 2020, e ao longo dos últimos dois anos diversos projetos inovadores foram desenvolvidos pelas equipes formadas pelos alunos das escolas estaduais. Dentre todos os times, um deles se destacou e acabou virando um grupo de estudo na Escola Cidadã Integral Técnica Francisca Martiniano, na cidade de Lagoa Seca, na 3ª Gerência Regional de Ensino. ‘Os Sapiens’, iniciativa comandada pelo professor Damião Queiroz, passou a integrar mais alunos e trabalhar projetos voltados ao Desenvolvimento Sustentável. E dentre esses, um ganhou destaque: a produção de plástico biodegradável a partir de fibras de batata doce e capim-braquiária.

De acordo com o professor, o grupo de estudos surgiu a partir dos bons resultados alcançados pela equipe no Desafio Celso Furtado, daí em diante, outros estudantes também se interessaram pelas atividades, que têm por objetivo debater a implementar os ‘Objetivos do Desenvolvimento Sustentável’ da Agenda 2030, procurando relacionar essas práticas com a comunidade.

“Percebemos que a iniciativa despertava um envolvimento efetivo por parte dos estudantes, mesmo em período de ensino remoto. Os estudantes participavam dos encontros online e traziam propostas concretas, envolvendo ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática para solucionar problemas do município de Lagoa Seca de forma sustentável. A partir de então, propomos aos estudantes criarmos um grupo de estudo, para que outros pudessem participar e assim, despertar o protagonismo juvenil na escola”, disse Damião Queiroz.

Plástico biodegradável - O professor explicou como surgiu a ideia de produzir um plástico que não seja agressivo ao meio-ambiente, por meio de vegetais cultivados na região. O projeto ainda foi contemplado com o Prêmio de Propriedade Intelectual na Escola pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). “O bioplástico é produzido a partir de uma fonte de polissacarídeos. No nosso caso, utilizamos uma cultura local, a batata-doce. Associado ao amido, utilizamos outros reagentes químicos para formar o filme plástico. A partir de pesquisa em trabalhos anteriores, e depois de vários experimentos, percebemos que associar uma fibra vegetal aumentaria a resistência do plástico. Os estudantes analisaram que a fibra do capim-braquiária poderia aumentar a resistência e ao mesmo tempo agregar valor a esta mercadoria, que em períodos de estiagem é um dos agentes causadores de incêndios em áreas rurais de Lagoa Seca”, explicou o professor.

A estudante Maria Vitória Almeida Santos, egressa da ECIT Francisca Martiniano da Rocha, comentou sobre a importância de participar do grupo ‘Os Sapiens’. “Um dos grandes problemas globais que vivenciamos atualmente é o acúmulo de lixo plástico. Na cidade em que vivo, Lagoa Seca-PB, esse é um problema evidente: a cada esquina vemos um monte de lixo com sacolas e embalagens amontoadas. A criação e utilização de um plástico biodegradável na nossa cidade pode minimizar este problema, visto que por ser biodegradável em apenas alguns meses todo o material que normalmente ficaria amontoado será degradado”, disse.

De acordo com o professor Damião Queiroz, o projeto de desenvolvimento do plástico biodegradável está em fase de prototipagem, mas a expectativa do educador é que os estudantes possam aplicá-lo para confecção de produtos a serem utilizados pelos agricultores e artesãos da região. “O projeto está sendo impulsionado com a inauguração dos laboratórios já construídos e que serão entregues com a reforma da ECIT Francisca Martiniano da Rocha”, explicou o professor.

Os Sapiens - O grupo se reúne semanalmente e, além da produção do bioplástico, os estudantes ainda trabalham no desenvolvimento de outros projetos: ‘Teorema de Pascal aplicado a modelos compactos e sustentáveis de aquaponia e carneiro-hidráulico para produtores locais’, Para uma crise global, resposta local: criação de plástico sustentável no combate às queimadas e ao lixo em Lagoa Seca’ e o projeto ‘SEEDS Bombs: reflorestando com bioplástico’.

Desafio Celso Furtado - O Desafio Celso Furtado, lançado em 2020, surgiu como uma ação da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT-PB), vinculada ao "Ano Celso Furtado", instituído pela Lei nº 11.505/2019, para celebrar o centenário do intelectual paraibano. Furtado é considerado um dos pensadores mais importantes do século XX, e seu legado repercute nos dias atuais. O programa  nasce com a missão de consolidar a atualidade do pensamento de Celso Furtado em consonância com a Agenda 2030, da ONU, com o intuito de estimular o interesse de alunos e professores a desenvolverem pesquisas voltadas à melhoria do contexto em que vivem.

Para o professor Damião Queiroz, o programa é um importante caminho para o protagonismo juvenil. “O Programa Celso Furtado foi a iniciativa fundamental para criação deste grupo de estudo, pois despertou na comunidade escolar e local o protagonismo. Iniciativas como estas, são meios de oportunizar a fala e a participação dos estudantes, pois os coloca como atores principais das ações e sujeitos ativos na construção do conhecimento."