Estudante surda da rede estadual de ensino é aprovada para o curso de Letras na Federal do Tocantins

Tocantins

17.02.2020

Cláudio Paixão/Governo do Tocantins

A estudante surda Bianca Soares da Silva, 17 anos, do Centro de Ensino Médio Bom Jesus, de Gurupi, fez do seu processo de aprendizagem o principal estímulo para querer ser uma multiplicadora de conhecimentos. Ao ingressar na unidade de ensino, ela descobriu a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e este ano conquistou uma vaga no curso de Letras, na Universidade Federal do Tocantins (UFT), Câmpus de Porto Nacional, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

O sonho da estudante foi estimulado por meio das atividades do Programa Escola Jovem em Ação, implementado na unidade de ensino em 2017.  A coordenadora da sala de recurso da unidade de ensino, Vânia Lemes, lembra das dificuldades de comunicação enfrentadas pela estudante. “Quando ela chegou aqui não sabia Libras e tinha muita dificuldade de se comunicar por meio da escrita em língua portuguesa. Assim, começamos um processo de alfabetização junto com os professores auxiliares”, pontuou.

Filha da auxiliar de serviços gerais Carmenluce Xavier da Silva e do açougueiro  Edmundo Nunes Soares, Bianca é a mais velha de três irmãos. Tendo sua mãe como intérprete, ela falou da importância do trabalho realizado pela equipe do Centro de Ensino Médio Bom Jesus. “Foi muito emocionante a forma como fui acolhida pela equipe da escola, foi um tempo tão feliz que, para onde eu for, irei contar boas histórias do que eu vivi lá”.

E Bianca realmente viveu muitas histórias na unidade de ensino, surpreendeu e serviu de inspiração para muitos outros estudantes, como conta a diretora do CEM Bom Jesus, Elisabeth Gama da Silveira. “Depois de um tempo no CEM Bom Jesus, ela se tornou membro de um dos clubes de protagonismo, que os alunos auxiliam uns aos outros nos horários de intervalo. Ela era presidente do Clube de Libras, e ensinava a Língua de Sinais para outros estudantes. Ela sempre participou de tudo, inclusive das aulas de dança”, ressaltou.

Orgulhosa, a mãe de Bianca conta como a filha se relaciona com a música. “A diferença dela para nós que somos ouvintes é que nós ouvimos a música na hora de dançarmos, e ela sente a música, a emoção que toma conta do seu corpo. Ela dança forró e dança muito bem. Nós saímos do município de São Valério para Gurupi. Aqui, ela passou por outras unidades de ensino, mas foi o Bom Jesus que abriu as portas para ela sonhar. Eu só posso ter gratidão por isso”, comentou.

Influenciados por Bianca, de acordo com Vânia Lemes, muitos estudantes, além de participar do Clube de Libras, também começaram a participar de aulas fora da unidade de ensino, na Associação de Apoio e Defesa dos Direitos dos Surdos de Gurupi (Adesgu). “Ela conseguiu fazer com que os seus colegas entendessem a importância da comunicação. Esse é um caminho de mão dupla. Ao mesmo tempo em que esses colegas estão buscando meios de aprenderem Libras, ela alimentou o sonho de ter uma formação para trabalhar ensinando”.

Com a ajuda de sua mãe, Bianca contou o que fez com que ela decidisse pelo curso de Letras com habilitação em Libras. “Foi difícil quando eu comecei a aprender Libras, mas depois foi muito emocionante. Depois do desenvolvimento que eu tive, entrei para o clube e comecei a passar meus conhecimentos para os meus colegas. Senti muito orgulho de mim mesma. Foi aí que eu vi como eu posso ajudar as pessoas a aprenderem Libras, como eu posso aproximar as pessoas. Por isso que eu desejei fazer o curso de Letras”, afirmou. T