Esporte nas escolas de MT desafia evasão e conduz estudantes ao pódio

Mato Grosso

27.11.2025

Stephane Gomes | Com assessoria | Seduc-MT

“Estude para ser alguém na vida”. Se para a maioria dos brasileiros a educação é a principal via de ascensão de carreira, para muitos jovens o caminho da ascensão profissional se divide. O esporte não é apenas um plano B, mas uma ferramenta de permanência do estudante na sala de aula e combate à evasão escolar. Em Mato Grosso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) provam isso.

O estado teve o maior aumento na taxa de frequência escolar de jovens de 15 a 17 anos em 2024, de 83,5%.

A taxa de pessoas na mesma faixa etária matriculadas na escola também cresceu e atingiu 93,1%, o que representa salto de 6% em relação ao ano anterior, deixando o estado em 2º lugar no ranking entre os estados com maior aumento.

Conhecida pelo foco em formação de atletas, a Escola Estadual Governador José Fragelli, também chamada de Arena da Educação, é localizada na estrutura da Arena Pantanal. Ela possui um projeto que une o ensino regular com atividades esportivas diversificadas, para transformar estudantes em atletas de alto nível.

Entre esses estudantes está David Henrique, de 14 anos, que apesar da pouca idade já treina judô há 11 anos. Para ele, a modalidade abre duas trilhas profissionais que exigem disciplina: o caminho da educação e o do esporte.

“Me encontrei mais no judô. Com essa modalidade tem dois caminhos: quero ser professor ou ser atleta olímpico. [Porque] depois que comecei a treinar sério para competir, vi que mudei muito”, contou.

David Henrique, que equilibra o sonho de ser professor e atleta olímpico, faz parte dos 689,5 mil alunos de 4 a 17 anos em Mato Grosso que estão na sala de aula, o que representa 97,7% das crianças e jovens nessa faixa etária.

O universo de estudantes no estado é vasto, incluindo também 97,2 mil alunos de 0 a 3 anos, conforme os dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025.

Esses estudantes estão distribuídos por diversas redes de ensino, sendo a rede municipal a maior responsável (com 49,9% ou 448.583 alunos), seguida pela Estadual (com 35,6% ou 319.666 alunos).

Para garantir que a integração entre esporte e educação seja possível em toda essa rede, a infraestrutura é fundamental. São nas quadras que projetos como o de David florescem:

  • 72,7% das escolas dos anos finais do ensino fundamental em MT possuem quadra de esportes.
  • Nas escolas de ensino médio, esse percentual é maior, alcançando 78,8% com quadra de esportes.

Essa infraestrutura serve de base para os programas estaduais, reforçando o papel da política pública na utilização do esporte como ferramenta contra a evasão escolar.

Para o pai do pequeno judoca David, o professor de judô Thiago Henrique, que ministra as aulas na escola anexa a Arena Pantanal, o esporte, educação e inclusão andam juntos.

“Tem um resultado muito positivo. A disciplina é cobrada a todo momento, tanto dentro ou fora do tatame, [pois] esses princípios ajudam bastante no desenvolvimento deles, pois vivenciam e [evoluem] a socialização também com os outros colegas”, explicou o professor.

O modelo de maior intensidade é o das escolas estaduais de tempo integral vocacionadas ao esporte, totalizando 14 unidades distribuídas por 11 municípios, segundo a Secretaria de Educação (Seduc).

Existe mais de 82 escolas públicas que promovem projetos de “escolinhas esportivas” no estado. Nesses projetos, são disponibilizadas práticas de diversas modalidades, como badminton, futebol, judô e basquete.

Da inclusão ao ouro: retorno de mais de R$ 22 milhões

O sonho da alta performance e da inclusão é sustentado por um investimento direcionado. O judoca Pedro Dantas é a prova do sucesso dessa política: ele conquistou o inédito ouro nas Surdolimpíadas de Tóquio 2025, tornando-se o primeiro brasileiro campeão surdolímpico no judô.

Natural do Ceará, mas com carreira desenvolvida em Mato Grosso e representante da Federação Desportiva dos Surdos de MT, Pedro venceu quatro adversários na categoria até 60 kg para subir ao pódio. O técnico Vinicius Vilela, destacou que o feito é a coroação de um trabalho focado, que exige adaptação constante.

Pedro Dantas foi o 1° brasileiro a ganhar ouro nas surdolimpíadas – Foto: Arquivo pessoal / ICSD

“A maior adaptação no nosso treino é a prevalência da comunicação gestual, temos que ter uma sintonia refinada, para haver uma boa comunicação”, explicou Vilela.

O sucesso de Pedro no tatame internacional tem um pilar fundamental no incentivo: ele é beneficiário do Bolsa Atleta Estadual – Olimpus MT, na categoria Internacional, que oferece auxílio mensal de R$ 2 mil.

Para o técnico Vilela, esse tipo de incentivo é essencial para garantir a permanência no esporte, pois “sem este investimento financeiro, fica muito difícil para os atletas se manterem no esporte, pelos próprios custos que o esporte já tem. A ajuda financeira é fundamental para uma boa vida esportiva, e mais ainda no alto rendimento.”

O investimento de Mato Grosso nessa área cresceu exponencialmente. Entre 2023 e 2025, foram concedidas mais de 1,8 mil bolsas a atletas e técnicos, injetando mais de R$ 22 milhões no programa. Desse total, 136 bolsas foram destinadas à categoria Alto Rendimento/Internacional, garantindo que atletas como Pedro Dantas tenham condições de representar o Brasil e colocar Mato Grosso no topo do pódio mundial.

Se a educação é o caminho para o sucesso, o esporte é a régua que mede a permanência. São nas mais de 80 escolas públicas de Mato Grosso com projetos de escolinhas esportivas que as políticas públicas combatem à evasão.

A exigência é: para ter uma vaga no projeto, o aluno deve estar matriculado e comprovar a frequência escolar. Segundo o professor da escolinha da UFMT, Walber Figueiredo, esse vínculo é inegociável.

“Para ser matriculado aqui tem que estar na escola. A gente cobra o compromisso de participar das aulas, de não faltar, valorizando a vaga que ele tem”, afirmou o professor.

Professor Walber reforça que a importância da prática vai além do aspecto físico, englobando o lado social e afetivo: “O esporte consegue incluir todo mundo, inclusive alunos com autismo, e desenvolve valores como cooperação e amizade.”

O aluno da escolinha Nicolas Ortiz, de 13 anos, tem uma rotina regrada com atividades definidas e essenciais, como a aplicação da insulina logo quando acorda.

Mas o que o desperta realmente, como conta, é quando pisa na quadra de basquete e já sabe que vai gastar muita energia e ter conversas boas com os amigos. Além das quadras, gosta de praticar o Judô e ainda arruma um tempo para ser escoteiro. “Quando eu penso no futuro, me vejo sendo jogador da NBA”, afirma.

Futuro das políticas públicas

Essa base de inclusão e formação é o que alimenta o sonho dos estudantes. A estudante-atleta Pérola Rosa Matos, de 18 anos, que treina ginástica rítmica na Arena Educação, vê o esporte como um escape mental essencial e como uma via de excelência.

“O esporte para mim dá um cansaço físico, mas que me alivia mentalmente. É onde minha mente relaxa”, revela Pérola.

A ginasta aponta que a política pública é a chave para sustentar os talentos que surgem nas escolinhas. Pérola defende mais investimento em infraestrutura específica, como galpões com aparelhos ideais.

“As políticas públicas são muito importantes, porque é o esporte que dá muito retorno e que é muito importante para o crescimento das meninas, [muitas são] menores de 5 ou 7 anos e o sonho delas é ser ginastas”, contou Pérola.

Mato Grosso, que sediou pela primeira vez o Campeonato Brasileiro de Ginástica Rítmica e Gym Brasil no Ginásio Aecim Tocantins, em Cuiabá, reunindo mais de mil atletas.

As conquistas do esporte mato-grossense são sustentadas por um conjunto de políticas públicas estaduais. A base legal é estabelecida pela Lei Estadual do Desporto (Lei Nº 11.105/2020) e o planejamento de longo prazo é definido pelo Plano de Esporte e Lazer (Lei Nº 11.551/2021), com duração de 10 anos.