Escola pública na Maré desenvolve projetos que envolvem a comunidade

Secretaria de Educação do Rio de Janeiro

14.06.2018

A Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) do Rio de Janeiro inaugurou, em fevereiro deste ano, o Colégio Estadual Professor João Borgesde Moraes, no Complexo da Maré. Em quatro meses de atividade, a escola tem se destacado por desenvolver ações que integram moradores, professores e alunos. Um dos principais motivos para o bom resultado e o entrosamento é que o quadro de docentes e funcionários é composto por profissionais oriundos da comunidade, que conhecem e abraçaram a proposta de ofertar um ensino público de qualidade aos estudantes, onde grande parte também é da própria região.

O colégio oferta Ensino Médio em horário integral Profissionalizante em Empreendedorismo, uma novidade que tem estimulado os alunos. Neste contexto, a unidade se tornou um instrumento social de afirmação da identidade dos moradores e pertencimento do território, é o que afirma o diretor da escola, Marcelo Belfort, "cria" da Maré e professor da rede estadual desde 1994.

– Cresci neste território e acredito que devo dar uma contrapartida. Na escola convidamos os alunos a assumirem o protagonismo e a refletirem sua identidade, promovendo a sensação de pertencimento deste espaço e, também, construindo uma pedagogia do território dentro da Maré – destaca.

A aluna Deborah Dominike, de 16 anos, moradora da comunidade há um ano, está na 1ª série do Ensino Médio e nem imaginava o que encontraria quando chegou pela primeira vez no colégio.

– Minha sua visão mudou quando passei a frequentar as aulas. Gosto muito dessa escola e minha mãe também, pois, além de ser perto da minha casa, existe um diálogo muito bom entre minha família e a direção – diz.

Outra aluna que tem se sentido “em casa” no Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes é a jovem Maria Carolina Nascimento, de 15 anos. Moradora da Maré há 9 anos, a estudante já tinha vontade de fazer aulas de Empreendedorismo e encontrou na escola o conteúdo que desejava estudar.

– Quando minha mãe procurou a escola para fazer minha matrícula, a direção comentou que eu teria aula de Empreendedorismo e isso ia me ajudar no Enem e ingressar em uma universidade. Ela me apoiou e percebi que fizemos uma boa escolha. Estou muito satisfeita por estar aqui – reforça.

Parcerias e projetos

O Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes possui parcerias com ONGs e instituições que atuam na Maré, entre elas a Redes da Maré, Luta pela Paz e a própria Associação de Moradores da região. Essa relação tem possibilitado ações que envolvem a comunidade e que despertam o interesse dos alunos pelas aulas e por conhecer a fundo as próprias características da região.

Um projeto de destaque é desenvolvido pelo professor Francisco Valdean, que dá aula de Sociologia. Segundo ele, a ideia da proposta #históriasdamaré é contar relatos sobre a região. Dentro da iniciativa serão realizados eventos no colégio, onde cada um abordará um tema e apresentará uma peculiaridade da Maré.

A proposta já está rendendo bons frutos e, inclusive, um concerto da Orquestra Maré do Amanhã foi realizado no pátio da escola. À ocasião, o conjunto apresentou importantes obras da música clássica internacional e da música brasileira. Os alunos adoraram a iniciativa, principalmente quando a orquestra tocou canções de funk da cantora Anita e “Baile de Favela”, de MC João.

– A ideia foi parte do reconhecimento das potencialidades do território, na qual os alunos tiveram a oportunidade de assistir a uma apresentação artística e, também, começar a aprender a planejar e a organizar um evento cultural – detalha o professor.

O projeto #históriasdamaré, que faz parte da disciplina Projeto Intervenção e Pesquisa (PIP), ministrada pelo professor Valdean, contará com a apresentação de um conjunto de samba; feira gastronômica e produção de textos contando histórias da Maré. O docente, que fez mestrado em Antropologia Visual na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e investigou a produção de imagens fotográficas da Maré, acredita que trabalhar no Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes é seu “projeto de vida”.

– Fui criado na Maré, estudei na comunidade, me formei, dei aula em escolas de Santa Cruz e Parque Anchieta e retornei para ser professor aqui – finaliza.