COMBATE AO ABANDONO
18.11.2019O primeiro passo para o abandono escolar é a evasão, quando o aluno está matriculado, mas, por algum motivo, deixa de frequentar a escola. Posteriormente vem o abandono, onde o estudante não é matriculado nos anos seguintes e larga de vez a escola. O trabalho da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) no combate ao abandono escolar vem sendo cada vez mais eficaz: pelo quarto ano consecutivo, o número de estudantes que deixaram de frequentar a escola vem caindo.
Na rede estadual, o abandono escolar no Ensino Médio, de acordo com dados do Inep [Instituto Nacional de estudo e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira] diminuiu em 40,96%, o equivalente a 6,8 pontos percentuais em comparação com 2015. Naquele ano, a porcentagem de alunos que abandonaram os estudos foi 16,6%, sendo reduzida a 9,8% em 2018. A evolução também pode ser vista no ensino fundamental. Enquanto em 2015 a porcentagem de abandono era de 10,1%, em 2018 foi registrado 4,7%, o que representa uma redução de 53,47%.
Uma das iniciativas que propiciou o retorno aos estudos e um dos grandes cases da educação alagoana, está no programa de Busca Ativa, desenvolvido na Escola Estadual Professora Miran Marroquim de Quintela Cavalcante, localizada no Jacintinho, em Maceió. De 2015 a 2018, a escola conseguiu reduzir a evasão escolar de 57% a quase zero no ano passado. O número ainda continua próximo de zero, graças ao trabalho desenvolvido desde 2015 e que foi iniciado pela então diretora Lidiana Costa – hoje gerente regional de Educação da 1a Gere – e que teve continuidade na atual gestão com os professores Tony Correia e Maurício Vanderlei.
Incentivo - Depois de perder dois bimestres, Jackson de Lima da Silva, estudante do 9º ano do ensino fundamental, voltou a estudar por meio do incentivo da articuladora de ensino Brunna Oliveira. “Estudar é a base de tudo. Infelizmente eu comecei a passar muito tempo no celular e percebi que não estava mais querendo ir para escola. Mexia muito de madrugada e não conseguia dormir. Trocava o dia pela noite. Eu posso afirmar que o Miran é a melhor escola daqui de Maceió e é muito difícil ver uma escola ir atrás do aluno. Vou continuar estudando e pretendo terminar meus estudos aqui”, conclui Jackson, que deseja cursar engenharia.
Diferente de Jackson, o motivo que afastou Rosivania de Araújo Barbosa da escola foi outro. A mãe trabalha vendendo produtos na praia para sustentar a família, e, para isso, precisava de alguém para cuidar do filho mais novo. Rosivania, para ajudar a mãe, ficava com o irmão . “Fiquei afastada durante quatro meses, precisava ajudar em casa. A Brunna e o diretor Tony me deram essa segunda chance, me orientaram e foram atrás. Estou no último ano e pretendo concluir os meus estudos. Os toques que a Brunna me deu foram muito importantes”, afirma estudante da 3a série do ensino médio que pretende cursar educação física.
Família e escola - O trabalho continua e a evolução não foi da noite para o dia. Muitos pais querem que os filhos trabalhem e isso acaba prejudicando o desenvolvimento dos jovens. Para o atual gestor da unidade, Tony Corrêa, apesar das dificuldades enfrentadas, o resultado tem sido bastante positivo, não só pra escola, mas para toda comunidade. “A família estar junto com a escola foi um grande ponto positivo, permitindo que a escola entrasse nos lares para conversar com os pais e alunos. Alguns poucos não apoiaram a iniciativa, mas grande maioria nos acolheu e conseguimos trazer os alunos de volta para a escola”, conta o gestor.
Com a volta dos estudantes, a melhoria na aprendizagem foi perceptível. Para Brunna Oliveira, o trabalho de ir atrás dos estudantes não foi fácil, mas os resultados são gratificantes. “Quando descemos a grota, conseguimos identificar vários problemas, entre eles: o uso do celular, separação dos pais, a necessidade de cuidar de casa ou ajudar os pais no trabalho. A vulnerabilidade social também é um fator que dificulta esse trabalho. Mas focamos em mostrar para o aluno que ele é especial, ele é importante. A escola só existe porque tem o aluno”, explica a articuladora de ensino.
Com a separação dos pais, o estudante do 8º ano do ensino fundamental, Kleverton Machado da Silva, ficou mais de dois meses fora da escola. Uma mobilização para receber o aluno novamente foi feita na unidade de ensino. Brunna diz que Kleverton é um ótimo aluno.
“O recado que eu tenho para quem deixou de estudar é que volte. Estudar e concluir os estudos é muito importante. A educação é a base de tudo”, afirma Kleverton que pretender se tornar professor de matemática, já que tem boas notas na disciplina.
Outros exemplos - No início do ano, a A Escola Estadual Ângelo de Abreu, localizada no município de Olho D’Água da Flores, Sertão alagoano, foi uma das sete escolas brasileiras selecionadas pela Elos Educacional, parceira da Fundação Lemann, para compor um livro digital (e-book) sobre boas práticas de gestão. O plano de ação “Redução do abandono escolar no Ensino Médio” da Ângelo de Abreu foi elaborado e executado a partir do curso de gestão de aprendizagem para diretores escolares ofertado por meio da parceria entre a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) e a Consultoria Elos/Fundação Lemann. A experiência sertaneja foi uma das mais votadas no site da Elos Educacional e vai compor coletânea que terá como foco os desafios cotidianos de muitas escolas públicas do país.