Pará
27.03.2023O som dos instrumentos de sopros e de percussão dão o tom e ritmo da banda de música da Escola Estadual de Ensino Médio Álvaro Adolfo da Silveira, em Santarém, no Baixo Amazonas. A banda tem três décadas de existência e as apresentações de ‘dobrados’ e músicas populares nos eventos locais são familiares da população local, sobretudo, nos desfiles da Semana da Pátria, nos festivais de bandas da região e também nas cantatas de Natal no município.
A Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc) enfatiza que a música é uma ferramenta metodológica de estímulo que ajuda a desenvolver a memória auditiva e a compreender melhor os conteúdos. Também promove a criatividade, cria vínculos e contribui com a cognição, sendo fundamental para o desenvolvimento dos alunos e para impulsionar o processo de ensino e aprendizagem, fora o aspecto da diversão e do prazer proporcionado pela musicalização.
Na escola santarena, a banda foi criada para aproximar a unidade da comunidade local, e hoje integra as principais atividades extracurriculares, servindo como campo da área de linguagem. O estudo começa nas salas de aula, experimentando sensações e movimentos rítmicos, a partir de exercícios de ritmos e melodias, depois segue para os instrumentos. “Este projeto surgiu da necessidade de interação e inclusão dos jovens que compõem o corpo discente da escola. Além de libertar das amarras tradicionais do ensino musical, seguimos formando alunos para o mundo, socializando, tornando cidadãos capazes de resolver diversos tipos de problemas, sejam eles interpessoais, seja aqueles da vida acadêmica e do mercado de trabalho, mesclando escola, família e comunidade”, pontuou o coordenador do projeto, professor Roniclei Vieira, mestre em artes e música pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
O professor Roniclei diz que a banda da escola Álvaro tem um grande propósito: ajudar a salvar vidas. “A música me salvou, por isso que sigo sempre em frente com o projeto. Utilizo parte do meu tempo disponível para ensiná-los, pois é o que gosto. Já tivemos diversos alunos à beira do precipício e o projeto de música os resgatou, são jovens com problemas de depressão, ansiedade e até com questões antissociais, todas essas situações são encontradas na banda”, comentou.
Música e inclusão - Além da questão do ensino, o grupo é instrumento de inclusão e integração de alunos com deficiência. “Nós incentivamos todos a interagir e participar da banda. O próprio preconceito com nossos jovens PCDs ela ajuda a afastar. Por isso enfatizamos a inclusão de todos os jovens. Nós, da coordenação, abraçamos a causa. Nossa equipe se torna mais unida, acolhedora e mais forte. Nossos alunos se tornam seres humanos mais bem preparados para o meio que os cercam”, afirma o professor.
Em 2022, fizeram parte do projeto 120 alunos, este ano o número subiu para mais de 200. Os instrumentos são divididos em sopro como flautas, clarinetes, sax alto, sax tenor, trompetes, trombones, eufônios e tuba e os de percussão, entre eles lira, bumbo, surdo, caixa, pratos e quadritons. O projeto é destinado aos alunos devidamente matriculados nas turmas de ensino médio e funciona no contraturno.
Participar da banda de música foi uma forma de ressignificar um momento de luto e perda para a estudante Beatriz Oliveira Saraiva, do 3° ano. “A banda me ajudou a seguir firme em um momento delicado, que foi a perda do meu pai de coração que também era músico. Por isso é tão importante e significativo fazer parte”, sinaliza a estudante, que é trompetista e, esse ano, completa 1 ano no projeto musical.
O incentivo dos pais da estudante também foi fundamental para entrar na banda e a participação para ela representa a realização de um sonho. “Eles me apoiam de todas as formas possíveis, incentivam desde pequena a prática de outras atividades, como a música. Quando entrei no Álvaro, desejei fazer parte do projeto, porque já tinha contato com a música e queria continuar. Inclusive, pretendo seguir com a música em um futuro não tão distante”, revela a estudante.
Talentos reconhecidos - Rômulo Arruda foi saxofonista da banda quando estudava na escola e hoje faz parte da coordenação de professores da banda. “Tinha vontade de fazer parte antes mesmo de entrar na escola, pois sabia que era uma referência na cidade e que carregava um nome de peso. Um dia, vendo o desfile cívico na orla, vi a banda se apresentar e fiquei maravilhado. Foi ali que criei o objetivo de um dia poder participar dela também. Em 2014 entrei no colégio e no segundo dia de aula o professor Roniclei foi apresentar o projeto e imediatamente fiz minha inscrição”, afirma.
“Quando fui estudante a música abriu portas para mim e me ajudou no meu desempenho tanto na escola quanto pessoal. Apesar de ter me graduado em outra área e de não ter sido um sonho seguir na carreira, a música se tornou um hobby na minha vida e eu não vivo sem”, complementa o coordenador. Para Rômulo, é uma grande satisfação poder representar a banda e passar adiante todo o aprendizado aos novos integrantes.
Texto: Sâmia Maffra / Ascom Seduc