Estudantes com deficiência visual são aprovados em universidades públicas

Ceará

07.03.2023

A rede pública estadual cearense celebra a entrada de dois estudantes com deficiência visual no Ensino Superior. Ítalo Silva Santos, de Icapuí, e Rafael Araújo da Silva, de Senador Sá, foram aprovados respectivamente em Ciências da Computação e Ciências Econômicas, demonstrando que a busca pela realização pessoal independe da existência de alguma limitação física.

Rafael Araújo, de 18 anos, começou a perder a visão aos oito. Morador do município de Senador Sá, o jovem fez os últimos anos da educação básica na Escola de Ensino Médio (EEM) Coronel Apoliano. Agora, prepara-se para cursar Ciências Econômicas na Universidade Federal do Ceará (UFC) – campus de Sobral. A matrícula, inclusive, já foi feita e as aulas estão previstas para iniciar no segundo semestre.

“Sempre gostei muito dos assuntos que envolvem economia e dinheiro. Quero entender por que alguns países têm muitos recursos financeiros e outros vivem na pobreza”, ilustra.

Diminuição

Com a chegada da adolescência e o agravamento da deficiência, Rafael passou por um quadro depressivo. Hoje, o alcance do que enxerga é considerado bastante restrito. Ainda assim, com o apoio da família, da escola, e dos amigos, o jovem conseguiu dar sequência aos estudos e transpor fronteiras pessoais.

“Nada é impossível. Com todos os problemas, eu nunca desisti. Se alguém pensar em desistir, procure ajuda, pois sempre vai ter alguém disposto a lhe ajudar. Eu até quis desistir algumas vezes, mas quando olhava para o lado, via que tinha pessoas com quem podia contar, e isso me dava forças para continuar. Quando recebi a notícia da aprovação, fiquei bastante contente, por saber que toda essa dificuldade que eu tive valeu a pena”, conta.

Diante dos desafios cotidianos, o estudante cita que conseguiu superá-los com paciência e sem pressionar a si próprio. “No fim, consegui compreender todas as matérias. Sempre tive muito apoio de meus colegas e professores. Todos tentavam me ajudar para que eu conseguisse acompanhar as aulas. Isso foi muito importante, pois se eu fosse encarar tudo isso sozinho, seria bem mais complicado”, explica.

Nova etapa

Ítalo Silva, de 19 anos, conta os dias para iniciar o curso superior em Ciências da Computação na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). O jovem, recém-saído da EEM Professor Gabriel Epifânio dos Reis, em Icapuí, fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2022. As aulas têm previsão de iniciar em julho próximo.

Um dos maiores desafios de Ítalo durante o período escolar foi o acompanhamento das atividades em sala de aula sem conseguir ler. “Para quem enxerga é mais fácil, pois pode ver o que está escrito no quadro. Para quem não enxerga, é preciso prestar muito mais atenção à explicação do professor e assim conseguir entender o conteúdo”, relata.

Ítalo tem baixa visão de nascença e relata perceber a deterioração da vista com o passar dos anos. O jovem está aos poucos adaptando-se ao sistema de escrita em Braille.

Ainda assim, a experiência na unidade de ensino foi tida como bastante positiva. “Meu dia a dia na escola era muito bom. Gostava tanto do lugar, como das pessoas. Não foi mais difícil ainda, por causa do apoio que recebi de colegas de turma, funcionários, professores. Os professores se preocupavam em me passar conteúdo em áudio, e os colegas sempre tentavam me incluir nas atividades em grupo”, relembra.

Sobre a escolha do curso superior, Ítalo diz ter seguido este caminho por ter afinidade com tudo o que diz respeito à tecnologia. É a própria tecnologia, aliás, que lhe permite ter acesso ao conhecimento de forma mais direta e simplificada.

“Utilizo no computador um leitor de tela, que me apresenta as informações em forma de áudio e me permite mexer na máquina normalmente. Apesar das dificuldades, a gente pode encontrar um caminho. Desistir não é opção. É preciso tentar, pois uma hora dá certo”, argumenta.

A afirmação é tão verdadeira, que se pode provar pelo desempenho alcançado pelo jovem. “A sensação é inexplicável. A gente fica sem reação na hora. Não caiu a ficha. Agora, estou providenciando os documentos para fazer a matrícula”, aponta.