Em Floriano, professor cria repelente natural com auxílio de estudantes

Piaui

14.10.2024

Professor da Rede Pública Estadual há 18 anos, Marco Aurélio Coutinho não passa despercebido pelos corredores do Centro Estadual de Tempo Integral (Ceti) Fauzer Bucar, localizado no coração de Floriano, uma das maiores cidades do sul do Piauí. Lotado na unidade escolar há pouco menos de um ano, o professor de física, que conclui um doutorado em química, é uma das personalidades mais queridas entre os estudantes e funcionários do Centro.

“O professor Marco Aurélio é uma pessoa maravilhosa. A todo momento estou rindo com ele. É um dos melhores professores que já tive. Ao longo do ano, ele esteve aqui a todo momento, nos inspirando. Meu desempenho em física melhorou bastante, desde que ele chegou”, conta Alice Araújo, estudante da 1ª série do ensino médio. 

Ostentando uma simpatia e bom humor inabalável, ele fala com orgulho do potencial e capacidade dos seus, agora, “amigos-alunos”. “Essa escola tem o que todo professor quer, que são alunos vocacionados e comprometidos. Além dos meninos, aqui nós temos uma estrutura na qual podemos realizar projetos que podem somar com a experiência de vida que trago do mestrado, doutorado e de outras salas de aula”, elogiou o docente. 

Foi da curiosidade incansável do professor e do Laboratório de Ciências do Ceti que nasceu uma das mais inovadoras iniciativas do sistema educacional piauiense dos últimos anos. Comprometido com o desenvolvimento de seus estudantes, Marco Aurélio instigou seus pupilos a abordarem soluções para os problemas causados pela dengue, doença viral transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti e uma das enfermidades que mais atinge pessoas no Brasil. 

A proposta inicial, que contemplava trabalhos de conscientização e de limpeza do entorno da escola, logo escalonou para algo mais impactante e ambicioso. Por que não, ali, no laboratório de ciências de uma escola do interior do Piauí, ser desenvolvido um repelente natural para o mosquito vetor da doença? 

“Por que precisamos de um repelente novo se já temos tantos no mercado? Primeiro, porque o nosso repelente é de origem natural, orgânico, sustentável, que fomenta a agricultura familiar. A ideia de usar o urucum não é aleatória, é porque é algo que está ao alcance de todos. Claro que, para a gente colocar um produto dermatológico no mercado, tem que passar por várias etapas de certificação, de validação, mas é saber que a natureza está ao nosso favor”, explicou Marco. 

Os estudos prévios do professor sobre as propriedades do urucum, somados ao desejo e curiosidade dos estudantes se materializou no repelente “Fim da Picada”, nome de batismo do projeto dado pelos próprios alunos do Ceti. A iniciativa não apenas deu certo, como logo ganhou a atenção de pesquisadores. 

“Eu trabalho no meu doutorado com os derivados do urucum. E do Urucum a gente consegue extrair duas moléculas, a Bixina e a Norbixina. Elas são comumente usadas como antioxidantes na indústria alimentícia. Nas minhas pesquisas, encontrei que os indígenas usam o urucum para se proteger na selva. E aí surgiu a questão, será que ele serviria também como repelente, será se o urucum guarda algumas propriedades nesse aspecto?”, questionou. 

O projeto logo foi apresentado na Campus Party Teresina 2024 e ganhou o prêmio máximo na Arena de Negócios, onde idealizadores de propostas inovadoras “duelavam” em defesa de seus produtos. Além do reconhecimento, a participação rendeu ao professor e estudantes local de destaque na feira de tecnologia.

“Foi muito legal, eu nunca tinha conhecido um lugar como aquele. A gente viu coisas como guerra de robôs. Foi muito gratificante conhecer um lugar em que você cresce através do conhecimento. Como é que uma pessoa consegue desenvolver protótipos como aqueles? Foi tudo muito interessante”, comemorou Mariane Fernandes, estudante da 1ª série do ensino médio e uma das envolvidas no projeto Fim da Picada.

A participação na Campus Party abriu novas perspectivas para os alunos do Fauzer Bucar. Colega de turma de Mariane, Yure lembra bem do momento em que foi convocado às pressas para participar da feira, ao lado dos demais membros do projeto. A experiência ali, ainda permeia o imaginário do garoto. 

“Eu lembro até hoje de receber a ligação da nossa diretora comunicando que iríamos para Teresina participar da Campus Party apresentar o Fim da Picada.  Eu vi muitos projetos interessantes, como um que abordava o tratamento do câncer e pelo qual eu me interessei bastante. Me motivou ainda mais para continuar estudando e melhorando, para poder presenciar mais desse tipo de coisa”, garantiu o adolescente. 

Em meio às descobertas e empolgação dos pupilos, Marco Aurélio se emociona ao projetar o impacto que a experiência pode ter na vida dos jovens. “Esses alunos um dia vão olhar para mim e vão lembrar da Campus Party. Eu sou grato pela experiência de cada um, porque tenho certeza de que vai ser um divisor de águas na vida deles. Qual a chance de um aluno, no interior do Piauí, participar de uma experiência como aquela? Isso transforma, é o que faz a vida da gente mudar, independente das condições que a gente tem, independente do que a gente possa proporcionar financeiramente, ou de qualquer outra forma”, relata. 

“O legado que eu quero deixar para os meus alunos é que eles acreditem que eles podem ser melhores a cada dia, que vão alcançar o sucesso nas suas carreiras. Não desista, persista e você vai chegar aonde você quiser”, conclui Marco Aurélio.