Distrito Federal
10.02.2020São três décadas de entrega, acompanhamento e inclusão de bebês especiais, que levaram ao reconhecimento mundial
O Programa Educação Precoce da Secretaria de Educação vai além mar para mostrar porque está entre as 24 práticas educacionais mais inovadoras do mundo elencadas pelo Zero Project, uma iniciativa da austríaca Essl Foundation. A reunião dos trabalhos selecionados entre 469 projetos de mais de 100 países será no fórum em Viena, nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro. O projeto da SEEDF é o único representante do Brasil que participou da seleção e o único a receber o reconhecimento internacional.
A inscrição para o Zero Project foi uma inciativa da Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral (Subin) da SEEDF após ser acionada pela Casa Civil. Em parceria, as pastas construíram um projeto para o concurso que analisa práticas exitosas em todo o mundo.
A Subin foi criada em 2019 pelo atual GDF para lidar diretamente com assuntos relacionados à inclusão. Foi então que o Programa Educação Precoce da SEEDF, criado em 1987, ganhou prioridade nessas ações, até alcançar a lista dos programas que funcionam no mundo.
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“A Educação Precoce é a nossa ‘menina dos olhos’. O mérito é principalmente pelo engajamento da família, nossa grande multiplicadora em casa. É um trabalho que integra todos os núcleos”, comemora a subsecretária de Inclusão da SEEDF, Vera Lúcia Ribeiro de Barros, que também é mãe de um filho especial e afirma que o programa dá novas chances à sociedade.
A Educação Precoce é uma política pública de Estado, que visa o desenvolvimento global com estímulos biopsicossocial de bebês especiais. Atualmente, atende 3.327 bebês de 0 a 3 anos de idade em 19 unidades escolares da SEEDF.
Segundo a diretora de Educação Inclusiva da SEEDF, Riane Natália Vasconcelos, normalmente o processo é inverso e somente após a instalação da deficiência e com os atrasos evidenciados é dado início ao acompanhamento. “Precoce remete a um trabalho que precisa ser realizado o mais cedo possível para que a criança se desenvolva da melhor forma”, explica.
A Educação Precoce recebe bebês com deficiência, com hipótese diagnóstica de deficiência, bem como transtorno do espectro autista, crianças com altas habilidades e consideradas de risco, como prematuras, pós maduras, filhos de mães diabéticas, entre outros casos.
Realizado por cerca de 400 educadores da rede capacitados, o programa tem caráter pedagógico, não clínico ou terapêutico, com foco na aprendizagem, inclusão e no desenvolvimento.
Gêmeas siamesas
Unidas pela natureza e o amor, as gêmeas siamesas Lis e Mel, conhecidas no DF pela cirurgia delicada de separação total realizada em 2019, também são atendidas pela Educação Precoce da rede pública. A indicação veio de um boca a boca positivo, que amoleceu o coração da mãe das meninas de apenas um ano de idade.
Segundo Camilla Vieira Neves, Lis e Mel estão se saindo bem na natação e a evolução tem sido acelerada. “Minha expectativa agora é que elas cresçam e se desenvolvam cada vez mais, porque o apoio já tem ajudado muito. Elas nunca querem voltar para casa depois do atendimento na escola”, relata.
Um passo de cada vez
De 0 a 6 meses, os atendimentos são realizados em turmas de Pais e Bebês. São específicos para essa faixa etária, que tem como base a instrução, a conversa, os encaminhamentos junto à família, para que seja orientada da melhor maneira para trabalhar com essa criança no dia a dia.
Outra problemática nesse período é a fase do “enlutamento”. As famílias buscam a Educação Precoce enlutadas, já que planejaram e idealizaram o filho de uma maneira e, então, se depararam com a deficiência. “Nosso interesse é ter a família conosco. Na Educação Precoce ela é parceira”, destaca a gerente da Diretoria de Educação Inclusiva, Roseane Badú.
Nessa fase, o atendimento é realizado em dois dias da semana. Em um, são 50 minutos com o pedagogo e no outro com o professor de educação física.
Com o primeiro, em sala de aula, sob colchonetes e orientações específicas para cada criança. Já na parte física, há também o atendimento às famílias, mas ainda no ambiente da piscina ou na sala de psicomotricidade, dependendo de cada caso.
A partir dos sete meses até cerca de dois anos de idade, o bebê passa a frequentar a Precoce duas vezes na semana, em atendimentos individuais e personalizados. Em um dia, são 50 minutos com o pedagogo e mais 50 com o professor de educação física. No segundo dia da semana também.
Há, ainda, a configuração de “turminhas” ou agrupamentos para as crianças a partir de dois anos, as T2, para os casos mais necessários. O grupo é formado visando a inserção nas escolas regulares em tempo ágil.
Inserção + inclusão
A Educação Precoce avalia esses bebês diariamente. A ideia é atuar com base nas necessidades da criança para que o impacto seja positivo na inserção em outros ambientes.
Professora de Educação Física, Cristiane Lima Fernandes, na rede há 13 anos e há 12 com as crianças na Educação Precoce, já atendeu certa de 480 bebês. Para ela, o impacto pode ser multiplicado, já que envolve todos da família. “Eu tive um filho prematuro, mas naquela época não existia o Programa Educação Precoce. No entanto, enquanto professora, percebo que o resultado é quase imediato”, afirma.
Assim como os demais, a docente passou por um curso inicial, formação, entrevista e treinamento para atuar nessa etapa.
Os gestores e professores da Precoce asseguram que o sucesso nas atividades vem da própria plasticidade cerebral humana. “O cérebro realiza compensações. Então, existe uma lesão em determinada área, mas a gente consegue fazer uma atividade pedagógica que vai acionar outras áreas do cérebro que serão capazes de compensar essa região. Por isso que a avaliação na Educação Precoce é constante”, explica Roseane.
Todo esse trabalho, hoje, funciona com o apoio dos coordenadores regionais de ensino, dos gestores das escolas, dos coordenadores do programa, e da comunidade escolar. “Apesar de três décadas de existência e do reconhecimento internacional, nossa expectativa é, em breve, receber a destinação de mais recursos para compra de materiais específicos, para a formação continuada dos professores e para a expansão desse programa para outras unidades de Educação Infantil do DF. As especificidades da etapa sugerem um olhar diferenciado do Estado para o Programa Educação Precoce”, idealiza a diretora de Educação Inclusiva.
Nome na lista
Atualmente, as inscrições para o Programa Educação Precoce podem ser realizadas em qualquer dia do ano, pessoalmente, pelos responsáveis dos bebês, nas escolas ou Coordenações Regionais de Ensino.
Entretanto, além da novidade para 2020 de mais duas unidades de atendimento – uma em Ceilândia e outra em Samambaia – a rede vai informatizar as inscrições e facilitar o acesso de toda a comunidade escolar. As tratativas seguem em andamento na rede pública de ensino.
Confira as fotos do Centro de Ensino Especial para Deficientes Visuais.
Veja mais fotos do atendimento em Educação Precoce no DF.
Nathália Borgo, Ascom/SEEDF