Mato Grosso
29.06.2025Rayane Alves | Seduc
Com 28 anos, Alessa Padilha da Silva vive uma rotina desafiadora, mas cheia de significado: durante o dia, cursa Medicina na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); à noite, veste o avental de técnica em nutrição escolar, preparando refeições no Liceu Cuiabano, em Cuiabá.
Filha de pais humildes e estudante da rede pública desde a infância, ela diz que venceu obstáculos que pareciam intransponíveis e hoje inspira quem sonha com um futuro melhor.
“Estudei a vida toda em escolas públicas e sempre encarei os estudos como meu único caminho. Meus pais, mesmo com poucas condições, sempre me incentivaram”, relembra Alessa.
Sua dedicação, desde cedo, a levou a uma vaga no Instituto Federal (IFMT) e depois à aprovação em primeiro lugar em um concurso público para técnica em nutrição, em Santo Antônio do Leverger — a chance que precisava para se manter enquanto lutava por algo ainda maior.
Foram três anos conciliando o trabalho na cozinha escolar com os estudos para o vestibular, muitas vezes, usando os intervalos entre uma tarefa e outra para revisar conteúdos.
“Acordava às 5h30 para trabalhar e, depois do expediente, estudava com apostilas e plataformas on-line. Era cansativo, mas eu tinha um propósito”, conta.
O esforço foi recompensado: Alessa passou em Medicina em duas universidades, pelo Prouni e pelo Sisu. Optou pela UFMT, que era sonho de infância.
O desejo de ser médica surgiu aos 17 anos, ao ver o pai internado em condições precárias. “Percebi que queria fazer a diferença na vida das pessoas. Aquilo me marcou profundamente”, diz.
Hoje, mesmo com uma carga horária pesada, ela segue firme. “Saio do hospital direto para a escola, onde trabalho até 22h30. Estudo nos finais de semana e nas madrugadas. Já pensei em desistir, mas lembrar de onde vim e onde estou me fortalece”.
A realidade da escola pública e a experiência com a rotina dura do Sistema Único de Saúde (SUS) fazem de Alessa uma estudante empática e preparada para os desafios da Medicina. “Minha vivência como merendeira me torna mais humana. Entendo o que os pacientes enfrentam”.
Ela garante que não tem dúvidas de que sua trajetória pode servir de luz para outros jovens: “Podemos mudar nossa realidade com educação. Não é fácil, mas é possível”.
Alessa sonha em se especializar em neuropediatria, atuar tanto na rede pública quanto privada e retribuir à sociedade tudo o que recebeu.
“Quero devolver, com meu trabalho, o investimento que fizeram em mim. Também desejo contribuir com políticas públicas. A educação e a saúde transformaram minha vida”.
Sua história é um lembrete poderoso de que grandes conquistas nascem da persistência silenciosa, do esforço diário e da fé em dias melhores: “Deus tem me guiado e cercado de pessoas boas. Se minha história inspirar alguém a continuar tentando, já valeu a pena”, finalizou sorrindo.