Cursos oferecidos pelo CAP/AC mudam a vida de deficientes visuais

Acre

13.11.2017

Inúmeras possibilidades, sentidos e imagens representam o mundo que se amplia e se desvenda na ponta dos dedos. Ao tocar o papel, os pontos ganham um contorno próprio, que vão além das palavras para ganhar vida na imaginação de quem escreve.

Como forma de ampliar o acesso à educação inclusiva, o Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiências Visuais (CAP/AC) iniciou no último dia 7 de novembro o curso de leitura braile.

A formação é destinada aos educadores da rede de ensino, alunos e comunidade em geral. O objetivo é passar conhecimentos a cerca da educação inclusiva para pessoas cegas e com baixa visão.

O método braile

Diferente do alfabeto brasileiro, que possui 26 sinais gráficos, o braile é constituído por 64 sinais gravados em relevo no papel. O alfabeto é formado por combinações sistemáticas de seis pontos, e é um dos meios com os quais pessoas cegas conseguem se comunicar utilizando a leitura e a escrita com facilidade.

No Brasil existem mais de seis milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual. Devido ao sistema de aprendizagem em braile, grande parte consegue se qualificar e ingressar no mercado de trabalho.

Segundo Zilma de Souza, 35, há inúmeros progressos na educação para deficientes visuais. “É uma luta constante, mas os avanços são maiores quando conseguimos utilizar meios de comunicação que se baseiam no braile”, afirma.

A dona de casa, que é cega desde os 16 anos de idade, explica que o braile é importante, pois insere o deficiente na sociedade. “Com o braile as pessoas cegas passaram a ter acesso ao conhecimento, à cultura, ao lazer, a informação”, completou.

Por meio do sistema braile o deficiente visual tem suas possibilidades de acesso à informação e comunicação ampliadas. Assim ele consegue sentir e construir significados para o que, até então, estava oculto.

Métodos auxiliares

Segundo Maria de Fátima, professora do CAP há mais de 20 anos, as pessoas com necessidades especiais têm diversos instrumentos que auxiliam no ensino e na aprendizagem. “Instrumento bem antigo como a máquina Braile Perkins, semelhante à máquina de datilografia, ainda ajuda neste processo. Outro meio bastante utilizado é o Soroban. Ele ajuda a fazer cálculos matemáticos com precisão e rapidez”, explica.

O soroban começou como um simples instrumento onde eram registrados valores e realizadas operações de soma, subtração e, posteriormente, foram desenvolvidas técnicas de multiplicação e divisão.

Outras operações foram aprimoradas, a extração de raízes quadrada e cúbica, trabalho com horas, minutos e segundos, conversão de pesos e medidas, números inteiros, decimais e negativos.

O aluno do curso de braile, Sebastião Souza, resolveu aprender a leitura devido a necessidade da filha de oito anos, que tem baixa visão, para ajudá-la a desenvolver habilidades diversas.

“Antes era bastante difícil a comunicação, pois eu não sabia nada. Fui aprendendo sozinho no dia a dia. Um tempo depois vi a necessidade de fazer o curso para estar perto e auxiliar no que ela precisasse”, destacou.

Sebastião foi o primeiro pai de aluno a fabricar o Soroban. Ele desenvolveu o instrumento para auxiliar a filha no aprendizado escolar e hoje confecciona para outras instituições e escolas que necessitam desta ferramenta.

“Desde a primeira fabricação do Soroban, mais 10 peças foram feitas e trazidas para o CAP. Elas auxiliam durante aulas ministradas nos cursos para deficientes visuais. As peças são feitas sob encomendas e o valor varia entre 80 e 100 reais, dependendo do tamanho do instrumento”, ressaltou.

O soroban ajuda a desenvolver concentração, atenção, memorização, percepção, coordenação motora e cálculo mental. Com o soroban é possível calcular em meio concreto, aumentar a compreensão dos procedimentos envolvidos e exercitar a mente.