Sonhos e histórias de estudantes pernambucanos dão vida ao projeto Cineclube Pedra Negra

Pernambuco

19.06.2019

Para celebrar o Dia do Cinema Brasileiro (19), fomos até a Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Eurídice Cadaval, em Itapissuma, para mostrar como a sétima arte trabalhada na unidade de ensino é motivo de tanto orgulho para a cidade. Dentro dos muros da escola, o cinema transforma, motiva, abre janelas para mundos e realidades diferentes. Fora dela, em exibição aberta ao público no município, potencializa o sentimento de pertencimento nos moradores.

Tudo começou em 2008, quando a professora de Artes, Kelly Costa, colocou no quadro a ementa e o conteúdo programático da disciplina para aquele ano. O tópico “cinema” chamou a atenção de um aluno, que prontamente questionou se a turma iria produzir um filme. “Isso nem passava pela minha cabeça. Mas quando ele perguntou, o resto da turma também manifestou interesse e, sem saída, eu respondi que ‘sim’”, detalha a docente aos risos. A partir desse dia, Kelly, que já era uma cinéfila de carteirinha, passou a se aprofundar nos estudos sobre o cinema.

“Eu tive que aprender tudo em pouco tempo, porque diante daquele interesse da turma, eu não poderia somente dar uma aula e passar um filme. Eles queriam produção, então corri atrás das técnicas de imagens, produção, roteiro, tudo”, conta. No começo, os filmes eram gravados com câmeras de celular. Com o passar dos anos, o trabalho de Kelly ganhou visibilidade na cidade, uma vez que os temas dos filmes eram sempre sobre o cotidiano dos estudantes e das histórias de Itapissuma.

“Numa reunião com os pais, mães e responsáveis na escola, nós exibimos um desses filmes e todos ficaram perguntando porque aquele curta não era exibido para o restante da cidade. Isso nos intrigou bastante, e foi aí que ganhamos espaço em equipamentos públicos – como o mercado da cidade – para realizar sessões de cinema. Foi um sucesso. A cidade inteira adorou e hoje somos praticamente referência no meio audiovisual de Itapissuma”, comenta Kelly. 

O Cineclube Pedra Negra, nome oficial do projeto, ganhou parcerias como a da Prefeitura, diversos prêmios em festivais, e até uma exibição em uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) aqui no Brasil. Hoje, a EREM conta com equipamentos próprios, e o Cine Clube já produziu cerca de 30 filmes em 11 anos de existência. Atualmente, as oficinas de roteiro, som, imagem, edição, produção e direção acontecem toda quarta-feira para os estudantes, e são sempre ministradas por Kelly e ex-alunos do projeto.

O fotógrafo e consultor de comunicação Ragner Marcos é um deles. O jovem de 23 anos foi integrante do projeto quando estudava na EREM, em 2012, e atualmente ministra oficinas voluntariamente de imagem para os novos alunos. “Meu primeiro contato com o audiovisual foi aqui na escola, e tenho certeza que se eu não tivesse esse encontro com o cinema, eu teria trilhado outro caminho profissional e seria frustrante, porque eu amo o que faço e não me vejo em outra profissão”, conta. “Eu espero que esses estudantes tenham um olhar diferente sobre as coisas e que eles usem a arte para criticar, construir, fazer algo coerente e que provoque o máximo de gente possível. É uma oportunidade que eles têm de mudar percepções. O cinema tem esse dom”, acrescenta Ragner.

A estudante Déborah Fidelis, de 15 anos, quase não tinha sonhos antes de entrar no cine clube Pedra Negra. Para ela, concluir o Ensino Médio significava o término dos estudos. Hoje, a frente das redes sociais do projeto, com participação na direção e produção do novo filme, a adolescente conta que descobriu seu potencial para construir uma carreira em qualquer área. “O cineclube foi um divisor de águas na minha vida. Em pouco mais de um ano, eu descobri que tenho diversas habilidades, e isso só me deu margem para começar a sonhar em uma profissão. Se você me perguntar qual carreira eu quero seguir, eu vou dizer: hoje eu sou capaz se seguir todas, eu só ainda não escolhi qual eu quero investir”, brinca.

“Aqui, a gente sai da rotina de aulas, se diverte, faz novos amigos, aprende coisas novas, e se sente protagonista mesmo, sabe? E eu nunca pensei que fosse aprender tanto com o cinema”, acrescenta.

O próximo filme do Cineclube Pedra Negra está na reta final de produção e o lançamento está previsto para acontecer no mês de outubro.

Confira aqui o filme “Contar a nossa história”, produzido pela EREM Eurídice Cadaval em 2014 e premiado na mostra CineCabeça do mesmo ano: https://www.youtube.com/watch?v=2qqpB13TCAI&feature=youtu.be

Filme “O Vencedor”https://www.youtube.com/watch?v=xYWOiG5KZYU&feature=youtu.be