Rio de Janeiro
12.04.2024'Uma experiência maravilhosa e única'! Foi assim que os estudantes do Colégio Estadual José Bonifácio, em Niterói, descreveram a experiência ambiental vivida nesta sexta-feira (5), durante uma aula de Biologia, realizada em áreas de conservação ambiental de Cachoeiras de Macacu, no limite entre as regiões Metropolitana e Serrana do Rio.
A turma de 18 alunos visitou a ONG SOS Vida Silvestre, que possui um espaço voltado para o ensino ambiental e recebe grupos escolares periodicamente. Lá, eles aprenderam sobre o cuidado com a natureza, a importância do respeito e preservação do ecossistema e como é preciso estar atento ao trafegar por vias com animais silvestres.
A instituição atua junto à concessionária que administra a rodovia RJ-116, fazendo o recolhimento de animais que morreram na via, vítimas, principalmente, de atropelamento. Nesse sentido, os alunos tiveram contato com diferentes espécies de animais empalhados e taxidermizados, aprendendo sobre o processo e os estudos feitos após a coleta.
Geralmente, os animais expostos não podem ser manipulados, a fim de evitar a decomposição dos pêlos, penas ou cascas, que podem sofrer com o suor humano. Entretanto, o grupo de alunos contava com uma estudante portadora de deficiência visual, que foi incentivada pelos responsáveis a sentir cada um deles, promovendo a inclusão dentro e fora da escola.
— Amei todas as texturas, foi muito bom tocar neles, me surpreendi bastante por que a gente não consegue perceber a diversidade que temos por perto. É muito importante ter acesso a lugares como esse. A iniciativa da escola foi excelente — afirmou a aluna da 3ª série do Ensino Médio, Letícia Tavares (19 anos).
De acordo com o biólogo Francis Leandro, responsável pelo local, mais de 1.400 animais são atropelados anualmente neste trecho da rodovia. Apesar do número alto, o percentual já é 80% menor que nos últimos anos, fruto da educação ambiental, especialmente entre os alunos.
— Nosso espaço foi feito para educação e tudo que desenvolvemos aqui não teria valor se não fossem as escolas que nos visitam. Nós explicamos sobre animais da Mata Atlântica, como onças, tamanduás, ouriços, e várias outras espécies. Explicamos ainda sobre a taxidermia que é o molde e vestimento da pele do animal e sobre o empalhamento, que acontece quando é preciso preencher o animal que morreu para que ele volte à sua forma, tudo visando a educação ambiental — concluiu.
Conhecendo o jequitibá-rosa
Na sequência, os estudantes foram levados até o Parque Estadual dos Três Picos - Núcleo Jequitibá, cerca de 26 km de distância. Após alguns minutos de caminhada em uma belíssima trilha repleta de vida e com algumas pausas para explicações sobre recursos hídricos, fauna e flora, o grupo chegou ao frondoso jequitibá-rosa, o maior do estado, medindo cerca de 40 metros de altura e 19 de circunferência, com idade estimada em incríveis mil anos. A espécie é considerada a maior árvore da Mata Atlântica, podendo atingir até 50 metros.
À sua gigantesca sombra e de mãos dadas, os estudantes deram um super abraço na árvore milenar, sendo necessário todos os 18 alunos e três professores para conseguir o feito. Encantado com as duas visitas, o aluno da 2ª série do Ensino Médio, Luiz Fernando (17 anos), comentou o que achou.
— Estar nesse ambiente, escutar a natureza e os animais é incrível! Conheci espécies que eu nem sabia que existiam. Aqui no parque eu fiquei cativado com o jequitibá, é uma coisa surreal de ver de perto. Agora quero buscar mais conhecimento e me aprofundar. A aula foi um grande incentivo pra mim — disse o jovem.
Na sede do órgão, e com o auxílio de uma imensa maquete, o grupo aprendeu sobre as dimensões do parque, que é o maior do estado, com 65 mil hectares, estendendo-se em partes dos municípios de Teresópolis, Guapimirim, Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu e Silva Jardim.
Entre as ferramentas usadas para monitorar a vida silvestre, os estudantes conheceram as armadilhas fotográficas, equipamento audiovisual que monitora a presença dos animais no parque. Em meio a perguntas e sorrisos, os jovens conheceram diversas espécies e tiraram várias dúvidas sobre a biodiversidade da região. Uma verdadeira sala de aula ao ar livre, como explica o professor de Biologia do colégio e responsável pelo passeio, Ricardo Harduim.
— Estamos falando de alunos que são de Niterói, mas que consomem a água que vem daqui. Então, tirá-los da sala de aula faz com que eles se conectem com a natureza, com as cores da floresta, faz com que sintam a água e o aroma das folhas e ouçam os sons dos pássaros — afirmou.
Sobre o abraço no jequitibá, Ricardo explica que a atitude vai além do simbolismo.
— Precisamos explorar os sentidos e sentir as texturas. O abraço é para que eles entendam que a árvore é um ser vivo que, em conjunto com as demais, regulariza o ciclo da água, da temperatura, estrutura o solo, produz sombra, frutos, atrai a biodiversidade e traz a saúde coletiva para a população. Trazer eles aqui é fundamental — concluiu o docente.
A ONG SOS Vida Silvestre fica na RJ-116, km 16,5, no bairro Papucaia e funciona todos os dias, das 8h às 18h, com agendamento prévio para grupos de visitas guiadas. Já o Parque Estadual dos Três Picos - Núcleo Jequitibá, fica na Estrada do Jequitibá, nº 145, no bairro Boca do Mato, também em Cachoeiras de Macacu. O funcionamento acontece todos os dias, das 8 às 17h e tem entrada gratuita.