Sergipe
31.03.2021Ana Beatriz Rosa Lima, de 18 anos, moradora da comunidade Xokó, localizada na Ilha de São Pedro, a 30km do município de Porto da Folha e distante 220km da capital sergipana, é um exemplo de garra e dedicação. Aluna do Colégio Indígena Estadual Dom José Brandão de Castro, ela participou do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e está se destacando entre os melhores alunos da rede estadual na nota de Redação, com 940 pontos.
Beatriz reside com os pais e um irmão de 15 anos. Ela fez o Enem pensando em ingressar no curso de Odontologia, um sonho que ela alimenta desde o início do ensino médio. Os pais sempre incentivaram bastante os estudos dela, principalmente a mãe, Ângela Apolônio, que é também a diretora da escola. Esta é a terceira vez que ela participa do Exame, tendo sido treineira nas duas primeiras vezes, ocasiões em que conquistou 540 e 680 pontos na Redação, respectivamente. Desta vez, no Enem 2020, ela se superou e agora comemora os 940 pontos na prova.
“A minha preparação se deu com as aulas online, com os aulões organizados pelos professores, além das videoaulas que eu pesquisava na internet. Eu também assistia às lives do curso Pré-Universitário da rede estadual e fazia os simulados de redação. Eu estudava diariamente uma disciplina diferente e confesso que me dediquei mais para a redação. A professora de Língua Portuguesa passava temas e corrigia as nossas redações. Eu sei do meu esforço e que obteria uma boa nota. Mas quando vi minha pontuação, realmente fiquei surpresa”, afirmou.
Para Ana Beatriz, esse ano de pandemia foi bem desafiador, por conta das aulas remotas. Juntamente com a sua turma, que era composta de sete estudantes da comunidade Xokó, ela utilizou plataformas como WhatsApp, Google Classroom, YouTube, Google Meet, entre outras. A aluna relata que a professora de Língua Portuguesa, Mariana Apolônio, promoveu diversas oficinas de redação e chegou a propor um tema bem parecido com o que foi pedido no Enem.
Sonho
O sonho de ser aprovada no Enem e ingressar no ensino superior é acompanhado por outro desejo. Ana Beatriz afirma que, se conseguir passar em Odontologia, sua rotina terá que mudar radicalmente, e revela a vontade de atuar junto aos seus conterrâneos.
“Se eu conseguir passar, vou ter que sair da comunidade para estudar na UFS e me adaptar a uma nova realidade. Mas quando me formar, meu sonho é retornar, pois sei que aqui há esse espaço para trabalhar e que, atualmente, é ocupado por pessoas de fora. Quero ser odontóloga aqui e ajudar a minha comunidade”, afirmou.
A alegria pela excelente colocação de Ana Beatriz é compartilhada pela sua mãe, Ângela Apolônio Lima, que também é diretora do Colégio Indígena Estadual Dom José Brandão de Castro. “Não podemos deixar de expressar nossa alegria e o nosso orgulho ao ver a nossa Ana Beatriz, que sempre foi uma aluna dedicada desde que iniciou os estudos no 1º ano do ensino fundamental. Para nós da escola foi uma surpresa muito positiva ter uma aluna nossa com essa pontuação. Com certeza, foi graças ao esforço e à dedicação dela, que estudava na parte da tarde e reservava um período do tempo para reforçar redação e outras disciplinas. Temos de destacar a qualidade do ensino ofertado pelo Colégio Estadual Indígena e o apoio dos professores dado aos nossos estudantes”, declarou.
Resultados
Ao todo já são mais de 200 notas 900 ou mais, além de mais de 241 notas 800 ou mais na rede estadual de ensino, uma marca considerada muito boa. No Colégio Indígena Dom José, dos 78 alunos matriculados, sete finalizaram o Ensino Médio e se inscreveram no Enem 2020.