A reorganização paulista e o novo modelo de escola

Reorganização escolar paulista

29.09.2015

Herman Voorwald

São Paulo figura entre as três melhores posições do Brasil quando o assunto é educação básica. Com suas cerca de 5 mil unidades, muitas vezes com situações de vulnerabilidade extremamente distintas e complexas, esta rede pode se orgulhar de algumas importantes bandeiras que adquiriu ao longo dos anos. Mas orgulho não é sinônimo de conformismo. Ao contrário. Novos desafios se impõem na medida em que avançamos.

Reduzir a educação a uma escala de proficiência é alijar do processo educacional toda uma geração em constante mudança e movimento. É ignorar o potencial transformador do conhecimento a partir da vida e não exclusivamente da escola. Nossa missão enquanto gestores públicos, portanto, é primeiramente admitir que, apesar da inclusão e de índices educacionais melhores, a busca pela equidade nos distanciou do anseio daquele que é figura central deste processo: o aluno. Permanecemos entregando uma velha escola a um novo estudante.

Não há ineditismo em tal constatação e nem privilégio paulista em tal cenário. Tampouco brasileiro. O mundo discute a necessidade, inexorável, de um novo modelo de escola. E o nosso cenário não poderia estar mais propício para mudanças. O Brasil vem sofrendo uma forte e constante redução na quantidade de matrículas na rede pública de ensino. Segundo dados do Seade, nas escolas estaduais de São Paulo há 2 milhões a menos de estudantes em comparação a 1998. Além da diminuição da taxa de natalidade, a municipalização e a migração de alunos para a rede privada são os responsáveis pela inversão da pirâmide demográfica.

 A queda de matrículas aliada a uma expansão urbana desordenada em diferentes regiões nos submete a uma rede de escolas concebidas para atender uma população que se transformou e anseia por mudanças. As conquistas obtidas nos últimos anos pavimentaram a estrada que agora nos possibilitará inovar mais uma vez. O governo Geraldo Alckmin dá início a partir deste mês a um movimento histórico em suas unidades de ensino com foco na construção de um novo modelo de escola e na melhoria do aprendizado.

Qualquer que seja a ação à luz da construção de uma escola mais próxima do jovem, ela passa necessariamente por uma reorganização da rede, concentrando na mesma unidade alunos da mesma faixa etária e concebendo um ambiente mais propício para a aprendizagem. Escolas que atendam alunos do mesmo segmento de ensino ou de segmentos próximos entre si terão condições não apenas estruturais, mas sobretudo pedagógicas, para articular o espaço e o tempo a serviço do currículo. Indicadores da Secretaria e do próprio Inep indicam que escolas de ciclo único têm resultado 10% superior às unidades de três segmentos.

Onde for possível, separaremos crianças de 6 ou 7 anos de adolescentes de 15, 16 e 17 anos, para que ambas faixas etárias recebam ambientes e ferramentas focadas em suas necessidades. Estimativas prévias apontam que é possível crescer em 30% o número de escolas com um só ciclo de ensino (do 1º ao 5º ano, do 6º ao 9º ano ou médio). Em muitas outras haverá uma organização para se ter os dois ciclos do fundamental.

O esforço para a mudança é de todos, professores, diretores, funcionários e, claro, pais e alunos. Não é tarefa simples. Mas os meses de planejamento e estudos nos dão segurança de que estamos no caminho certo. O mapeamento das vagas ociosas, realizado por georreferenciamento, confere aos responsáveis, estudantes e funcionários a garantia de um deslocamento máximo de 1,5 quilômetro a fim de minimizar os contratempos e facilitar a vida das famílias. Meu compromisso não é com os prédios escolares, mas com o dever enquanto gestor público e, sobretudo, educador de oferecer um ambiente escolar de mais qualidade.

É com uma escola voltada para a criança pequena, para a criança pré-adolescente ou para o adolescente que São Paulo dá mais um passo pela melhoria da qualidade de ensino. Limitar o aprendizado aos muros da escola é supor que ele se dá exclusivamente pela perspectiva dela. A prepotência de imaginar que detemos a fórmula de ensinar fez do aluno espetador de um processo que nasce a partir e somente por ele. Repensar a estrutura, portanto, é o primeiro passo para legitimar o seu lugar e modificar a cultura e a função social da escola pública.