A arte dos muros da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Cabo de Santo Agostinho

Pernambuco

16.09.2019

Há uma forte tendência nos dias atuais de questionar e ignorar a relevância da criticidade que a arte provoca, mas a Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Cabo de Santo Agostinho segue na contramão desse pensamento. Quem entra na unidade de ensino é prova viva de que expressão artística promove sensações. Em diversos muros da escola, pinturas dão vida ao ambiente cuja proposta é inspirar vidas. E elas foram feitas por um deles: Rafael da Cunha Lima, de 17 anos, que encontrou nos lápis, pincéis e sprays um motivo para continuar sorrindo. E a escola encontrou no estudante as cores que precisava para tornar o espaço mais atrativo, com uma linguagem mais vital possível. 

Desde criança, Rafael sempre foi um exímio criador. Nas paredes de casa, desenhava com lápis o que vinha na cabeça. Onde precisava de movimento, o jovem pensava em algo. De lá para cá, o hábito só foi aprimorado e agora ganhou espaço. “Em uma certa época, eu desacreditei de mim mesmo e passei a andar com pessoas não tão boas. Chegava em casa e não tinha o que fazer, estava tudo muito vazio nos meus dias. Foi quando o gestor da minha escola cedeu alguns espaços para pintar e eu não parei mais. Toda vez que eu tenho alguma ideia, falo para ele e ele aceita na hora. Se eu estiver precisando de tinta, ele compra imediatamente, e nunca me nega nada”, contou. 

Atualmente, a escola conta com cerca de dez artes feitas pelo estudante. No muro de entrada, na recepção, refeitório, corredores e até no bebedouro, que antes era “sem graça”, hoje em dia provoca ternura em qualquer olhar. Todas elas foram feitas nos intervalos das aulas. “Quando eu pinto, esqueço do mundo. A cabeça passou a pensar mais, eu voltei a sorrir. Aqui eu me sinto valorizado. Não é todo artista que tem um espaço de grande alcance de pessoas como este. Por dia, centenas de pessoas veem o meu trabalho. Eu costumo dizer que a arte foi uma porta aberta que encontrei. Entrei nela para mudar e nunca mais quero sair. É onde eu encontro sentido”, detalhou o estudante. 

O gestor da escola e um dos maiores entusiastas do trabalho de Rafael, Emerson Araújo, acredita que o olhar do educador na escola pode mudar vidas. “Rafael era um estudante que não tinha um excelente comportamento. Ele sempre me falou do seu trabalho, até que um dia me mostrou um portfólio e eu cedi um muro. Gostei tanto que ofereci outros espaços a ele. Hoje, o estudante apresenta um comportamento bem melhor, é um menino muito respeitador e está indo muito bem na arte”, disse. “O que a gente puder fazer para aguçar os talentos dos estudantes, a gente faz. Eles precisam de espaço, precisam ser ouvidos, precisam de oportunidades. E quando dá certo, vai um estimulando o outro”, acrescentou Emerson.

De acordo com o gestor, após Rafael mostrar suas habilidades com o lápis, o pincel e o spray, outros estudantes se revelaram e se ofereceram a dar cores a outros espaços da escola. Hoje em dia, Rafael faz um curso profissionalizante de arte gráfica e pretende seguir a carreira. Ao final da entrevista, perguntamos ao estudante como ele gostaria de ser chamado, se de grafiteiro ou desenhista. Tímido, com sorriso acanhado, respondeu seguro, com ar de orgulho, a palavra que melhor soou ao longo da reportagem: “artista”.