Alfabetização
29.06.2021O primeiro webinário formativo no âmbito do novo programa de alfabetização em regime de colaboração do Governo de Goiás, AlfaMais Goiás, alcançou 28.450 visualizações nas primeiras 24 horas após a transmissão. O encontro, que inaugura uma série de cinco webnários e oficinas formativas, foi transmitido no canal do Centro de Estudos, Pesquisa e Formação dos Profissionais da Educação da Seduc (CepFor) e contou com a participação de profissionais das redes estadual e municipais de ensino de Goiás.
Com o tema “Retomada das Aulas Presenciais no Contexto da Pandemia”, o webinário teve como principal palestrante o chefe de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Ítalo Dutra. Na oportunidade, Ítalo Dutra ressaltou aspectos importantes a serem considerados durante um possível retorno das aulas presenciais em Goiás, seja de forma integral ou híbrida.
De acordo com o chefe de Educação do Unicef no Brasil, um estudo sobre o cenário da exclusão escolar no Brasil apontou que, em novembro de 2020, cerca de 2 milhões de crianças entre 6 e 10 anos de idade estavam fora da sala de aula. Segundo Ítalo Dutra, o número representa um retrocesso em relação ao aprendizado das crianças dessa faixa etária vez que, em 2019, esse total de estudantes entre 6 e 10 anos fora da escola correspondia a cerca de 22 mil crianças. “O que acontece com a pandemia é que essa situação piora e a gente volta para dados e números que a gente tinha lá em 2000, ou seja, 20 anos para trás”, afirmou o palestrante na ocasião. “A gente sai de uma situação de pouco mais de 22 mil crianças com idade entre 6 e 10 anos fora da escola em 2019 para mais de 2 milhões de crianças em novembro de 2020. Crianças que não estavam matriculadas ou que estavam matriculadas mas não estavam recebendo atividades escolares. O que é, para a alfabetização, uma questão muito complicada”.
Fazendo uma conexão com a proposta do programa de alfabetização AlfaMais Goiás, que deve ser lançado pelo Governo de Goiás no segundo semestre deste ano, Ítalo Dutra reforçou que, antes de tudo, é preciso apreender que a alfabetização completa não corresponde apenas ao aprendizado do sistema alfabético, mas também à capacidade de leitura de múltiplas linguagens, como por exemplo de gráficos, imagens, infográficos e produções audiovisuais.
“É importantíssimo olhar para essas crianças de 6 a 10 anos e entender que uma alfabetização completa é um direito de todos e todas os brasileiros nesse contexto”, destacou Ítalo durante o webinário. “A gente precisa olhar para as questões da alfabetização completa porque ela é a sustentação, no sentido de base, para a continuidade de aprendizagem de todas as áreas do conhecimento”.
Outro aspecto relacionado à prática da alfabetização foi abordado pela diretora da Parc (Parceria pela Alfabetização de Crianças em Regime de Colaboração) e membro da equipe de estruturação do programa AlfaMais Goiás, professora Conceição Ávila. Segundo ela, em se tratando de alfabetização no pós-pandemia, será necessário que as redes de ensino, sobretudo a municipal, e seus professores realizem a priorização curricular, retomando e reforçando habilidades essenciais para o aprendizado nas séries iniciais do Ensino Fundamental e que foram prejudicadas no contexto da pandemia. “As crianças, para serem alfabetizadas, dependem da interação direta do professor. A aprendizagem da tecnologia da escrita não se dá sozinha. A criança não se dá naturalmente, ela precisa da intervenção do adulto, precisa da intervenção do professor”, disse Conceição Ávila. De acordo com ela, “a gente não pode retomar partindo de um pressuposto de que as habilidades que as crianças deviam ter desenvolvido no primeiro ano, por exemplo, elas tenham sido integralmente desenvolvidas. E daí essa importância da priorização curricular”.
Alfabetização como trabalho coletivo
Questionado sobre os papéis da escola e as possibilidades para as salas de aula no pós-pandemia, Ítalo Dutra relembrou que, acima de tudo, a garantia da Educação não envolve somente a escola, instituição vinculada ao Estado, mas também a família e a sociedade civil como um todo. De acordo com ele, diante da possibilidade da retomada das aulas presenciais em Goiás, será importante que essas três esferas trabalhem juntas, tanto na garantia da formação escolar de crianças e adolescentes quanto no controle da disseminação do vírus da Covid-19.
“As crianças desempenham um papel importante no contexto social em que vivem porque, é claro, não vai haver controle da pandemia dentro da escola se a comunidade escolar não estiver engajada nas mesmas práticas. Isso é uma questão absolutamente importante. A gente precisa que escola e comunidade façam o combinado necessário para que a pandemia seja controlada mediante todas as recomendações – distanciamento social; uso de máscara, obrigatório em crianças a partir dos 6 anos de idade e assim por diante”, destacou Ítalo.
O palestrante também reforçou a necessidade de a sociedade e a família reconhecerem a importância da escola como ambiente formador, capaz de promover aprendizados formais e também socioemocionais, o que a torna ainda mais necessária no contexto pós-pandemia. Para o chefe de Educação do Unicef, a escola será essencial para estabilização dos aspectos mentais, físicos e intelectuais dos jovens brasileiros, impactos pelo excesso do uso de telas, pelo isolamento social e até mesmo pela violência doméstica.
“Precisamos garantir que todas as crianças que estavam sem acesso escolar retomem esse acesso, se conectem novamente com as suas escolas, estejam frequentando as atividades escolares independente do formato em que essas escolas estão. Fazer a busca ativa dessas crianças e adolescentes é uma prioridade para o país já”, evidenciou o palestrante.
O AlfaMais Goiás
Com a missão de fortalecer a colaboração entre o Estado e os 246 municípios goianos e garantir a alfabetização das crianças na idade certa, o Governo de Goiás lançará um novo programa de alfabetização em regime de colaboração pela criança alfabetizada, o AlfaMais Goiás. Ainda em fase de desenvolvimento, o programa está sendo apresentado aos prefeitos, secretários municipais de Educação e profissionais da Educação das redes municipais e estadual.
A previsão é que o AlfaMais seja lançado ainda neste ano, durante o segundo semestre letivo. Para isso, a equipe da Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc), conta com o apoio da Parc, Associação Bem Comum, Fundação Lemann e Instituto Natura.