Sergipe
09.05.2019A Biblioteca Pública Epiphânio Dória, em Aracaju, desenvolve há dois anos o Projeto Reciclatec, uma ação interdisciplinar que tem mudado a vida de jovens com idade entre 12 a 21 anos, que cumprem penas socioeducativas. Eles participam de oficinas de Informática, aprendem a montar computadores, a fazer uma horta orgânica comunitária, recebem aulas de Letramento, Ética e Cidadania. O projeto é desenvolvido na própria Biblioteca Epifânio Dória, mas devido a uma reforma pela qual o prédio está passando, as aulas e oficinas estão sendo realizadas na Fundação Renascer, para os jovens assistidos na Comunidade de Ação São Francisco de Assis (Case 1).
Recentemente o Reciclatec ganhou destaque nacional, ao ser citado no Encontro de Bibliotecas Públicas Iberoamericanos, em Quito, no Equador. A Presidente do Programa Ibero-americano de Bibliotecas Públicas (Iberbibliotecas) e Coordenadora do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, Ana Maria Souza, apresentou três projetos brasileiros e um deles foi o projeto da Biblioteca Pública Epiphânio Dória, de Aracaju.
De acordo com a diretora da Biblioteca Pública Epiphânio Dória, Juciene Maria Santos de Jesus, a ideia é trabalhar em consonância com a Agenda 2.030 da ONU, que possui objetivos sustentáveis como a educação de qualidade e preparação para o trabalho. Ela explica que o intuito é aproximar a comunidade da biblioteca, focando principalmente nos jovens que estão em estado de vulnerabilidade social.
“A gente busca empoderar os jovens para que mudem a realidade deles no ambiente em que estão inseridos. Eles saem daqui preparados, com educação para o trabalho, com ética e cidadania e empoderamento digital, porque além de aprenderem a manutenção de computadores, também têm aula de informática. Estamos no caminho certo, porque queremos um mundo melhor. Isso a gente consegue preparando os nossos jovens e oferecendo uma educação de qualidade. Esse é o papel da Biblioteca, promover a informação, a educação, o conhecimento, e o desenvolvimento social”, disse.
Ela comemorou o fato de o projeto ter sido apresentado no Encontro de Bibliotecas Públicas Iberoamericanos. “Existem mais de 400 bibliotecas públicas em todo o Brasil. Eles escolheram apenas três projetos para apresentar e, entre eles, foi citado o Reciclatec, o que nos deixou imensamente satisfeitos”, declarou ela, afirmando ainda que o projeto será apresentado também em um congresso na Argentina.
Cursos
O Reciclatec projeto da Biblioteca Pública Epiphânio Dória, está acontecendo atualmente na Fundação Renascer, de terça a quinta-feira, período em que que os jovens que cumprem pena socioeducativa recebem aulas de Informática, Manutenção de computadores, Letramento e Horta Orgânica.
Segundo Carla Vanessa do Nascimento Góis, coordenadora técnica da Unidade de Semiliberdade Comunidade de Ação São Francisco de Assis (Case 1), nas aulas de Informática eles utilizam computadores obsoletos e com eles aprendem a montar, remontar, criar softwares, consertar computadores e manusear os programas, transformando, por vezes, o estado de conservação.
Na horta orgânica, os jovens aprendem a plantar e colher produtos alimentícios, como tomates, verduras, mandioca, pimenta, couve, coentro, salsa, rúcula, milho, entre outros. Boa parte do que eles colhem, levam para suas casas ao retornarem. Técnicos da Case ministram as oficinas de Ética, Cidadania e Letramento. “Temos percebido que esses jovens têm melhorado consideravelmente o comportamento. Eles têm tido uma outra perspectiva de vida em várias vertentes, recebendo conhecimentos e valores que até então desconheciam”, afirmou.
O professor de Informática, Neilton Barreto, falou sobre os benefícios que essa atividade tem trazido aos jovens. “Um projeto como esse, dentro do sistema socioeducativo, vem trazer aos internos a oportunidade de, no futuro, terem uma profissão. Eles saem daqui com uma capacitação profissional básica. Ao ocuparmos o adolescente com a prática de atividades, eles passam a ficar mais comportados, a educação melhora bastante e eles estão aprendendo algo que irão aproveitar no futuro. É gratificante para todos nós”, disse.
A mesma opinião foi compartilhada pelo professor facilitador da Horta Orgânica, Eudes de Oliveira Bomfim. “Iniciamos com aulas teóricas para ver o nível de cada um e depois vamos para a parte prática. Às vezes eles chegam um pouco ariscos, desconfiados, mas no decorrer do curso, a gente percebe uma mudança comportamental muito grande”, explicou.
O jovem F.H.T.O., de 19 anos, é um dos internos que participam das aulas, e disse que está gostando muito. “Isso veio para que a gente possa mudar de vida. A gente tem mudado muito aqui, e indo por esse rumo, no futuro vou procurar alguma coisa melhor para minha vida”, disse.
Quem também tem aproveitado os cursos é o jovem R.J.S., de 18 anos. “Estou aprendendo coisas novas, como mexer no computador. Quando sair daqui, já estarei com bons conhecimentos para ter um empego bom no futuro”, declarou.