Sergipe
23.08.2024Em Sergipe, cerca de 330 mil alunos das redes municipal e estadual são beneficiados pelo Programa Saúde na Escola (PSE). Coordenado pelo Governo do Estado, por meio das secretarias de Estado da Educação e Cultura (Seduc) e da Saúde (SES), o PSE é uma estratégia de articulação intersetorial com foco no pleno desenvolvimento do estudante a partir de ações de promoção à saúde e prevenção de doenças e agravos à saúde.
O PSE está presente nos 75 municípios sergipanos, com a colaboração de 1.359 equipes de saúde e contemplando 1.388 unidades de ensino, sendo 1.172 escolas municipais e 216 escolas estaduais pactuadas ao programa no biênio 2023/2024 no estado.
Segundo a referência técnica estadual do Programa Saúde na Escola pelo Departamento de Atenção Primária à Saúde da SES, Suziani Soares, a iniciativa tem os profissionais da Educação e da Saúde como os principais atores e parceiros do processo intersetorial de promoção do programa. “O PSE atua em parceria com escolas e UBS [Unidades Básicas de Saúde], em nível local, por meio de termos de compromisso e pactuações na promoção de ações a serem realizadas”.
A ação resulta em acessibilidade, auxilia a permanência dos estudantes na escola, promove o diálogo, assim como processos de aprendizagem e a continuidade do cuidado em saúde dos estudantes, imprescindíveis para o alcance de uma educação e saúde integrais.
Orientações
Na capital sergipana, Aracaju, a Escola Estadual Senador Leite Neto é uma das unidades que recebem o programa. A coordenadora pedagógica Adriana Suzete dos Santos informa que entre as ações levadas à unidade estão avaliações em saúde bucal e antropométrica, que mede dimensões físicas para investigar o estado nutricional do estudante. “A equipe da Unidade de Saúde da Família da região vem aqui e realiza diversas ações e tira muitas dúvidas dos meninos, principalmente com o trabalho de saúde bucal, porque nossa comunidade é carente e muitos não têm o hábito de uma higiene correta. Quando eles ganham, por exemplo, a escova de dente nova, eles adoram”, relata.
A unidade atende mais de 800 alunos nos dois turnos, matutino e vespertino, do 4º ano do ensino fundamental até o ensino médio, com idade entre 11 e 18 anos, a maioria vinda dos bairros Santa Maria e Porto Dantas. De acordo com a enfermeira da Saúde da Família Diana Luna, da Unidade de Saúde Dona Sinhazinha, no Grageru, que abrange a Escola Estadual Senador Leite Neto, uma das prerrogativas da Atenção Primária à Saúde é fazer o uso de equipamentos sociais e integrar diversos setores que atuam direta ou indiretamente com fatores que são determinantes e condicionantes da saúde. “Saúde e Educação estarem juntos é primordial para gente poder trabalhar a parte de promoção, de prevenção à saúde, discutindo temas que são importantes e são relevantes para melhoria da qualidade de saúde da população. E, em especial nas escolas, a gente trabalha com o público infantil e com adolescentes, e é muito importante a gente conhecer o perfil epidemiológico, os principais problemas, demandas e necessidades de saúde desse público-alvo”.
O trabalho de educação e saúde permite identificar situações, como problemas na área da saúde bucal e nutricional, desnutrição ou sobrepeso. Quando identificada alguma alteração, o estudante é orientado a buscar a unidade de saúde de referência da sua região. “Quando é identificado algo específico, a equipe de saúde conversa conosco e entramos em contato com a família para que procure o posto de saúde para a criança ou adolescente ser encaminhada para um médico para tentar resolver o problema. E sempre procuramos acompanhar para saber se realmente o profissional de saúde foi consultado”, acrescenta a coordenadora Adriana Suzete dos Santos.
Para a estudante do 9º ano Giovana Marina Pereira, 14 anos, o PSE ajuda a conscientizar os alunos sobre a importância do cuidado com a saúde. “É ótimo, pois muitos alunos não sabem direito cuidar da saúde, nem da saúde bucal, e muitos já namoram e tem a questão do beijo.Tem que aprender mesmo a cuidar da saúde, porque quem não cuida pode ter diversos problemas. Não sou muito de frequentar o médico, porque sou difícil de ficar doente, mas é bom reforçar esses cuidados que precisamos ter”, declarou a aluna após assistir uma palestra do PSE sobre o corpo humano e a puberdade.
Bruna Yasmin Mesquita, 15, também do 9º ano do Leite Neto, conta que a diversidade de temas abordados pelas ações do programa alerta os estudantes sobre mudanças que às vezes não são tão faladas no cotidiano. “Achei interessante eles falarem sobre a mudança de peso que acontece na adolescência, sobre a menstruação e prevenção de doenças. Tem muitas crianças que não conversam isso em casa, então é necessário aprender na escola”.
O estudante Rafael de Souza Camilo, 14, do 8º ano, explica que debater os assuntos de saúde na escola impacta em uma melhor formação para os jovens. “É importante manter os jovens bem informados, ainda mais quando cresce a cada ano o número de pessoas com doenças sexuais, assim como as bucais, mas com esse alerta podem diminuir. Achei interessante eles falarem sobre doenças que podem ser transmitidas pelo beijo, que eu não sabia, e também da questão da puberdade, que a gente sabe que é bem difícil”.
Cidadania
O PSE faz uso do ambiente escolar como espaços favoráveis à articulação entre os profissionais e a comunidade, promovendo também a cidadania. A construção de responsabilidade compartilhada entre as equipes das escolas e da saúde é considerada uma estratégia privilegiada para a promoção da saúde e da qualidade de vida dos estudantes acompanhados pelo programa.
A cirurgiã dentista da Unidade de Saúde da Família Dona Sinhazinha, Flávia Feitosa, destaca o Programa Saúde na Escola na articulação para o usufruto dos direitos de políticas públicas pelos alunos. “Esses são espaços de educação e sensibilização para que as pessoas criem autonomia. Falar de saúde, independentemente de ser bucal, questões da puberdade ou alterações hormonais, sinalizar para que as pessoas conheçam o seu corpo, tanto na cavidade oral quanto da saúde geral, é empoderar as pessoas para que elas busquem o sistema de saúde e, assim, melhorem sua condição de saúde. Todos os espaços que você possibilite as pessoas a gerarem autonomia, cobrar seus direitos e acessarem o serviço de saúde, é um espaço de troca. Tanto a gente aprende com o público quanto eles assimilam informações. E uma sociedade democrática é isso, é você criar espaços de debates, de discussão, em que as pessoas possam se cuidar e saber onde acessar seus direitos.