Escola estadual desenvolve cosméticos do óleo do amendoim e fica em primeira colocação na IX Feira Científica de Sergipe

Sergipe

30.09.2019

Por Ítalo Marcos

A IX Feira de Científica de Sergipe (Cienart), realizada na última sexta-feira, 27, no Centro de Vivência da Universidade Federal de Sergipe (UFS), premiou alunos da rede pública e particular. O grande vencedor na categoria Ensino Médio da rede estadual de ensino foi o Centro de Excelência Dom Luciano José Cabral Duarte, com o trabalho “Produção de hidratante, a cosmetologia sem mistérios: o uso do amendoim”. O projeto foi desenvolvido por um grupo de alunos do 2º ano, orientados pelo professor Antônio Hamilton dos Santos, e tem como objetivo elaborar um creme hidrante utilizando-se óleo de amendoim de duas variedades diferentes, amendoim branco e vermelho. A obtenção dos óleos brutos de amendoim foi realizada por meio de extração contínua (soxhlet) utilizando hexano como solvente.

Bastante emocionada com a primeira colocação, a aluna Thassia Karine de Oliveira Machado foi às lágrimas quando seu grupo foi chamado ao palco para receber a premiação. “Desde o ano passado eu estudo para ganhar na Cienart, e esse ano foi o momento da vitória. Devo tudo ao meu professor, que acreditou muito na minha capacidade. Fazer química é o que eu gosto e pretendo continuar com isso, agora que nós ganhamos a bolsa”, disse ela. Cada aluno das equipes premiadas ganhou uma bolsa de iniciação científica PibicJr.

O professor orientador, Antônio Hamilton dos Santos, destacou o protagonismo dos estudantes. “Esse é o resultado de um ano de pesquisa, em que os alunos tiveram a oportunidade de se envolver em uma estrutura totalmente diferente, sendo de fato os pesquisadores. Nós somente orientamos o trabalho deles. Foi uma oportunidade de crescimento, de rever o que querem para o futuro, porque eles tiveram a chance de estar em contato com uma área científica que poderá, talvez, ser a sua profissão futuramente. Não foi o trabalho de um professor, mas de uma coletividade”, declarou.

O superintendente executivo da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc), professor José Ricardo de Santana, participou da entrega da premiação, e falou que a Cienart permite que alunos e professores mostrem aquilo que têm capacidade de produzir, em termos de conhecimento científico. “O que vemos hoje é o resultado de, pelo menos, um ano de trabalho. É uma oportunidade para que as escolas mostrem para as outras e apresentem para a sociedade e para a universidade aquilo que eles são capazes de produzir. A escola ganha esse papel de geradora do conhecimento”, afirmou.

Outros premiados

Em segundo lugar na categoria Ensino Médio ficou o Colégio Estadual Dr. Antônio Garcia Filho, localizado em Umbaúba. Com a orientação da professora de química, Darcylaine Vieira Martins, o grupo apresentou o trabalho intitulado “Casa de farinha: a contextualização do ensino de química a partir da produção de mandioca em Umbaúba”. O projeto buscou resgatar conceitos químicos presentes na produção da farinha de mandioca, tanto para exemplificar conteúdos de Química Orgânica e Ambiental, como para observar a comunidade onde os alunos vivem, tornando os conteúdos didáticos mais compreensíveis e motivadores. Foram realizadas visitas às casas de farinha pelo município para pesquisas de campo, onde os alunos perceberam a problemática no acúmulo das cascas da mandioca, seguidas de pesquisas bibliográficas em sites da internet e, por último, a experimentação para transformar as cascas do tubérculo em embalagens sustentáveis.

Uma das componentes do grupo, Nallanda Victória Santos Martins não conteve a emoção pela sua participação na Cienart. “A gente veio com a intenção, não de ganhar, mas de mostrar o que aprendeu. E ter ficado em segundo lugar mostra a importância do nosso projeto, que é bastante sustentável. Espero que mais para frente nós possamos expandir tudo o que aprendemos e mostramos hoje para todo mundo”, disse. Já a professora Darcylaine Martins destacou a relevância da premiação. “Isso mostra que a escola pública tem potencial, tem ciência, basta que os jovens sejam orientados e que saiam da sala de aula para verem que tudo o que eles aprendem tem um significado real aqui fora”, declarou.

O terceiro colocado na categoria Ensino Médio foi o projeto “Plastleite”, do Colégio Estadual Dom Juvencio de Britto, de Canindé de São Francisco), coordenado pelo professor Alex Alves Cordeiro. Através dele, foram realizadas práticas experimentais que consistiram na retirada da proteína caseína e, através de processos físico-químicos, obteve-se um bioplástico feito a partir do soro de leite, abrindo a possibilidade para o desenvolvimento e utilização de filmes comestíveis e biodegradáveis. “Ter ficado em terceiro lugar foi uma grande conquista que significou muito para mim e para meus colegas. Nós adquirimos conhecimento e pudemos passar para os outros”, declarou o aluno Levi dos Santos.

Na categoria Escola Pública do 6º ao 9º ano foram inscritos 40 trabalhos, sendo 27 pré-selecionados e 20 apresentados. O primeiro colocado foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Adelson Silveira Lima, de Santa Luzia de Itanhy, com o projeto “O gosto amargo do trabalho: escravidão, justiça e economia em Sergipe no século XIX e início do XX”.

Já o segundo colocado foi o Colégio Estadual Cícero Bezerra, de Nossa Senhora da Glória, com o trabalho “O Agro é Tóxico”. “Essa é a primeira vez que participo de um evento grande como esse. Eu nunca tinha vindo na UFS. Então foi um sonho realizado porque eu estudei muito, a gente lutou bastante por isso, demos o nosso máximo e conquistamos esse excelente resultado”, afirmou a aluna Isadora Farias de Oliveira.

Cienart

Essa foi a nova edição da Feira Científica de Sergipe (Cienart), uma iniciativa conjunta da Associação Sergipana de Ciência (ASCi), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Instituto Federal de Sergipe (IFS). Para a presidente da ASCi, Eliana Midori Sussuchi, que também faz parte da comissão organizadoras, o evento é de grande importância para a difusão da ciência. “Esse projeto de extensão aproxima a educação básica com a universidade e inicia o aluno na pesquisa em ciência e tecnologia. Isso repercute muito positivamente depois, quando ele entra no ensino superior”, afirmou.

A mesma opinião foi compartilhada por Zélia Macedo, da equipe executora da Cienart. “Nesse momento em que a Ciência está tão desacreditada, nós precisamos dar a ela o devido valor e mostrar para a sociedade que fazer ciência é o que vai garantir o nosso futuro”, disse.

A coordenadora do Serviço de Ensino Fundamental da Seduc, professora Kelly Valença, destacou o protagonismo dos nossos estudantes. “Esse é o momento de eles aprenderem fora da escola, utilizando as experiências e a interdisciplinaridade. Foi belíssimo ver o quanto eles se empoderaram, melhoraram na fluência, no vocabulário, na postura e no desenvolvimento da investigação científica, que é uma posição que a gente precisa para os nossos alunos nas aulas de Ciências e demais componentes curriculares”, declarou.