Detentos de Minas conquistam vagas e bolsas de estudos para cursar o ensino superior

Minas Gerais

23.03.2015

As grades das celas não são um empecilho para inúmeros detentos que vislumbram um futuro melhor fora das unidades prisionais. Prova disso é a crescente adesão de presos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Vinte e sete detentos das unidades prisionais de Minas Gerais se destacaram na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL), de acordo com o último levantamento da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds).

Com o fim de todas as chamadas do Programa Universidade para Todos (ProUni), a Diretoria de Ensino e Profissionalização da Suapi destacou a atuação de presos que conseguiram a aprovação no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e, posteriormente, bolsas de estudo para cursar a graduação.

A Penitenciária José Maria Alkimin, localizada em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi uma das unidades prisionais que mais se sobressaiu em aprovações no Sisu e ProUni. Por trás das suas grades há futuros administradores, engenheiros, biólogos, pedagogos e analistas de sistema.

Jonathan Alves se destacou na redação do Enem PPL, obtendo nota 960. A boa pontuação lhe garantiu uma bolsa integral no curso de Ciências Biológicas em uma universidade particular. Além de Jonathan, outros detentos mostraram que é possível concretizar sonhos, mesmo quando privados da liberdade.

Este é o caso de Humberto José Hajime, que cumpre pena em unidades prisionais mineiras desde 2007 e está há um ano e meio na Penitenciária José Maria Alkimin. Humberto soube aproveitar as oportunidades ofertadas pela unidade prisional. Ele é aluno do terceiro semestre do curso de Administração da Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (Fead) e, com o bom desempenho no último Enem, conseguiu aprovação no curso de Engenharia Civil da Universidade de Uberaba e uma bolsa integral por meio do ProUni.

Humberto relatou que cursar engenharia era um sonho do pai, já falecido. “Este era um grande desejo do meu pai. Pretendo realizá-lo.” Além deles, Seichi Márcio Takahashi foi o primeiro colocado na seleção do ProUni para o curso de Tecnologia da Informação da Unisul. Takahashi já está matriculado e cursando o primeiro período.

No Complexo Penitenciário Nelson Hungria, um dos maiores de todo o Estado, há também futuros profissionais de nível superior se dedicando aos estudos e utilizando o tempo ocioso para planejar o amanhã. Marcelo José da Silva Machado foi aprovado no curso de Arquivologia da Universidade Federal de Minas Gerais e também no curso de Direito da Faculdade Kennedy. O detento, que aguarda a progressão da pena para o regime semiaberto, disse que optará pelo Direito para dar continuidade à graduação que ele já havia iniciado antes de entrar na unidade prisional.

Na Penitenciária de Três Corações, localizada no Sul do Estado, sete detentos foram aprovados e irão iniciar o curso de Administração à distância em julho deste ano. Em Cataguases, na Zona da Mata Mineira, o detento Alan da Silva Ramos foi aprovado no curso de pedagogia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), campus Leopoldina, e conquistou, também, uma bolsa integral do curso de Administração em uma faculdade particular da cidade.

Mulheres vão à luta

E os bons exemplos não são somente os masculinos. As pedagogas da Penitenciária Estevão Pinto, localizada em Belo Horizonte, destacaram o desempenho de Grisellyd Taygla Alves, que foi selecionada na chamada regular do Sisu para cursar Educação Física, na Universidade Federal de Viçosa, campus Florestal e conseguiu bolsa de estudos para cursar Direito em uma faculdade particular.

Grisellyd, que está no regime semiaberto, já é aluna do curso Técnico em Mineração desde o segundo semestre do ano passado, quando foi selecionada pelo Sisutec - Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica. Na Estevão Pinto, unidade prisional destinada somente a mulheres, 81 candidatas foram inscritas no Enem PPL. Destas, 29 obtiveram notas para aprovação no Sisu e 17 para concorrer a bolsas do ProUni.

A pedagoga da unidade, Miriam Célia dos Santos, acredita que o bom desempenho das detentas deve-se à parceria entre unidade prisional e a Associação Mineira de Educação Continuada (Asmec Minas), que contribui com a oferta de vagas para presas com ensino médio completo e distribuição de materiais de estudo.

Esta foi a quinta edição do Enem PPL aplicada nas unidades prisionais do Estado. De acordo com levantamento da Diretoria de Ensino e Profissionalização da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), o Estado teve 5.889 participantes de 111 unidades prisionais públicas e 28 Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC’s) . Na primeira edição em que Minas participou, em 2010, 233 presos de 24 unidades fizeram a prova. A última edição do Enem PPL teve 38.101 inscritos em todo o Brasil.

Ensino das unidades prisionais

Em Minas Gerais, cerca de 8.500 detentos estudam. Deste total, 7.142 estão matriculados nas 99 escolas instaladas dentro das unidades prisionais do Estado. São 5.770 cursando o ensino fundamental, 1.197 matriculados no ensino médio e 175 no ensino superior. Em 2005, apenas 755 presos estavam matriculados no ensino médio e fundamental.

Com informações da Secretaria de Estado de Defesa Social